São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Campo se arma e acirra conflito agrário

Aumento da violência entre ruralistas e sem-terra teve saldo de três mortes só na semana passada no Pará e no Paraná

Empresas de segurança assumem o papel de polícia e desocupam propriedades; milícias invadem fazendas e fazem ameaças a ruralistas

DA AGÊNCIA FOLHA

Fazendeiros e sem-terra acirram a disputa armada no conflito agrário no Brasil. Empresas de segurança assumem o papel da polícia e desocupam propriedades rurais invadidas no Paraná. Grupos encapuzados e fortemente armados servem como espécie de equipe precursora de sem-terra invasores no Rio Grande do Sul.
"Jagunços" são contratados a R$ 50 por dia em Pernambuco para proteger usinas de açúcar. No Pará, milícias armadas montam guarda na entrada de fazendas.
O saldo desse acirramento, somente na semana passada, foi de três mortes. Começou no último domingo, quando um sem-terra e um vigilante morreram durante tiroteio após invasão da fazenda da multinacional suíça Syngenta Seeds, na região de Cascavel (PR).
Na terça-feira, um líder sem-terra foi morto a tiros em emboscada em Dom Eliseu (PA). Manuel da Conceição Cruz Filho, da Fetraf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar), havia liderado invasão de terra três meses antes.

Terceirização
O confronto entre militantes da Via Campesina e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e vigilantes da fazenda da Syngenta em Cascavel ainda evidenciou a "terceirização" do serviço de despejo de propriedade rurais invadidas.
A segurança da fazenda era feita pela empresa NF Segurança, cuja atuação -após as duas mortes- é alvo de inquérito da Polícia Federal.
Outro registro oficial da atuação da NF em ação de despejo ocorreu em abril, em Lindoeste (PR). Alessandro Meneghel, presidente da Sociedade Rural do Oeste, confirma que, a pedido do dono da fazenda, mandou seguranças retirarem cerca de 120 sem-terra do local.
O delegado José Iegas, da Polícia Federal em Cascavel, diz que o uso de empresa privada para fazer despejos é "inteligente" porque o mandante "pode dizer que foram os seguranças que se excederam" e se eximir da responsabilidade.
"Eles [sem-terra] estão se preparando [para o conflito]. E nós também", diz o ruralista Meneghel. "Continuaremos defendendo as propriedades, porque o governo do Estado não faz isso."
No Pará, o Sindicato Rural de Redenção (916 km de Belém) comunicou ao Ministério da Justiça na semana passada a ação de milícias armadas -compostas de 15 a 60 homens- que estariam invadindo propriedades e ameaçando fazendeiros no sudeste do Estado. A Polícia Civil apura o caso.
Na avaliação de Rosângela Hanemann, presidente do sindicato de proprietários, "os movimentos sociais estão se militarizando e criando verdadeiras guerrilhas".
Outra denúncia de uso de armas por sem-terra está sendo investigada no Rio Grande do Sul. A Brigada Militar (a PM gaúcha) afirma que invasões do MST no Estado são precedidas pela atuação de um grupo de homens armados e encapuzados que expulsam funcionários das propriedades e abrem caminho para militantes do movimento, desarmados. O MST nega.

Jagunços
No Estado de Pernambuco, dois tipos de segurança rural predominam -a legalizada, formada por integrantes de empresas especializadas, e as informais, formada por "jagunços", que fazem ações por até R$ 50 por dia.
Neste ano, o Ministério Público do Estado já flagrou a presença de jagunços em duas fazendas. Foram apreendidos quatro revólveres, uma espingarda e munição. Quatro pessoas foram presas.
Entre os sem-terra, não há registro do uso de armas em Pernambuco.
Em São Paulo, a coordenação do MST no Pontal do Paranapanema (oeste do Estado) afirma que fazendeiros da região mantêm seguranças "prontos para agir" em casos de invasão.
Desde novembro do ano passado, quatro incidentes envolvendo armas de fogo foram registrados na região. A UDR (União Democrática Ruralista) nega que haja milícias ali.
(JOÃO CARLOS MAGALHÃES, SÍLVIA FREIRE, MATHEUS PICHONELLI, SIMONE IGLESIAS, FÁBIO GUIBU E CRISTIANO MACHADO)


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