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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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Brasil e França travam "diálogo de surdos" sobre questão agrícola

Sergio Lima/Folha Imagem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da França, Jacques Chirac, durante entrevista concedida em Paris, após reunião


DOS ENVIADOS A PARIS

Nem todas as amabilidades trocadas entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Jacques Chirac bastaram para ocultar um fato, apontado pelo ministro Luiz Fernando Furlan durante o almoço entre as duas delegações: "O diálogo [entre Brasil e França] é um diálogo de surdos em relação ao protecionismo agrícola".
Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) lembrou que viera à França na condição de ministro, mas, antes, como empresário, queixara-se muitas vezes do protecionismo, sem obter respostas.
Tanto não houve resposta, nem antes nem agora, que Lula disse que há 99%, mas não 100%, de "concordância e vontade brasileira e francesa de aperfeiçoar as nossas relações".
O que falta é justamente a questão agrícola. A uma pergunta da Folha, Chirac negou que haja protecionismo: "Essa história de protecionismo europeu é mais propaganda que realidade. A Europa dá muito menos subsídio à agricultura que os EUA".
A comparação é polêmica, mas não oculta o fato de que o Brasil se empenha inutilmente para que ambos (Europa e EUA) reduzam ou eliminem o protecionismo.
O petista obteve no máximo a vaga promessa de Chirac de "disposição para negociar com o Brasil e o Mercosul algo que possa levar em conta todos os aspectos possíveis da cooperação".
Lula, no entanto, parece ter aceitado a comparação de seu colega francês entre os protecionismos europeu e norte-americano, a ponto de enveredar, na sua vez de responder, pela crítica aos EUA. "Achamos que não é possível aceitar as medidas protecionistas já aprovadas pelo Congresso norte-americano para começar a discutir a implantação da Alca."
Refere-se à proteção aos produtores norte-americanos de aço e à legislação agrícola dos EUA, fortemente protecionistas. "Se quisermos fazer um jogo de livre comércio, que o livre comércio seja para todos e não apenas para alguns. Não aceitaremos, em hipótese alguma, essa política de dois pesos e duas medidas", disse Lula.
O petista aproveitou a entrevista para lamentar o reduzido nível de comércio entre os dois países, hoje na altura dos US$ 3 bilhões. Volume tão pequeno que o presidente chegou a dizer que, "muitas vezes as relações com parceiros europeus, sobretudo aqueles mais próximos, como Portugal, Espanha e França, são mais sentimentais que relações econômicas de verdade". (CLÓVIS ROSSI E FERNANDO RODRIGUES)


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