São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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Pai de mutilada recusa bolsa de R$ 12,50

da Reportagem Local

Benedito Pantoja é pai de uma das 18 mutiladas nas olarias de Abaetetuba (PA), um conjunto de ilhas fluviais a 70 km de Belém. Sua filha Dalcenira de Melo Pantoja, 13, perdeu o couro cabeludo e as orelhas numa maromba, uma máquina feita de cilindros de metal que amassa o barro. Benedito recusou a bolsa por considerar irrisório o valor de R$ 12,50.
Dalcenira tinha cabelos longos. Logo depois de servir café aos trabalhadores da olaria de seu pai, foi colocar barro na maromba. Seus cabelos foram enredados pelos cilindros, e ela perdeu o couro cabeludo. Tinha 9 anos à época do acidente. O barro tem de ser empurrado com as mãos porque as máquinas são velhas.
O caso de Ediene Martins, 16, é mais trágico ainda. Ela perdeu os dois braços numa maromba. Teria 3 anos, segundo relato da mãe, Conceição Martins, ao jornal "O Liberal".
Ninguém sabe exatamente o que aconteceu. Aparentemente, não havia testemunhas na hora do acidente. Os pais da menina dizem que ela não trabalhava na olaria, versão que é contestada por integrantes do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente de Abaetetuba.
"Se ela não trabalhava, por que foi colocar barro na maromba?", pergunta Usinaldo da Conceição Pantoja Ferreira, vice-coordenador do conselho tutelar da cidade.
Os pais, segundo ele, não reconhecem que os filhos trabalham em olarias. Temem ser punidos.
Especialistas em acidente de trabalho dizem que é improvável que ela tenha se acidentado aos 3 anos. Não teria altura para alcançar a máquina. Mas não há dúvidas de que perdeu os braços numa maromba.
Ediene também não recebe a bolsa. Ela passou da idade -tem 16 anos, e não até 14, como está previsto no critério de seleção do programa.
Apesar de não ter os braços, Ediene estuda. Frequenta a quarta série do ensino fundamental. Com a mutilação, passou a usar os pés como mãos. Escreve com eles, e consegue até passar batom. Sabe até nadar sem os braços. É vaidosa como qualquer menina de sua idade: vive com os dedos pintados e com anéis.
(MCC)


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