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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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Itamaraty quis tirar Deus da fala de Lula na ONU

ENVIADO ESPECIAL A HAVANA

Nos bastidores dos últimos ajustes no discurso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez na terça-feira na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, Deus foi objeto de polêmica com o Itamaraty.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e auxiliares do presidente achavam que talvez fosse inadequado fazer uma menção divina num fórum com chefes de Estado das mais diversas religiões. Alguns poderiam ser até ateus, ponderou a diplomacia.
Lula disse que não faria uma citação específica de Deus. "Só vou falar da idéia de Deus. Por que não posso? Não vou falar mal do Deus de ninguém!", brincou.
E insistiu na menção, dizendo que a tecnologia era cada vez mais desenvolvida e assim o homem se igualava a Deus. "Mas, quando se tratava de combater a fome, parecia um comportamento do Diabo", disse Lula, segundo apurou a Folha. Amorim cedeu.
Na própria terça, Lula ainda brincaria com a equipe sobre o assunto: "Viram como o Bush terminou o discurso?". O presidente dos EUA, George W. Bush, encerrou seu discurso com o tradicional "Deus os abençoe".
Tentando dar emoção ao discurso e criticar indiretamente a política dos EUA de combate ao terror, Lula pediu ao secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, três frases de Mahatma Gandhi (líder indiano que combateu o domínio inglês pregando a não-violência). A auxiliares, disse que uma era exata para a ocupação do Iraque: "A violência, quando parece produzir o bem, é um bem temporário; enquanto o mal que faz é permanente".
Restaram duas preocupações. A primeira: não estourar muito o limite de 15 minutos. Lula gastou 23. Na véspera, leu o texto em 19 minutos. Ainda pediu que o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT), que estava na comitiva, também lesse. "Quero ouvir como fica na voz de outra pessoa."
A segunda foi resolvida quando o discurso veio num papel mais grosso e áspero, para facilitar a passagem das páginas.
Lula, então, relaxou e fez o discurso mais discutido de sua gestão. Partes da fala começaram a ser escritas três meses antes.


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