|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Me ajeite R$ 50 mil", diz envolvido
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Teresina
Conversa telefônica gravada pela Polícia Federal entre Francisco
Domingos de Sousa, o Domingão, suposto chefe do escritório
do crime organizado no Piauí, e o
prefeito de Canto do Buriti (PI),
Eurimar Nunes (PPB), revela como funcionava o esquema para
desviar dinheiro público das prefeituras com a utilização de notas
fiscais frias.
Na ligação, grampeada em 13 de
junho passado, Domingão e Nunes acertam a emissão de R$ 50
mil em notas frias para justificar
uma falsa aquisição de materiais
escolares e medicamentos pela
prefeitura.
A Justiça decretou a prisão de
Domingão, que está foragido. O
prefeito Eurimar Nunes disse que
é inocente. Ele afirma que foi "vítima" do crime organizado, e que
foi "pressionado várias vezes" para desviar dinheiro.
"Todo mundo sabia que existia
esse grupo aí, exterminando o povo. O prefeito ia morrer porquê?",
diz Nunes.
Fazendo gravações de conversas telefônicas, a Polícia Federal
descobriu que o grupo supostamente chefiado pelo coronel José
Viriato Correia Lima desviava recursos de pelo menos 80 prefeituras no Piauí, Maranhão e Ceará
usando notas fiscais frias.
Leia a seguir trechos da conversa gravada pela Polícia Federal:
Eurimar Nunes - O Domingão,
por favor.
Francisco Domingos de Sousa,
o Domingão - Quem fala?
Nunes - Eurimar.
Domingão - O seu Eurimar, como vai o sr.?
Nunes - Tudo bem.
Domingão - Antes de o sr. viajar para lá, eu queria que o sr. ajeitasse aí para eu pegar um negocinho para fechar. Ajude nós (sic),
rapaz.
Nunes - (risos) Tá. Faz o seguinte: a que horas eu te acho amanhã?
Domingão - O rapaz que está
com uns negócios está viajando
hoje. Eu só tenho hoje à tarde.
Nunes - É mesmo, rapaz?
Domingão - É, rapaz, me ajude.
Nunes - Vou ajudar. Mas é o seguinte, amanhã é que pode ter um
troquinho aí do ICMS.
Domingão - Rapaz, eu não estou falando disso não. Me ajeite
aí... O sr. dá os prazos... Pelo menos R$ 50 mil, homem.
Nunes - Em nota?
Domingão - Sim, rapaz.
Nunes - (risos) Tá certo.
Domingão - Eu vou com o Marco, aí, agora, tá bom?
Nunes - Não, eu estou de saída,
filho de Jesus. Faça o seguinte: você bota aí setembro, novembro e
dezembro. Distribui aí. Tudo daquelas coisas sem licitação.
Domingão - Setembro, novembro...
Nunes - É, para o seguinte: negócio escolar, material escolar.
Domingão - Isso tudo, é?
Nunes - Tudo. Você divide. Bota tudo bonitinho aí, entendeu? E
quanto é que fica isso aí?
Domingão - O sr. dá os 15% da
gente, não é?
Nunes - Não, não. Você está
doido, rapaz.
Domingão - Amanhã eu converso. Quando ajeitar aqui tudo...
Tem que ajeitar, nós têm (sic) que
ajeitar isso aí, tá bom?
Nunes - Tira os 50, viu?
Domingão - O que o sr. falou:
60.
Nunes - Cinquenta. Pode tirar
50.
Domingão - Tá bom.
Nunes - Mas não bote nenhuma
repetida, daquelas que já foram
para lá, não.
Domingão - Não, não, não. Ó,
isso aqui é só de material escolar?
Nunes - É. Pode botar aí um
pouquinho de saúde, medicamento.
Domingão - Tá bom, viu?
Nunes - Até logo.
Texto Anterior: Crime organizado: Indústria da nota fria domina corrupção Próximo Texto: Verbas do Fundef são alvos de fraudes Índice
|