São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para manter CPMF, governo libera meio bilhão em 23 dias

Senadores que são "voto incerto" denunciam assédio do governo com emendas

Liberação de verbas neste mês foi quase 200% maior que repasses de outubro; caso Waldomiro é lembrado e Planalto nega cooptação

SILVIO NAVARRO
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Correndo contra o calendário para conseguir aprovar a prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) no Senado, o governo destinou R$ 514,3 milhões em verbas federais para atender emendas parlamentares até a última sexta-feira, valor que representa quase o triplo (197%) do liberado em outubro. Senadores acusaram a Casa Civil de cooptar votos.
O detalhamento do "empenho" (compromisso de gastos) das emendas parlamentares do Orçamento aponta ainda que R$ 207 milhões foram liberados só na semana passada, segundo dados do Siafi (sistema de acompanhamento de gastos da União) coletados pelo DEM.
A primeira denúncia de que o governo estaria negociando com emendas partiu de Geraldo Mesquita (PMDB-AC), que integra o grupo dos "rebeldes" do PMDB cujos votos para aprovar a CPMF são considerados incertos. Ele relatou ter sido procurado pelo subchefe de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Marcos Lima, para negociar a liberação de emendas.
"Um funcionário do Planalto ligou várias vezes para o meu gabinete. Depois, insistiu e foi ao meu gabinete. Eu não lhe dei essa liberdade", diz Mesquita.
"É tão escandaloso, que até tenho dúvida se realmente ocorreu ou se o senador [Mesquita] interpretou mal", disse Jefferson Péres (PDT-AM).
A Secretaria de Relações Institucionais negou, em nota, que tenha usado a liberação de emendas como "moeda de troca" e classificou as afirmações de Mesquita como resultantes de uma "falha de comunicação". "Em nenhum momento a liberação de emendas foi utilizada como moeda de troca."
A nota diz que a secretaria lamenta a "falha de comunicação" no contato com o gabinete de Mesquita. "Como o próprio senador admitiu, não houve nenhuma conversa entre o senador e o dirigente da secretaria. O dirigente da secretaria foi recebido cordialmente no gabinete do parlamentar e, como foi informado que o senador estava satisfeito com relação a suas emendas, deixou as dependências imediatamente."
A pedido do presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), o corregedor da Casa, Romeu Tuma (PTB-SP), disse que abrirá investigação.
"O governo tem de explicar que não estamos diante de um novo caso Waldomiro Diniz", diz o líder tucano, Arthur Virgílio (AM), referindo-se ao cargo de Lima, que já foi ocupado por Waldomiro. Para o líder do DEM, José Agripino (RN) "é a evidência do uso de dinheiro público para aprovar a CPMF".
O campeão de emendas empenhadas em novembro é o PMDB, com R$ 25,4 milhões -R$ 18,5 milhões só na semana passada. Maior bancada (20 senadores), o partido é vital para a aprovação da CPMF. O PTB também obteve grande desempenho: dos R$ 6 milhões, em novembro, R$ 5 milhões foram liberados na semana passada.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Não vai haver "farra do boi" nos gastos, diz Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.