São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Defesa de Dantas usa discursos do STF e da PF

Alegação do banqueiro na ação sobre suborno recorre a declarações de ministros e delegados para desqualificar Protógenes Queiroz

Defesa apresentada ao juiz Fausto De Sanctis é a última manifestação de Dantas antes da decisão judicial, ainda sem data para ocorrer

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A alegação final do banqueiro Daniel Dantas na ação penal que investiga oferecimento de suborno aos delegados que conduziam a Operação Satiagraha recorreu a discursos de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e a brigas da Polícia Federal para tentar desqualificar o delegado Protógenes Queiroz e invalidar todo o inquérito policial que deu origem ao processo.
As alegações são a última manifestação da defesa antes da decisão do juiz federal Fausto Martin De Sanctis, sem data para ocorrer. Assinada pelo advogado Nélio Machado, a peça tem 289 páginas. Dois terços foram dedicados a apontar supostas irregularidades da fase do inquérito. Ao final, pediu a nulidade do processo e o encerramento da ação.
Em julho, Dantas foi preso sob acusação de ter ordenado a oferta de US$ 1 milhão para o delegado Victor Hugo Ferreira, que atuava na Satiagraha, em troca da exclusão do nome do banqueiro e de parentes do rol de investigados. Queria ainda que os policiais se voltassem contra um de seus desafetos, o empresário Luís Roberto Demarco. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, os emissários de Dantas foram o professor Hugo Chicaroni e Humberto Braz, executivo ligado ao grupo Opportunity.
Ao cumprir ordem judicial na casa de Chicaroni, a PF encontrou R$ 850 mil que seriam usados para o suborno.
Na defesa, Nélio Machado reservou cerca de 12 páginas para reproduzir os discursos dos ministros do STF que atacaram o processo e o juiz De Sanctis durante o julgamento, no último dia 6, de um habeas corpus concedido ao banqueiro pelo presidente do STF, Gilmar Mendes.
A defesa citou supostas irregularidades no andamento do inquérito, como "monitoramento automático" de todos os e-mails que tivessem um mesmo endereço, supostas interceptações "a descoberto" (um determinado telefone gravado por 16 dias, e não por 15, como dizia a ordem do juiz) e supostas "falhas estruturais" no áudio de gravações feitas pela PF.
A defesa anexou uma perícia encomendada a uma empresa, que tenta descredenciar as gravações que trataram do suborno. Alegou ainda "cerceamento de defesa", porque o juiz não teria concordado em intimar duas testemunhas que moram na Itália e nos Estados Unidos. Para a defesa, essas pessoas eram "essenciais" e "valiosas".
O advogado dedicou longas páginas ao papel de Protógenes, afastado da Satiagraha em 14 de julho passado. Disse que ele entrou em rota de colisão com uma procuradora da República que atuou na fase inicial do caso, que não se contentava com suposta falta de detalhes nos relatórios do delegado.
Para atacar Protógenes, a defesa recorreu a um de seus superiores, Daniel Lorenz, diretor de inteligência da PF em Brasília. Em depoimento à CPI dos Grampos, Lorenz chamou o trabalho compartilhado com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de "conspiração". Lorenz e Protógenes se desentenderam na Satiagraha.
A defesa referiu ainda o nome do empresário Demarco, dizendo que ele teria tido informação de antemão sobre a Satiagraha, em 18 de abril. Cita suposto e-mail de um jornalista enviado ao Opportunity. Em depoimento à CPI, contudo, Dantas disse ter sabido de investigações da PF em dezembro passado. Na Operação Chacal, em 2004, a PF apreendeu documentos que indicam que Demarco era alvo do coronel Avner Shemesh. A Chacal apontou que Shemesh havia sido contratado por Dantas para espionar seus desafetos.


Texto Anterior: Saúde transfere R$ 2,8 mi do SUS para a UNE
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.