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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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ESQUERDA NO DIVÃ

Para o ministro da Casa Civil, houve um "desmantelamento" do país e Lula fez "mais do que era possível"

Dirceu insiste na "herança maldita" de FHC

DA REPORTAGEM LOCAL

Durante os trabalhos do 22º Congresso da Internacional Socialista, o ministro José Dirceu (Casa Civil) fez um discurso crítico em relação ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para a platéia de socialistas, afirmou que a gestão anterior proporcionou um "desmantelamento" do país e que o governo Lula "fez mais do que era possível", tendo em vista a situação em que o Brasil se encontrava quando o PT assumiu.
O ministro e FHC vêm travando um bate-boca público. Fernando Henrique disse que faltava "criatividade" ao governo atual. Dirceu respondeu dizendo que o ex-presidente tinha de cuidar de sua biblioteca e de seus netos. FHC reagiu e afirmou que o ministro-chefe tem vocação autoritária.
Em um discurso de pouco mais de meia hora, Dirceu citou três vezes a palavra "herança", sendo que, na segunda vez, classificou-a como "maldita". Disse ainda que, de 1997 a 2002, o Brasil "quebrou" três vezes.
De acordo com o ministro, devido ao elevado grau da dívida, o Estado hoje "não poupa, retira poupança da sociedade". "O Brasil viciou muita gente a viver de renda", completou.
O ministro-chefe defendeu uma mudança nas relações internacionais para haver crescimento econômico e criticou as políticas do FMI para os países pobres.
"Um país com a dimensão do Brasil não crescerá apenas com investimentos externos, com acesso a mercados externos e tecnologia. Mas é verdade que, com as atuais políticas dos mercados internacionais, com a desregulamentação do capital financeiro e com as políticas do FMI, é improvável que cada país consiga superar suas dificuldades internas sem mudança radical na situação internacional", declarou para cerca de 200 pessoas.
Justificou a ortodoxia adotada pela equipe econômica ao explicar que o superávit de 4,25% do PIB e o contingenciamento de R$ 14 bilhões eram a única forma de superar a crise para recuperar os investimentos.
O ministro defendeu ainda a retomada da função dos bancos públicos como fomentadores do desenvolvimento. "Nos últimos anos, o setor financeiro público, composto pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], perdeu o seu papel de banco de fomento e passou a ser mais um banco comercial. Passou a financiar privatizações", disse o ministro, que apontou a reorganização do setor público e do aparelho de Estado como uma das iniciativas mais importantes do governo Lula.
Dirceu também criticou as privatizações ao dizer que elas foram o motivo da crise no setor elétrico por que passou o Brasil.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), como Dirceu, criticou a privatização da economia na gestão anterior. Ele afirmou que, no passado, as contas brasileiras eram fechadas com dinheiro "das privatizações, da desnacionalização da economia e do endividamento crescente do país". "Não precisamos mais privatizar."


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