São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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SMPB recebeu R$ 54 mi em 98, indicam papéis

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Documentos em poder da CPI dos Correios indicam que pelas contas da SMPB Comunicação e DNA Propaganda podem ter passado, durante a campanha eleitoral de 1998, R$ 53,8 milhões. Essa suspeita está baseada em dois documentos assinados pelo contador Marco Aurélio Prata, endereçados a Marcos Valério Fernandes de Souza, datados de 27 de outubro de 1998, quando se encerravam as eleições.
Neles, o contador, que também está sob investigação da Polícia Federal, informa a Valério que, sobre a receita da SMPB, de R$ 35,2 milhões, e sobre a da DNA, de R$ 18,6 milhões, devem ser calculado os impostos, que somariam 38,65%. Os dois documentos foram escritos em papel timbrado da Prata e Castro Auditores e Consultores Associados.
Na semana passada, quando ocorreu a quebra do sigilo das contas das agências em que Valério é sócio, veio à tona um saque no Banco Rural de R$ 102.812,76, feito por um assessor do deputado federal Roberto Brant (PFL), candidato a prefeito de Belo Horizonte em 2004. O pefelista disse que esse valor se referia a uma doação de campanha da siderúrgica Usiminas, feita por meio da conta da SMPB no Banco Rural.
Brant disse que o valor original da doação teria sido de R$ 150 mil, mas que o valor sacado foi de R$ 102 mil porque a agência descontou impostos que teria de pagar.
Uma das hipóteses é que, para cada contribuição feita por caixa dois, a agência emita uma nota como se tivesse prestado serviço para o doador da campanha eleitoral de um político. No caso de Brant, o desconto feito pela agência foi de 31,45%.
Pelos documentos enviados pelo contador a Valério, não é possível saber qual a origem do dinheiro. Apenas alguns depósitos para a SMPB estão identificados. A construtora Queiroz Galvão, por exemplo, aparece com dois depósitos (R$ 700 mil e R$ 360 mil), mas a empresa justificou afirmando ter contratado serviços da SMPB. O mesmo informou o Idaq (Instituto de Desenvolvimento, Assistência Técnica e Qualidade em Transporte), vinculado à Confederação Nacional dos Transportes.
A SMPB admitiu que fez doações de campanha em 1998, mas nega que tenha recebido recursos de empresas para repassar a políticos.

Aécio
O governo de Minas Gerais anunciou ontem que pediu esclarecimentos aos quatro integrantes do Executivo estadual que aparecem como beneficiários de recursos da conta da SMPB.
Documentos mostram repasses, feitos em 28 de outubro de 1998, a quatro pessoas que hoje integram o governo Aécio Neves (PSDB): o presidente da Fundação João Pinheiro, Amílcar Martins (PSDB), o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Bilac Pinto (PFL), a secretária extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do norte de Minas, Elbe Brandão (PSDB), e o subsecretário de Direitos Humanos, João Batista de Oliveira (PDT). Todos se elegeram deputados estaduais em 1998.
Os depósitos feitos pela SMPB somam R$ 48 mil -R$ 6.000 para Martins, R$ 20 mil para Bilac Pinto, R$ 15 mil para Brandão e R$ 7.000 para Oliveira. No caso de Brandão, o depósito foi feito na conta de seu assessor Maurício Antônio Figueiredo.
Ao jornal "O Globo", que divulgou as informações sobre os depósitos ontem, a secretária Elbe Brandão disse que o dinheiro foi repassado pelo comitê da campanha à reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB), hoje senador.
Batista também disse a "O Globo" que o dinheiro foi usado para custear gastos da campanha de Azeredo, da qual ele era um dos coordenadores. Bilac Pinto e Martins não foram localizados ontem.


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