São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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PF diz que Arruda mandou dar
R$ 400 mil a deputados

Em gravação citada no inquérito, governador do DF orienta secretário a pagar políticos

Polícia cumpre 16 mandados de busca e apreensão em Minas, Goiás e Brasília, onde gabinetes de deputados e a residência oficial foram alvo


ANDRÉA MICHAEL
HUDSON CORRÊA
FILIPE COUTINHO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Relatório da Polícia Federal na Operação Caixa de Pandora traz uma gravação na qual o governador José Roberto Arruda (DEM-DF) pede a um assessor que repasse a políticos aliados dinheiro de empresas contratadas pelo governo.
Contra esse suposto esquema, a PF deflagrou ontem a operação, cumprindo 16 mandados de busca e apreensão em Goiânia, Belo Horizonte e Brasília. Na capital federal foram feitas buscas nas casas e em gabinetes de secretários do governo e de deputados distritais, além de um anexo na casa oficial de Arruda. Mais de R$ 700 mil foram apreendidos, além de dólares e euros.
O principal documento da investigação é a transcrição de uma conversa entre Arruda e seu secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, no dia 21 de outubro passado.
Para gravar os diálogos, a PF instalou equipamentos de escutas e vídeo nas roupas de Barbosa antes de ele se encontrar com Arruda na residência oficial. Investigado por suposta prática de vários crimes relacionados principalmente a desvio de dinheiro público, o secretário passou a ser um colaborador da Justiça.
Em depoimento à PF no mesmo dia da conversa com o governador, Barbosa apresentou uma mala de dinheiro com R$ 400 mil e disse que a quantia fora captada com as empresas da área de informática prestadoras de serviço ao governo: Vertax, Linknet, Infoeducacional e Adler.
A conversa com Arruda, segundo transcrição no relatório da PF, confirma a versão de Durval. "Tá faltando chegar cem da Vertax [...]. Aí vai dar uns setecentos e cinquenta, oitocentos, por aí", diz o secretário. "Hoje tem disponível isso aqui?", pergunta Arruda. Você "teria hoje quatro disponível", responde Durval. "Ótimo", diz o governador.
Mais adiante, Arruda e Barbosa tratam de pagamento a políticos. O governador observa que os beneficiários com pagamentos devem "estar ligados a uma campanha política".
Na conversa estava presente também o secretário da Casa Civil, José Geraldo Maciel. Conforme Barbosa, Maciel também receberia dinheiro do esquema do governador para a "base aliada". Arruda chega a fazer a perguntar a Barbosa: "Aquela despesa mensal com político sua está em quanto?"
Em 2005, a Folha revelou um esquema organizado pelo PT que ficou conhecido por mensalão, que consistia no pagamento de propina em troca de apoio parlamentar. Foi o maior escândalo da primeira gestão do presidente Lula.
Além dos R$ 400 mil, entregues no encontro com o governo em 21 de outubro, registra a PF que "outros R$ 200 mil terão aquele destino", segundo trecho do relatório policial.
Sob a orientação de Arruda, de acordo com o documento, Barbosa deveria repassar o dinheiro a Maciel, que se encarregaria de distribuí-lo. "Ou seja: o dinheiro será dissipado em diversos pagamentos menores a pessoas ainda não identificadas", afirma a PF.
"As pessoas jurídicas Infoeducacional, Vertax, Adler e Linknet, que prestam serviços ao GDF [governo do Distrito Federal], repassam ao esquema criminoso R$ 600 mil que estão sendo rastreados pela Polícia Federal", diz o documento elaborado pelo ministro relator do caso no STJ, Fernando Gonçalves. Foi feita uma espécie de entrega controlada do dinheiro, a partir da qual a PF e o Ministério Público esperam, agora que foram feitas as buscas e apreensões, detectar quem efetivamente recebeu as quantias repassadas a Barbosa e recolher documentos que ampliem as provas sobre o suposto esquema.
Arruda chegou a procurar o ministro Gonçalves em busca de informações, disse o magistrado à Folha. "Mas eu respondi o que estou lhe dizendo: "Nada posso falar a respeito deste caso, porque corre sob segredo de Justiça'", declarou. As buscas e apreensões foram antecipadas por conta de vazamentos, segundo a Folha apurou.
Os investigadores incluíram entre os alvos de busca e apreensão deputados distritais fiéis ao governo: Leonardo Prudente (DEM), presidente da Câmara Distrital, Eurides Brito (PMDB), líder do governo, Rogério Ulysses Mello (PSB), além do suplente Pedro do Ovo (PRB), que tiveram suas casas e gabinetes vasculhados pela PF.
No governo, foram alvo da operação Omézio Pontes, assessor de imprensa de Arruda, seu chefe de gabinete, Fabio Simão, o ex-integrante do cargo e hoje conselheiro do Tribunal de Contas do DF Domingos Lamoglia, o secretário de Educação Luiz Valente, Maciel e o próprio Barbosa.
A operação ontem também incluiu a construtora Conbral S.A, parceira de negócios do vice-governador do DF, o empresário Paulo Octávio (DEM).


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