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NO AR
Corações e mentes
NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA
George W. Bush encenou
sua peça com cuidado e
dedicação. Fez diversos ensaios
do discurso, no pequeno teatro
da Casa Branca.
Na platéia de ensaio estavam
seu "diretor de comunicações" e
seu dramaturgo -o chefe dos
escritores de discursos. Em fotos
dos ensaios reproduzidas por
canais como Fox News, via-se
Bush buscando gestos e testando
falas, em mangas de camisa,
dramático.
Antes da apresentação, à
meia-noite de ontem, ele ainda
se encontrou reservadamente
com aqueles que comentariam
depois o espetáculo, no ar: seus
críticos teatrais, os âncoras das
grandes redes.
Começou por eles, pela mídia,
o esforço de ganhar o que Bush
chamou de "corações e mentes
de meus concidadãos" -só os
americanos.
Com a queda da aprovação de
Bush pelos "corações e mentes"
dos Estados Unidos, constatada
em pesquisas feitas nas últimas
semanas, é lá que vai se decidir
a guerra. É lá que está a última
esperança.
Nos vários trechos do discurso
distribuídos pela Casa Branca, o
presidente primeiro apela ao
bolso dos cidadãos.
Não comete o erro de seu pai,
que perdeu a reeleição depois de
vencer a guerra contra o mesmo
Iraque. (Foi a campanha que
deixou na história o mote "é a
economia, estúpido".)
No discurso, Bush começa pelo
fortalecimento da economia e
pela promessa de empregos e
empregos e empregos. E saúde
pública, remédios grátis, até
proteção ambiental.
Só na segunda metade entra a
guerra. Uma guerra, é claro,
contra os "homens do mal",
"evil men".
Bush não capturou Osama bin
Laden "vivo ou morto", como
prometeu, mas é ainda aquela
"guerra contra o terror" que
sustenta sua sede.
Uma sede que, na peça dele, se
mascara de "compaixão" da
nação "honrada no uso de sua
força", da nação que até mesmo
se "sacrifica pela liberdade de
estranhos".
Esse drama autoelogioso cai
bem, por lá.
O resto importa pouco.
Lula pode bradar contra as
"loucuras" da nação americana
e Míriam Leitão pode se debater
contra "a guerra do senhor
Bush" feita para a "indústria
bélica americana".
Os "Corações e mentes" daqui
não são pesquisados.
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