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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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RUMO A 2004

Genoino diz que é "fantasia" petistas terem divulgado acusações contra Paulinho; sindicalista "suspende relações" com PT

Dossiê eleitoral cria bate-boca entre políticos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse ontem que as relações que mantém com o PT "estão suspensas" até que membros do partido esclareçam se participaram da divulgação de acusações contra ele.
Paulinho se refere à reportagem da revista "Veja" do último final de semana, que lista uma série de petistas que teriam trabalhado, no ano passado, para divulgar acusações e dossiês contra políticos -inclusive contra Paulinho, que era candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PPS).
"O Osvaldo Bargas [um dos que teriam trabalhado na divulgação de acusações] é hoje o coordenador do Fórum Nacional do Trabalho. Como é que vou participar das reuniões agora?", pergunta o presidente da Força Sindical.
No ano passado, Paulinho acreditava que as acusações contra ele teriam partido do então candidato do PSDB a presidente, José Serra. "Acho que vou ter de pedir desculpas ao Serra", declarou.

Providências
Hoje, Paulinho pretende se reunir com a direção da Força Sindical e com o advogado da entidade. "Vou verificar quais providências podem ser tomadas do ponto de vista jurídico", afirmou ele.
"Isso é fantasia. Não estava na campanha nacional, porque disputava o governo do Estado de São Paulo, mas posso dizer que é muita fantasia", disse o presidente do PT, José Genoino (SP).
O grupo que teria feito a divulgação das acusações era composto por membros da CUT (Central Única dos Trabalhadores), como Osvaldo Bargas. O presidente da CUT, Luiz Marinho, nega as informações da revista. Segundo ele, foi uma armação de "gente interessada em criar intrigas".

Amnésia geral
O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, tem uma avaliação diferente da de Paulinho. Para ele, muitas das informações divulgadas pela revista "Veja" não seriam corretas. Além disso, o ministro continua a atribuir à equipe do então candidato do PSDB a presidente, José Serra, a responsabilidade pelo que ele classifica de "baixarias".
"Eu quero que se faça uma reportagem sobre o subterrâneo e as baixarias de todas as campanhas. Aí a gente vai ver se havia originalmente um envolvimento violento da parte do Serra com escuta telefônica, com firma de espionagem telefônica paga pelo Ministério da Saúde", declarou o ministro Ciro Gomes.
A Folha tentou entrar em contato com José Serra, que está nos Estados Unidos, mas não conseguiu localizá-lo ontem.
No caso das acusações contra Paulinho, envolvendo o suposto uso indevido de recursos do FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador), Ciro Gomes diz ser "mentira" que a operação de ataque tenha partido do PT. Credita o episódio à então ministra Anadyr de Mendonça (Corregedoria Geral da União). "Foi a dona Anadyr. Parece até que há uma amnésia geral sobre o caso", afirmou ele.
O ministro diz que "nem remotamente" sente algum abalo no relacionamento que tem com o PT. Indagado sobre a decisão de Paulinho de suspender suas relações com o governo, Ciro Gomes disse: "É de uma inocência grande. O Paulinho já é adulto. Ele sabe dos elementos fartos que mostraram aquela coisa toda. Ele sabe qual é a origem. Será que esquecemos tudo isso? É amnésia, é?".

Fim do mito
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que as revelações de "Veja" acabam com o mito de que Serra "era o 007" da campanha eleitoral. "Eles é que estavam bisbilhotando."
Virgílio desafiou o ministro Ciro Gomes a interpelar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as denúncias.
"Se essa era a razão da raiva que o Ciro manifestava do Serra, quero ver o que ele diz agora. Será que quem nomeia é inocente? É muito cômodo continuar acusando o Serra, que perdeu a eleição", declarou o tucano.
Apresentado a esse questionamento, Ciro Gomes disse que nada teria a declarar. "Essa reportagem é um furo n'água", declarou.
O presidente do PSDB, José Aníbal (SP), disse que os tucanos devem avaliar hoje as denúncias sobre a suposta tropa de choque que o PT teria montado na campanha eleitoral para proteger Lula de ataques e armazenar denúncias contra candidatos dos partidos adversários.

CPI
Os tucanos avaliam a possibilidade de convocar uma CPI para apurar as denúncias, mas para isso precisariam contar com o apoio de outras forças do Congresso Nacional, pois atualmente são minoritários.
Outra hipótese em avaliação é recorrer ao Judiciário, talvez por meio de interpelações judiciais. "O PT virou Partido da Transgressão", diz Aníbal.
"Se eles fizeram isso na oposição, é legítimo questionar o que eles podem fazer no poder", afirma o dirigente tucano.
"Eles aparelharam ministérios como o da Saúde. É ruim para a administração, que tem um desempenho medíocre, mas tudo bem. O problema é quando o PT começa a aparelhar órgãos estratégicos como a Polícia Federal, os bancos estatais e a Receita Federal", disse Aníbal.


Colaborou FABIANA FUTEMA, da Folha Online


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