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Bolsa Família ignora adesão à escola de 23% dos jovens
Governo não tem informações sobre 447,8 mil adolescentes atendidos pelo programa
Presença em 75% das aulas é condição para receber o benefício; evasão escolar e problemas no envio de dados causam descontrole
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal ignora a
frequência escolar de quase um
em cada quatro adolescentes
do Bolsa Família. A matrícula
na escola e o comparecimento
em 75% das aulas são as condicionalidades exigidas pelo governo aos jovens de 16 e 17 anos
de famílias beneficiárias do
programa.
Com esse aluno longe das salas de aula, o "benefício variável
jovem", no valor de R$ 33, pode
ser bloqueado e, em seguida,
cancelado.
Essa falta de informações supera em 62% a das crianças
também integradas ao programa de transferência de renda.
De acordo com relatório do
Ministério do Desenvolvimento Social obtido pela reportagem, do 1,9 milhão de adolescentes beneficiados em julho
passado pelo Bolsa Família,
não havia informações disponíveis sobre a frequência escolar
de 447,8 mil (23,28%).
No caso de crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos, o índice é de 14,32% -dos 15,2 milhões registrados no programa,
2,1 milhões não têm a frequência acompanhada pelo governo.
O benefício vinculado aos
adolescentes começou a ser pago às famílias no início do ano
passado e, agora, o governo admite a dificuldade de manter
esses jovens na sala de aula,
mesmo com a frequência escolar vinculada ao pagamento.
Segundo Lúcia Modesto, secretária de Renda de Cidadania
do Ministério do Desenvolvimento Social, três fatores colaboram com a falta de informações sobre a frequência dos jovens: evasão escolar, mudanças
de cidade ou de instituições de
ensino e problemas no envio
das informações da escola ao
sistema do governo (leia texto
nesta página).
Do 1,9 milhão de adolescentes do Bolsa Família, 70% ainda
cursam o ensino fundamental,
quando, aos 15 anos, já deveriam estar no ensino médio.
Em 321 municípios do país o
controle da frequência escolar
não atinge ao menos a metade
dos adolescentes. Em 66 deles,
o acompanhamento é zero. Entre as capitais, por exemplo, o
acompanhamento é de 35% em
Macapá (AP), 41% no Rio, 58%
em Fortaleza, 70% em São Paulo e 94% em Teresina (PI).
Uma família extremamente
pobre, com renda mensal de até
R$ 70 por pessoa, pode receber
até R$ 200 por mês do Bolsa
Família, sendo R$ 68 de benefício básico, R$ 22 por criança
até 15 anos (limite de três) e R$
33 por adolescente de 16 e 17
anos (limite de dois).
Famílias com renda entre R$
71 e R$ 140 não têm direito ao
benefício básico. O Bolsa Família atende hoje 12 milhões de famílias no país, com orçamento
anual de R$ 12 bilhões.
O relatório do ministério
mostra ainda que, desde a criação da modalidade dos adolescentes, o governo não tem conseguido diminuir o percentual
da falta de informações. Em julho do ano passado, por exemplo, estava em 21,45%, contra
os atuais 23,28%. Esse índice
nunca esteve abaixo dos 21%
-teve picos de 24% em setembro de 2008 e maio deste ano.
Quando lançou essa modalidade, no início do ano passado,
o governo justificou a inclusão
dos adolescentes como uma
forma de mantê-los nas salas
de aula ou trazê-los de volta a
elas. Por isso, a exigência em sala de aula para eles foi mais
amena: fixada em 75%, contra
85% das crianças de até 15 anos.
Na época, o governo estimava
em 18% os adolescentes entre
16 e 17 anos fora da escola.
No caso dos adolescentes, a
exigência do governo está restrita à matrícula e à carga horária nas aulas. Nas demais modalidades do programa, as famílias podem ter o benefício
cancelado caso não cumpram o
calendário de vacinação das
crianças ou se as gestantes deixarem de fazer o pré-natal.
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