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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Efeito omitido

Nos comentários suscitados a cada onda de alta do dólar no governo passado, um dos seus efeitos mais duros foi sempre negligenciado. As atenções eram postas no benefício para as exportações e para as reservas do Banco Central e, entre os efeitos negativos, no aumento do custo das importações para a indústria, no aumento de preço dos combustíveis e no agravamento da dívida externa empresarial. Observações cuja delimitação, excluindo higienicamente qualquer aspecto social, era muito adequada às circunstâncias de então.
Mas sob um governo com tantos ex-sindicalistas, a começar do próprio presidente, presume-se que não seja impróprio notar que o aumento do dólar, provocando aumento de preços por força daqueles efeitos, reduz o poder aquisitivo dos assalariados e assemelhados. O real que se desvaloriza com a valorização do dólar é o que está no bolso do assalariado, ou o que será por ele recebido já mais inferiorizado diante dos preços.
Dólar mais alto é igual a salário encurtado.
Logo, seria razoável supor que o governo Lula se preocupasse em refrear as altas do dólar. A suposição sucumbe à precisa firmeza do ministro Antonio Palocci, indagado a respeito em Berlim:
"Não há limite para a alta do dólar. Temos um compromisso assumido e reiterado com o câmbio livre. E câmbio livre é câmbio livre."
Como a defesa do poder aquisitivo dos salários, já a partir do salário mínimo, era defesa do poder aquisitivo dos salários. Ou como a condenação dos aumentos especulativos do dólar era condenação.
E, em relação a "compromisso assumido", antes dos que foram assumidos depois da eleição, como seria o do câmbio livre, houve muitos outros compromissos assumidos com nada menos do que 52 milhões de pessoas, seus eleitores.
Não se trata, pois, senão de fazer o que o governo ainda não fez: avaliar com segurança os múltiplos aspectos das posições que vem tomando, expô-los ao país e justificar, se puder, suas decisões. As desvalorizações da moeda já deviam ter passado por isso, porque, para a grande maioria da população, significam comida, remédio, vestuário, educação -vida, em uma palavra.


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