São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Quantia foi sacada entre janeiro e maio de 2004, no Banco Rural de Brasília, pelo Idaq, ligado à CNT, entidade presidida por Clésio Andrade

Órgão ligado a vice de Aécio recebe R$ 7,9 mi

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre janeiro e maio de 2004, a agência do Banco Rural em Brasília fez pagamentos em espécie no total de R$ 7,9 milhões ao Idaq (Instituto de Desenvolvimento, Assistência Técnica e Qualidade em Transporte). O Idaq é vinculado à CNT (Confederação Nacional dos Transportes), presidida por Clésio Andrade (PL), vice-governador de Minas Gerais.
Essas operações estão sendo investigadas pela Justiça Federal, por suspeita de lavagem de dinheiro, uma espécie de "mini-mensalão" para sustentar campanhas de prefeitos e vereadores.
Como os saques fugiam ao padrão, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) informou as transações ao Ministério Público Federal.
O processo tramita no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília. No último dia 7, o desembargador-relator, Cândido Ribeiro, determinou à Polícia Federal a instauração de inquérito.
O processo envolve ainda o Instituto J. Andrade, instituição de ensino superior de Juatuba (MG), cujo diretor, Ronaldo Antônio Costa, segundo o Coaf, é representante do PTB no município.
Ao depor à Polícia Federal no último dia 6, o ex-tesoureiro da agência do Banco Rural em Brasília José Francisco de Almeida Rego citou a CNT e o Idaq como as empresas que mais sacavam da agência, depois da SMPB Comunicação, da qual Marcos Valério Fernandes de Souza é um dos sócios. Rego não vinculou as retiradas do Idaq/CNT com as transações de Valério no banco.
Clésio Andrade foi sócio de Valério na SMPB e na DNA. No último dia 22, o vice-governador enviou ao senador Delcídio Amaral, presidente da CPI, relatório e documentos para comprovar que encerrou a sociedade com Valério em 28 de julho de 1998, quando transferiu suas quotas - antes dos fatos que estão sendo investigados pela comissão de inquérito.
Em seu depoimento à PF, o ex-tesoureiro do Banco Rural disse que os saques do Idaq não eram feitos por Andrade, mas por uma diretora financeira da entidade.
Rego disse que as retiradas eram feitas "normalmente, mediante a apresentação de cheques", "em valores não superiores a R$ 100 mil". A entidade é cliente do banco e os saques não se comparavam ao retirado pela SMPB.
Citando publicação da OAB-MG, o Coaf menciona "operações não usuais" entre a SMPB, Clésio Andrade e o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB).
Trata-se da ação em que Andrade, Azeredo, o atual subsecretário de Comunicações de MG, Eduardo Pereira Guedes Neto, e outros são acusados de improbidade administrativa por promoverem, em 1998, a transferência de R$ 3 milhões da Comig (Companhia Mineradora de MG) e da Copasa (Companhia de Saneamento de MG) para a SMPB, a fim de patrocinar um evento sem licitação.
Sob a alegação de "incrementar o turismo", Guedes enviou ofício à Comig, no dia em que a empresa realizava assembléia, propondo o patrocínio de R$ 1,5 milhão para o Enduro da Independência. Naquele mesmo dia, a SMPB recebeu R$ 1,5 milhão da Copasa.
A SMPB participava da campanha eleitoral de Azeredo e de Andrade, candidatos a governador e vice. Até 20 dias antes dessa operação, Andrade controlava a Holding Brasil S/A, que detinha a maior parte do capital da SMPB. O MPF suspeita que tenha havido simulação na transferência das cotas da holding, que teve quebrados os sigilos fiscal e bancário pela Justiça Federal neste mês. O MPF pede o rastreamento do dinheiro transferido e o bloqueio cautelar de bens, em até R$ 12 milhões.


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