São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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Suspeito admite utilização de carro do esquema sanguessuga para test-drive

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de negar qualquer participação na máfia dos sanguessugas, o deputado Ricarte Freitas (PTB-MT) admitiu ontem ter usado um Fiat Ducato cedido pelo empresário Darci Vedoin -dono da Planam- durante a campanha de 2002. O deputado alega ter utilizado o carro no máximo por dois meses, numa espécie de test-drive para uma eventual compra.
Segundo o deputado, depois de devolvido e convertido em ambulância, o veículo foi vendido pela Planam à Prefeitura de Santa Rita do Trivelato (MT). A secretaria de Administração da prefeitura confirma a compra de um Fiat Ducato em março de 2004.
Ricarte afirma que, somente depois de devolver o carro, soube que Vedoin tinha transferido para seu nome. "Ele documentou o carro em meu nome, à minha revelia, não sei se para se livrar de responsabilidade civil. Não fiquei dois meses com esse carro. Não me interessou, e devolvi", justificou Ricarte, segundo o qual Vedoin tinha preparado o carro para outro "determinado deputado para a campanha em 2002".
No documento, a empresa doadora foi a Santa Maria, também de Vedoin. "Ele fez da Santa Maria para mim. Fiz de volta. Depois, ele vendeu para outro município na forma de ambulância: Santa Rita do Trivelato."
Secretário de Administração de Santa Rita do Trivelato, Marcos Tavernelli conta que um Fiat Ducato foi comprado por R$ 79.800 -apenas R$ 100 mais barato do que o preço oferecido pela segunda concorrente, a Unisal- em 2004. Lembrando que a prefeitura exibiu a ambulância num desfile, ele confirma que o carro teve que passar por uma adaptação.
Ainda segundo o secretário, o Tribunal de Contas chegou a questionar o fato de o modelo do carro ser mais antigo do que os do ano da venda. "O carro ficou no pátio. Estava cheirando a novo", disse Tavernelli, acrescentando que, pelo que lembra, a quilometragem no momento da compra era a da distância de Cuiabá à cidade: 360 quilômetros. Tavernelli não soube precisar qual é o ano do carro.
Em seu depoimento, Luiz Antônio Vedoin -filho de Darci- afirmou que Ricarte trocara o Ducato por um Hillux SW4. Ricarte nega: "Não tem Hillux no meu nome", disse ele, negando que tenha recebido passagens para Nova York.
Ricarte admite que Vedoin freqüentava seu gabinete. Mas nega qualquer "relação comprometedora". Segundo o deputado, Vedoin era um empresário de seu Estado, Mato Grosso, que se especializou na elaboração de projetos para prefeituras. "Os municípios pediam projetos e ele procurava os gabinetes. Ele convivia com todo mundo. Era um cara que vivia em Brasília, na Câmara, tinha acesso a "n" deputados".
Além disso, Ricarte se lembra de ter ido ao aniversário do empresário em 2002. "Uma festa que foi Cuiabá inteira".
Para justificar a aproximação, Ricarte afirma que Vedoin distribuía folders em que o atual ministro da Ciência e Tecnologia visitava um de seus ônibus, além de ter participado de cerimônias de entrega de ambulâncias no Estado com a presença do ex-ministro José Serra. Ricarte diz que duvida do envolvimento de qualquer ex-ministro em esquemas.
"Ele não inovou nada aqui [em Brasília]. Só que não tinha estrela na testa e ninguém poderia imaginar que estava num esquema desses."


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