São Paulo, sábado, 28 de julho de 2007

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Planalto espera reação pró-Lula ao "Cansei"

Expectativa do governo é que centrais sindicais ou o PT paulista defendam gestão de eventuais ataques de ato liderado pela OAB-SP

Para o cientista político Leôncio Rodrigues, protesto reflete sentimento da classe alta, mas não deve atrair a população mais pobre

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Palácio do Planalto espera a reação de grupos pró-governo em contraposição ao "Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros" -também chamado de "Cansei" e lançado ontem em São Paulo por entidades e personalidades ligadas a políticos do PSDB.
A Folha ouviu no Planalto que o presidente Lula e sua equipe ainda não conseguiram entender o objetivo do "Cansei", que oficialmente é liderado pela OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) e surgiu após o acidente aéreo.
Os coordenadores do "Cansei" dizem ser apartidários. Não é essa a avaliação do Planalto, mas o presidente e seus assessores preferem ainda não se manifestar publicamente a respeito. A expectativa é a de que sindicatos ou mesmo o PT se oponham ao grupo.
Um dos criadores da iniciativa foi João Dória Jr., que ajudou a arrecadar fundos para a campanha presidencial do tucano Geraldo Alckmin.

Intelectuais
O psicanalista Tales Ab'Sáber, crítico do PT e do governo, avalia que há de fato uma crise. Mas, segundo ele, o "Cansei" não tem condição de dar uma resposta a ela: "Esse grupo é impotente. Não há interesse real em transformar o Estado. É um muxoxo que não muda a realidade, porque os grupos que estão nele são ligados aos tucanos. Eles isolaram a política da sociedade, produziram essa sensação de impotência de que tudo é complexo demais para ser mudado".
O cientista político Leôncio Martins Rodrigues, professor aposentado da USP e da Unicamp e amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, avalia que o movimento enfrentará dificuldades."A temática não comove tanto a população mais pobre, mas reflete o sentimento da classe alta e da classe média alta."
Maria Victoria Benevides, professora da USP e ex-integrante da Comissão de Ética Pública do governo Lula, lamenta que mobilizações desse tipo só surjam quando um setor da sociedade é atingido. "Infelizmente, outras tragédias não causam comoção nem mobilizam os setores que têm mais peso e mais voz".
José Álvaro Moisés, professor de ciência política da USP e funcionário do Ministério da Cultura no governo FHC, acha o movimento louvável, por criticar a corrupção, mas faz uma ressalva: "Para que tenha conseqüências, é preciso criticar as regras que provocam o surgimento dos problemas. Seria bom que a OAB criticasse as leis que permitem a impunidade".

Movimento sem baderna
Marcus Hadade, ex-presidente da Confederação Nacional dos Jovens Empresários, é um dos organizadores do "Cansei". "É um movimento de gente que busca o bem, sem fazer baderna. Antes de tudo, somos a favor do Brasil, pela estabilidade das instituições."
Sergio Morrison é diretor do Comitê de Jovens Executivos da Fiesp -uma das entidades que apóiam o "Cansei"- e organizador da passeata que sairá amanhã, às 9h, do Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, até Congonhas. Questionado sobre como será o ato, diz não ter idéia. "Nunca fizemos isso na vida", afirma ele. "O movimento partiu da base da sociedade. Estamos nos mobilizando, não somos elitistas. Temos de nos defender. Se não garantirmos o nosso, quem vai garantir?"
Ontem, a Philips publicou anúncios a favor do "Cansei". Quem assina é Paulo Zottolo, presidente da multinacional. "Cansei de me indignar e não fazer nada. Antes de tudo, o movimento é uma crítica a nós mesmos, que perdemos a capacidade de nos indignar", diz ele.
(FERNANDO RODRIGUES, MAURICIO PULS E LEANDRO BEGUOCI)


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