São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 2006

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Mauro Paulino

Já ganhou?

QUINTA-FEIRA , Clóvis Rossi iniciou sua coluna dizendo que "salvo o imponderável, Lula já está reeleito", refletindo o sentimento predominante de que a eleição está decidida e, provavelmente, terminará no primeiro turno. Por sua vez, Alckmin assegura que vai para o segundo turno e que, então, a correlação de forças será outra.
O último Datafolha mostrou que as chances de a primeira hipótese estar correta foram ampliadas. Desde a volta das eleições diretas, em momento algum um presidente havia atingido maioria absoluta de aprovação popular. As taxas de rejeição aos candidatos nunca estiveram tão próximas, o que reduz as chances de mudança.
Dos eleitores de Lula, 80% se dizem totalmente decididos contra 67% entre os de Alckmin. São informações contundentes a reforçar o favoritismo de Lula. A pesquisa mostrou ainda que Lula chega a 37% das menções espontâneas, reveladoras de um possível piso de votos mais seguros. Em 1998, FHC, vitorioso na disputa pela reeleição, só chegou a esse patamar às vésperas da votação, no dia 2 de outubro, quando atingiu 38% das citações espontâneas. Em momento semelhante ao da atual campanha, FHC era citado espontaneamente por 24% dos eleitores, taxa 13 pontos inferior à que Lula obtém agora.
Por fim, um último dado fortalece os argumentos dos que apostam no desfecho rápido da eleição: entre os 49% que apontam Lula após serem apresentados à lista de candidatos, 73% já haviam dito, espontaneamente, que querem votar no petista, taxa 20 pontos maior que entre os eleitores de Alckmin (53%). Esses números retratam a dimensão do desafio imposto à campanha do PSDB nesse momento. Porém, apesar desse abismo, uma recuperação de Alckmin não chega a ser improvável. Um exemplo de reação se deu na eleição passada, quando José Serra partiu 14 pontos atrás de Ciro Gomes e, na TV e no rádio, ao explorar uma falha do adversário em que, durante uma entrevista, chamou um ouvinte de "burro", o ultrapassou rapidamente. Serra foi para o segundo turno.
Em maio de 1998, Lula reverteu uma desvantagem de 17 pontos após os eleitores serem informados que FHC chamara os aposentados com menos de 50 anos de "vagabundos". Mais tarde, o presidente recuperou-se e venceu.
Mesmo na atual disputa Alckmin já esteve empatado com Lula em simulação de segundo turno. Foi em dezembro de 2005, quando a lembrança das acusações de corrupção no governo ainda eram fortes.
Portanto, se Alckmin imprimir um tom de crítica à campanha, se Lula escorregar em alguma declaração pública, se peessedebistas bem avaliados se engajarem na campanha, se imagens do mensalão voltarem à tona, o quadro pode mudar.
Resta saber se essas possibilidades são prováveis ou "imponderáveis".


MAURO PAULINO é diretor-geral do Instituto Datafolha


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