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JANIO DE FREITAS
Efeito omitido
Nos comentários suscitados a cada onda de alta do
dólar no governo passado, um
dos seus efeitos mais duros foi
sempre negligenciado. As atenções eram postas no benefício
para as exportações e para as reservas do Banco Central e, entre
os efeitos negativos, no aumento
do custo das importações para a
indústria, no aumento de preço
dos combustíveis e no agravamento da dívida externa empresarial. Observações cuja delimitação, excluindo higienicamente qualquer aspecto social, era
muito adequada às circunstâncias de então.
Mas sob um governo com tantos ex-sindicalistas, a começar
do próprio presidente, presume-se que não seja impróprio notar
que o aumento do dólar, provocando aumento de preços por
força daqueles efeitos, reduz o
poder aquisitivo dos assalariados e assemelhados. O real que
se desvaloriza com a valorização do dólar é o que está no bolso do assalariado, ou o que será
por ele recebido já mais inferiorizado diante dos preços.
Dólar mais alto é igual a salário encurtado.
Logo, seria razoável supor que
o governo Lula se preocupasse
em refrear as altas do dólar. A
suposição sucumbe à precisa firmeza do ministro Antonio Palocci, indagado a respeito em
Berlim:
"Não há limite para a alta do
dólar. Temos um compromisso
assumido e reiterado com o
câmbio livre. E câmbio livre é
câmbio livre."
Como a defesa do poder aquisitivo dos salários, já a partir do
salário mínimo, era defesa do
poder aquisitivo dos salários.
Ou como a condenação dos aumentos especulativos do dólar
era condenação.
E, em relação a "compromisso
assumido", antes dos que foram
assumidos depois da eleição, como seria o do câmbio livre, houve muitos outros compromissos
assumidos com nada menos do
que 52 milhões de pessoas, seus
eleitores.
Não se trata, pois, senão de fazer o que o governo ainda não
fez: avaliar com segurança os
múltiplos aspectos das posições
que vem tomando, expô-los ao
país e justificar, se puder, suas
decisões. As desvalorizações da
moeda já deviam ter passado
por isso, porque, para a grande
maioria da população, significam comida, remédio, vestuário, educação -vida, em uma palavra.
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