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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CONCLUSÕES
Efraim Moraes nega falta de foco e vê elo entre assassinatos de prefeitos do PT e máfia dos jogos
Houve propina no caso GTech, diz presidente da CPI dos Bingos
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da CPI dos Bingos,
senador Efraim Moraes (PFL-PB), diz ter a confirmação de pagamento de propina na prorrogação do contrato de R$ 650 milhões da Caixa Econômica Federal com a multinacional GTech
para a gestão dos sistema de loterias e nega que a comissão tenha
extrapolado seu foco em busca de
munição contra o governo.
Moraes citou como propina um
pagamento de R$ 5 milhões feito
pela GTech a Valter Santos Neto,
da empresa MM Consultoria. A
Folha telefonou ontem para Santos Neto, mas ele não atendeu aos
telefones em sua casa.
Para Moraes, o governo está
preocupado com a "verdade"
buscada pela comissão. O governo promete recorrer ao Supremo
Tribunal Federal para que a CPI
se atenha ao setor de jogos.
"Não há isso, que a CPI está fugindo do foco. É uma CPI que o
governo não desejava -tivemos
que instalá-la com determinação
do Supremo- e que depois, devido ao trabalho, à transparência e à
independência, começou a preocupar o governo", disse Moraes,
em entrevista ontem à Folha, por
telefone.
"Temos informações da máfia
dos jogos envolvida tanto em Santo André como em Campinas e
Ribeirão [Preto]", afirmou, para
justificar o motivo de a comissão
apurar o assassinato dos prefeitos
petistas Celso Daniel e Toninho,
além de tráfico de influência e
desvio de dinheiro público.
Folha - Quem a CPI dos Bingos ouvirá nesta semana?
Efraim Moraes - Na terça-feira
vamos ouvir o Ademirson [da Silva, assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci]. Há uma indefinição em relação a quarta e
quinta, mas devemos trazer os
procuradores que atuam no caso
de Santo André, [na investigação
relativa ao assassinato do prefeito
Celso Daniel, em janeiro de 2002].
Folha - Qual relação da morte do
prefeito Celso Daniel com o jogo?
Moraes - Estamos próximos de
mostrar que havia ligações do
[empresário de Santo André] Ronan Pinto com os bingos.
Folha - Que tipo de ligação?
Moraes - Ligações empresariais,
com pessoas envolvidas com o jogo do bicho.
Folha - O sr. pode explicar melhor?
Moraes - Não posso porque o
que estou buscando é exatamente
essa questão. Estamos tentando
provar exatamente que havia ligações do grupo de Santo André
com o jogo.
Folha - E como a investigação de
Ribeirão Preto, sobre tráfico de influência e desvio de recursos públicos, liga-se ao jogo?
Moraes - Há uma posição governista de tentar ver a CPI como CPI
dos Bingos. A CPI dos Bingos trata da contravenção, do crime organizado, que são os dois pontos
mais fortes que envolvem o caso
de Santo André. Você chega a Ribeirão Preto, tem a questão do
desvio de recursos públicos. Temos informações da máfia dos jogos envolvida tanto em Santo André como em Campinas e Ribeirão. É claro que ninguém vai dizer
a nós que estava [envolvido]. Estamos buscando exatamente isso,
com o apoio do Ministério Público e da Polícia Federal.
Folha - Em que fase está hoje a
CPI dos Bingos?
Moraes - A CPI deve apresentar
até o final do ano um relatório
parcial, principalmente no que
diz respeito a Santo André e à
GTech. Quando fala em bingo, todo mundo só pensa em bingo,
mas GTech é envolvida com a
Caixa Econômica, que é jogo. Está
bem claro que há um volume de
recursos muito grande que envolve [contratos entre] a Caixa e a
GTech e que não estão explicados,
e nós sabemos que houve [pagamento de] propina para que fosse
realizada a conclusão [prorrogação] dos contratos. Não posso
avançar mais com você.
Folha - Mas está confirmado que
houve propina?
Moraes - Houve sim. [É] o caso
do [advogado] Valter Santos Neto, da MM Consultoria, que deve
voltar à CPI. Isso está comprovado. No relatório, vamos mostrar a
relação da GTech com a MM. Não
temos dúvida de que Valter Santos Neto entrou na história da
GTech para receber e repassar
propina no valor de R$ 5 milhões,
que foi o valor que ele cobrou para [apresentar ao Superior Tribunal de Justiça] uma simples [ação]
cautelar. Ele só assinou a cautelar
para a GTech [ação com a qual a
empresa impediu a Caixa de fazer
uma licitação para renovar o contrato de operação do sistema de
loterias]. Nada mais. E o custo foi
de R$ 5 milhões. Buscamos a partir daí o envolvimento do [Rogério] Buratti, do Marcelo Rovai [diretor da GTech]... Queremos fechar essa questão com provas,
com as quebras de sigilo que começam a chegar.
Folha - Quando a CPI vai ouvir os
empresários de jogos?
Moraes - Ouvimos o Carlos Cachoeira, o [Enrico] Gianelli [advogado da GTech, em abril de
2003, época em que a Caixa renovou seu contrato com a multinacional]. Não ouvimos ainda o Comendador Arcanjo [José Arcanjo
Ribeiro] porque ele está entregue
à polícia uruguaia. Não temos como ouvi-lo. É impossível. Assim
que ele chegar ao Brasil, vamos
ouvi-lo.
Folha - Qual a relação de Paulo
Okamotto, presidente do Sebrae,
com a CPI?
Moraes - Ele pagou contas do
presidente Lula. Foi para a CPI e
não conseguiu dizer de onde veio
esse dinheiro, por que pagou... A
CPI tem uma amplitude nesse
sentido. De onde veio esse dinheiro? Ele não esclareceu isso. O foco,
nesse caso, é a dúvida com relação
à origem do dinheiro.
Folha - Para o governo, a CPI só
existe para atacá-lo.
Moraes - Não existe isso. Quem
mais tem tentado desviar o foco é
o próprio governo, com essa história de "CPI do fim do mundo".
É uma CPI diferente. Ela está apurando todos os casos ligados ao
seu foco. Não interessa pra gente
se é bom para o governo ou não é.
E é essa a preocupação do governo. Se fizerem uma composição,
vão ver que essa maioria [da oposição] na CPI não existe. A maioria acontece por conta dos fatos,
da necessidade de apurar determinados fatos.
Não há nada disso, de que a CPI
está fugindo do foco. É uma CPI
que o governo não desejava -tivemos que instalá-la com determinação do Supremo- e que depois, devido ao seu trabalho, à sua
transparência e à sua independência, começou a preocupar o
governo.
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