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OS PROFISSIONAIS
"Calçadas" e clonadas são tipos usados por fraudadores
""Expert" em notas frias mostra as modalidades do esquema
IRINEU MACHADO
da Agência Folha, em Teresina
O contador José dos Santos
Matos, 48, um profissional do
esquema de notas fiscais frias,
revelou à Agência Folha as diversas modalidades de fraudes
feitas com o uso das notas.
Notas fiscais -usadas por
prefeituras em prestações de
contas e obtidas pela reportagem- foram mostradas a Matos, que desfilou, enquanto as
analisava, todo o vocabulário de
jargões do esquema: notas "calçadas", clonadas, de empresas
fantasmas, de empresas abertas
com uso de "laranjas", entre outros tipos (veja quadro na página ao lado).
Considerado pela Polícia Federal um "expert" no uso de notas frias, Matos trabalhava no
grupo que, segundo ele, era
coordenado pelo coronel da reserva da PM do Piauí José Viriato Correia Lima, atualmente
preso em Teresina.
A indústria das notas frias tem
várias ramificações, segundo
Matos. "Esse esquema que descobriram no Piauí é um. Há
muitos outros. Acho que mais
de 90% das prefeituras do Nordeste estão envolvidas", disse.
"São vários"
"Tenho amigos no Maranhão
que vivem exclusivamente disso. Aqui no Piauí, seis pessoas
do grupo do Correia Lima eram
os "cabeças" do esquema. No
Maranhão, não há só um líder
do esquema. São vários. Sei que
há pelo menos uns dez. Lá, os
próprios prefeitos vão atrás das
notas frias com os vendedores.
Desviam dinheiro do Fundo de
Participação dos Municípios, do
ICMS, de cotas diversas", disse.
Matos chama de vendedores
as pessoas do esquema que obtêm as notas e as vendem preenchidas e com discriminação dos
gastos.
Uma nota é preenchida, por
exemplo, com uma relação de
medicamentos comprados por
uma determinada prefeitura.
Um "atravessador" paga ao
"vendedor" 20% do valor da nota. O "atravessador" a revende
por 30% do valor a uma prefeitura.
A prefeitura usa o valor total
da nota para prestar contas
douso de verbas do SUS (Sistema Único de Saúde), por exemplo.
"Eu nunca via um prefeito. Eu
fazia as notas para eles (os líderes do esquema)", disse Matos.
Alegando "medo de ser assassinado", Matos apresentou-se
espontaneamente à PF do Piauí
no último dia 10 para revelar como funcionava o esquema no
Estado. Ele está recebendo proteção especial e teve prisão temporária solicitada pelo Ministério Público Federal, mas o pedido ainda não foi apreciado pela
Justiça.
Matos analisou 30 notas usadas por prefeituras em prestações de contas de serviços, convênios e programas do governo
federal. Em menos de um minuto com uma nota na mão, era
capaz de apontar uma série de
irregularidades, indícios de falsificação ("grotesca", afirmava
às vezes) ou reconhecia se a nota
era legal.
"É fácil saber quando uma nota é fria. Às vezes, até detalhes
no tipo gráfico usado na impressão da nota já dão a pista de
que ela é falsificada", afirmou,
mostrando uma nota em que o
número de série aparecia em tamanho um pouco menor no alto do que numa parte destacável
embaixo.
"As notas trazem hoje um selo
da Receita Estadual. Em algumas dessas notas aqui, no lugar
do selo está um carimbo da Receita numa data em que não se
usavam mais carimbos. Em outros casos, a Receita Estadual
utiliza um sistema de numeração, com furos no papel no lugar do selo, como no Piauí. Esse
sistema de numeração também
é possível de falsificar. Pode ser
feito até com uso de pregos."
"Muitas dessas notas são roubadas. Outras são produzidas
em gráficas clandestinas. Você
pode usar até um computador
caseiro para fabricar notas."
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