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PF diz que Arruda mandou dar
R$ 400 mil a deputados
Em gravação citada no inquérito, governador do DF orienta secretário a pagar políticos
Polícia cumpre 16 mandados
de busca e apreensão em Minas, Goiás e Brasília, onde gabinetes de deputados e a residência oficial foram alvo
ANDRÉA MICHAEL
HUDSON CORRÊA
FILIPE COUTINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Relatório da Polícia Federal
na Operação Caixa de Pandora
traz uma gravação na qual o governador José Roberto Arruda
(DEM-DF) pede a um assessor
que repasse a políticos aliados
dinheiro de empresas contratadas pelo governo.
Contra esse suposto esquema, a PF deflagrou ontem a
operação, cumprindo 16 mandados de busca e apreensão em
Goiânia, Belo Horizonte e Brasília. Na capital federal foram
feitas buscas nas casas e em gabinetes de secretários do governo e de deputados distritais,
além de um anexo na casa oficial de Arruda. Mais de R$ 700
mil foram apreendidos, além
de dólares e euros.
O principal documento da
investigação é a transcrição de
uma conversa entre Arruda e
seu secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, no
dia 21 de outubro passado.
Para gravar os diálogos, a PF
instalou equipamentos de escutas e vídeo nas roupas de
Barbosa antes de ele se encontrar com Arruda na residência
oficial. Investigado por suposta
prática de vários crimes relacionados principalmente a desvio de dinheiro público, o secretário passou a ser um colaborador da Justiça.
Em depoimento à PF no
mesmo dia da conversa com o
governador, Barbosa apresentou uma mala de dinheiro com
R$ 400 mil e disse que a quantia fora captada com as empresas da área de informática
prestadoras de serviço ao governo: Vertax, Linknet, Infoeducacional e Adler.
A conversa com Arruda, segundo transcrição no relatório
da PF, confirma a versão de
Durval. "Tá faltando chegar
cem da Vertax [...]. Aí vai dar
uns setecentos e cinquenta, oitocentos, por aí", diz o secretário. "Hoje tem disponível isso
aqui?", pergunta Arruda. Você
"teria hoje quatro disponível",
responde Durval. "Ótimo", diz
o governador.
Mais adiante, Arruda e Barbosa tratam de pagamento a
políticos. O governador observa que os beneficiários com pagamentos devem "estar ligados
a uma campanha política".
Na conversa estava presente
também o secretário da Casa
Civil, José Geraldo Maciel.
Conforme Barbosa, Maciel
também receberia dinheiro do
esquema do governador para a
"base aliada". Arruda chega a
fazer a perguntar a Barbosa:
"Aquela despesa mensal com
político sua está em quanto?"
Em 2005, a Folha revelou
um esquema organizado pelo
PT que ficou conhecido por
mensalão, que consistia no pagamento de propina em troca
de apoio parlamentar. Foi o
maior escândalo da primeira
gestão do presidente Lula.
Além dos R$ 400 mil, entregues no encontro com o governo em 21 de outubro, registra a
PF que "outros R$ 200 mil terão aquele destino", segundo
trecho do relatório policial.
Sob a orientação de Arruda,
de acordo com o documento,
Barbosa deveria repassar o dinheiro a Maciel, que se encarregaria de distribuí-lo. "Ou seja: o dinheiro será dissipado em
diversos pagamentos menores
a pessoas ainda não identificadas", afirma a PF.
"As pessoas jurídicas Infoeducacional, Vertax, Adler e
Linknet, que prestam serviços
ao GDF [governo do Distrito
Federal], repassam ao esquema criminoso R$ 600 mil que
estão sendo rastreados pela
Polícia Federal", diz o documento elaborado pelo ministro
relator do caso no STJ, Fernando Gonçalves. Foi feita uma espécie de entrega controlada do
dinheiro, a partir da qual a PF e
o Ministério Público esperam,
agora que foram feitas as buscas e apreensões, detectar
quem efetivamente recebeu as
quantias repassadas a Barbosa
e recolher documentos que
ampliem as provas sobre o suposto esquema.
Arruda chegou a procurar o
ministro Gonçalves em busca
de informações, disse o magistrado à Folha. "Mas eu respondi o que estou lhe dizendo: "Nada posso falar a respeito deste
caso, porque corre sob segredo
de Justiça'", declarou. As buscas e apreensões foram antecipadas por conta de vazamentos, segundo a Folha apurou.
Os investigadores incluíram
entre os alvos de busca e
apreensão deputados distritais
fiéis ao governo: Leonardo
Prudente (DEM), presidente
da Câmara Distrital, Eurides
Brito (PMDB), líder do governo, Rogério Ulysses Mello
(PSB), além do suplente Pedro
do Ovo (PRB), que tiveram
suas casas e gabinetes vasculhados pela PF.
No governo, foram alvo da
operação Omézio Pontes, assessor de imprensa de Arruda,
seu chefe de gabinete, Fabio Simão, o ex-integrante do cargo e
hoje conselheiro do Tribunal
de Contas do DF Domingos Lamoglia, o secretário de Educação Luiz Valente, Maciel e o
próprio Barbosa.
A operação ontem também
incluiu a construtora Conbral
S.A, parceira de negócios do vice-governador do DF, o empresário Paulo Octávio (DEM).
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