São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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Vitória do PT agrada a pré-candidatos do país

DE BUENOS AIRES

Os dois pré-candidatos argentinos que lideram as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de março se sentem fortalecidos pela vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Adolfo Rodríguez Saá, do PJ (Partido Justicialista, peronista), e Elisa Carrió, do ARI (Argentinos por uma República de Iguais), dizem possuir afinidades com Lula e lembram que as histórias políticas de Brasil e Argentina sempre estiveram muito ligadas. É possível traçar um paralelo entre a política dos dois países pelo menos desde 1976, quando o último regime militar tomou o poder na Argentina e ambos os passaram a viver sob regimes militares.
Em meados da década de 80, tanto Brasil -governado por José Sarney- quanto Argentina -presidida por Raúl Alfonsín- iniciaram um processo de redemocratização tumultuado pela crise da dívida externa que desencadeou a hiperinflação.
No final da década, os dois países escolheram presidentes que prometiam a resolução de todos os problemas e se viram envolvidos em escândalos de corrupção. A diferença foi que, ao recuperar a economia argentina, Carlos Menem teve melhor sorte que Fernando Collor de Mello, cassado pelo Congresso em 1992. Menem se reelegeu em 1995 com base na popularidade conquistada por ter acabado com a inflação, mesma fórmula utilizada por FHC nas eleições de 1994 e 1998.
Agora, o líder na corrida presidencial argentina, Adolfo Rodríguez Saá, costuma dizer que, assim como Lula, quer adotar políticas de incentivo à produção nacional. Além disso, ele diz que o Mercosul será uma prioridade e que defenderá negociações com o FMI que não se sobreponham aos interesses nacionais.
Apesar de pertencer ao Partido Justicialista (peronista, do presidente Eduardo Duhalde), Rodríguez Saá é tido na Argentina como um pré-candidato de oposição: "Não é coincidência que os dois tenham grande popularidade. Brasil e Argentina têm histórias políticas parecidas, estão bastante ligados culturalmente e costumam enfrentar as crises com propostas parecidas", disse Luis Lusquiños, coordenador de campanha de Rodríguez Saá.
A pré-candidata que reagiu com maior euforia ao êxito petista, no entanto, foi a deputada de oposição Elisa Carrió. Em segundo lugar nas pesquisas, Carrió afirmou, por meio de assessores, que "essa foi a melhor coisa que poderia acontecer" no Brasil.
A Folha apurou que parte da cúpula do ARI considera o PT "um modelo a seguir". Para o partido, Lula teria aberto as portas para que a centro-esquerda latino-americana aproveite o atual momento de crise de modelos liberais e chegue ao poder também em outros países da região. Por isso, o ARI enviou há três semanas uma delegação de deputados a São Paulo para acompanhar a campanha petista e tentar aproximar as duas forças políticas.
Os demais pré-candidatos não acreditam que Lula poderia servir de impulso para suas próprias campanhas, mas também minimizam as possíveis vantagens proclamadas pelos concorrentes.
O governador de Córdoba, José Manuel de la Sota, e o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), que ocupam o sexto e quarto lugar nas pesquisas, respectivamente, disseram não ver em nenhum dos pré-candidatos características similares às de Lula.
(JOÃO SANDRINI)





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