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Máfia diz ter pago R$ 4 mi de propina a 71 parlamentares
Valor pode ser superior, já que Vedoin não citou valor repassado a alguns congressistas
Como algumas emendas acertadas acabaram não sendo liberadas, deputados chegaram a ficar devendo dinheiro para a quadrilha
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A máfia das ambulâncias teria pago pelo menos R$ 4,301
milhões a 71 deputados e ex-congressistas envolvidos com o
esquema de venda de veículos
superfaturados a prefeituras,
segundo o depoimento do empresário Luiz Antonio Vedoin,
apontado pela Polícia Federal
como o chefe da quadrilha.
A Folha analisou a transcrição integral do depoimento
que Luiz Antonio deu à Justiça
Federal. A CPI dos Sanguessugas está investigando 87 deputados e três senadores.
Em alguns casos, Luiz Antonio mencionava os percentuais
de propina aos parlamentares
sobre as emendas que beneficiariam a quadrilha, mas sem
citar quais eram os valores. Esses dados foram excluídos da
soma geral. Assim, o valor real
dos pagamentos aos deputados
vai superar os R$ 4,3 milhões,
de acordo com o depoimento.
Os dois principais articuladores na Câmara, segundo Luiz
Antonio, eram os deputados
Lino Rossi (PP-MT) e Nilton
Capixaba (PTB-RO). Eles teriam aliciados para o esquema
dezenas de outros deputados.
O empresário citou vários
detalhes das formas de pagamento aos congressistas supostamente envolvidos com a
quadrilha. Depósitos em cheque e em dinheiro eram feitos
em contas pessoais dos próprios parlamentares, de familiares e assessores. Em outros
casos, o dinheiro era levado em
"malas" para o Congresso ou
nos paletós. Segundo Vedoin,
muitos parlamentares e servidores "tinham conta corrente
com a empresa [Planam]".
Presentes
Havia também muitos presentes, como aparelho de ultra-som (avaliado em R$ 70 mil),
ônibus, utilitários esportivos e
até uma máquina gráfica para
imprimir jornais.
O esquema envolvia na ponta
final, sempre, licitações direcionadas à quadrilha feitas por
municípios para a compra de
ambulâncias com base nas
emendas dos parlamentares.
Em média, os congressistas recebiam como propina 10% do
valor das emendas.
Em muitos casos, os prefeitos eram aliciados por deputados. O deputado Cabo Júlio
(PMDB-MG), por exemplo,
chegou a reunir vários prefeitos
de cidades mineiros em uma
chácara sua em Minas Gerais.
O empresário mencionou
também congressistas que passaram a dever dinheiro à quadrilha devido a antecipações de
propina com base em emendas
que ainda seriam liberadas pelo
ministério. Como as emendas
não foram autorizadas, os deputados passaram a dever.
Segundo Luiz Antonio, o deputado Fernando Gonçalves
(PTB-RJ), por exemplo, teria
um débito no valor de R$
167.500. Ele disse que o deputado José Divino (PRB-RJ) recebeu R$ 40 mil em propina.
Parte do dinheiro foi depositada na conta corrente que o parlamentar mantém na agência
do Banco do Brasil na Câmara.
O empresário contou ao juiz
que os pagamentos em dinheiro foram realizados de várias
formas, em encontros no gabinete ou em reuniões no flat que
a família Vedoin mantinha no
Hotel Meliá em Brasília.
Luiz Antonio afirma que os
deputados Marcos Abramo
(PP-SP), João Magalhães
(PMDB-MG) receberam, respectivamente, R$ 54 mil e R$
42 mil, em reuniões no Meliá.
O empresário disse ao juiz
que Osmânio Pereira (PTB-MG) recebeu a propina no gabinete: R$ 20 mil. Já o deputado
Júnior Betão (PL-AC), segundo
o empresário, indicou o sogro
para receber R$ 170 mil também no gabinete. Atualmente
licenciada, a deputada Elaine
Costa (PTB-SP) foi uma das
que receberam quantias superiores a R$ 300 mil, segundo
Luiz Antonio: R$ 350 mil.
Senadores
O depoimento de Luiz Antonio à Justiça envolve mais uma
pessoa ligada à senadora Serys
Slhessarenko (PT-MT), o assessor parlamentar João Policena. Segundo Vedoin, ele cobrou de Policena "o fato de não
estar conseguindo fazer as licitações como havia combinado."
Vedoin já que afirmara ter
pago R$ 35 mil a um genro da
senadora petista por conta de
uma suposta emenda da parlamentar que teria beneficiado a
quadrilha. Ela nega.
Vedoin também complica
ainda mais a situação de Magno
Malta (PL-ES) e Ney Suassuna
(PMDB- PB). Sobre Suassuna,
diz que conseguiu vencer licitações na Paraíba graças a um
acordo político de Suassuna
com o ex-ministro Saraiva Felipe. Sobre Malta ele confirma o
fornecimento de um veículo
para o senador.
(LEONARDO SOUZA E ADRIANO CEOLIN)
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