São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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Máfia diz ter pago R$ 4 mi de propina a 71 parlamentares

Valor pode ser superior, já que Vedoin não citou valor repassado a alguns congressistas

Como algumas emendas acertadas acabaram não sendo liberadas, deputados chegaram a ficar devendo dinheiro para a quadrilha

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A máfia das ambulâncias teria pago pelo menos R$ 4,301 milhões a 71 deputados e ex-congressistas envolvidos com o esquema de venda de veículos superfaturados a prefeituras, segundo o depoimento do empresário Luiz Antonio Vedoin, apontado pela Polícia Federal como o chefe da quadrilha.
A Folha analisou a transcrição integral do depoimento que Luiz Antonio deu à Justiça Federal. A CPI dos Sanguessugas está investigando 87 deputados e três senadores.
Em alguns casos, Luiz Antonio mencionava os percentuais de propina aos parlamentares sobre as emendas que beneficiariam a quadrilha, mas sem citar quais eram os valores. Esses dados foram excluídos da soma geral. Assim, o valor real dos pagamentos aos deputados vai superar os R$ 4,3 milhões, de acordo com o depoimento.
Os dois principais articuladores na Câmara, segundo Luiz Antonio, eram os deputados Lino Rossi (PP-MT) e Nilton Capixaba (PTB-RO). Eles teriam aliciados para o esquema dezenas de outros deputados.
O empresário citou vários detalhes das formas de pagamento aos congressistas supostamente envolvidos com a quadrilha. Depósitos em cheque e em dinheiro eram feitos em contas pessoais dos próprios parlamentares, de familiares e assessores. Em outros casos, o dinheiro era levado em "malas" para o Congresso ou nos paletós. Segundo Vedoin, muitos parlamentares e servidores "tinham conta corrente com a empresa [Planam]".

Presentes
Havia também muitos presentes, como aparelho de ultra-som (avaliado em R$ 70 mil), ônibus, utilitários esportivos e até uma máquina gráfica para imprimir jornais.
O esquema envolvia na ponta final, sempre, licitações direcionadas à quadrilha feitas por municípios para a compra de ambulâncias com base nas emendas dos parlamentares. Em média, os congressistas recebiam como propina 10% do valor das emendas.
Em muitos casos, os prefeitos eram aliciados por deputados. O deputado Cabo Júlio (PMDB-MG), por exemplo, chegou a reunir vários prefeitos de cidades mineiros em uma chácara sua em Minas Gerais.
O empresário mencionou também congressistas que passaram a dever dinheiro à quadrilha devido a antecipações de propina com base em emendas que ainda seriam liberadas pelo ministério. Como as emendas não foram autorizadas, os deputados passaram a dever.
Segundo Luiz Antonio, o deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ), por exemplo, teria um débito no valor de R$ 167.500. Ele disse que o deputado José Divino (PRB-RJ) recebeu R$ 40 mil em propina. Parte do dinheiro foi depositada na conta corrente que o parlamentar mantém na agência do Banco do Brasil na Câmara.
O empresário contou ao juiz que os pagamentos em dinheiro foram realizados de várias formas, em encontros no gabinete ou em reuniões no flat que a família Vedoin mantinha no Hotel Meliá em Brasília.
Luiz Antonio afirma que os deputados Marcos Abramo (PP-SP), João Magalhães (PMDB-MG) receberam, respectivamente, R$ 54 mil e R$ 42 mil, em reuniões no Meliá.
O empresário disse ao juiz que Osmânio Pereira (PTB-MG) recebeu a propina no gabinete: R$ 20 mil. Já o deputado Júnior Betão (PL-AC), segundo o empresário, indicou o sogro para receber R$ 170 mil também no gabinete. Atualmente licenciada, a deputada Elaine Costa (PTB-SP) foi uma das que receberam quantias superiores a R$ 300 mil, segundo Luiz Antonio: R$ 350 mil.

Senadores
O depoimento de Luiz Antonio à Justiça envolve mais uma pessoa ligada à senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), o assessor parlamentar João Policena. Segundo Vedoin, ele cobrou de Policena "o fato de não estar conseguindo fazer as licitações como havia combinado."
Vedoin já que afirmara ter pago R$ 35 mil a um genro da senadora petista por conta de uma suposta emenda da parlamentar que teria beneficiado a quadrilha. Ela nega.
Vedoin também complica ainda mais a situação de Magno Malta (PL-ES) e Ney Suassuna (PMDB- PB). Sobre Suassuna, diz que conseguiu vencer licitações na Paraíba graças a um acordo político de Suassuna com o ex-ministro Saraiva Felipe. Sobre Malta ele confirma o fornecimento de um veículo para o senador.
(LEONARDO SOUZA E ADRIANO CEOLIN)


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