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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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NO AR

Corações e mentes

NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA

George W. Bush encenou sua peça com cuidado e dedicação. Fez diversos ensaios do discurso, no pequeno teatro da Casa Branca.
Na platéia de ensaio estavam seu "diretor de comunicações" e seu dramaturgo -o chefe dos escritores de discursos. Em fotos dos ensaios reproduzidas por canais como Fox News, via-se Bush buscando gestos e testando falas, em mangas de camisa, dramático.
Antes da apresentação, à meia-noite de ontem, ele ainda se encontrou reservadamente com aqueles que comentariam depois o espetáculo, no ar: seus críticos teatrais, os âncoras das grandes redes.
Começou por eles, pela mídia, o esforço de ganhar o que Bush chamou de "corações e mentes de meus concidadãos" -só os americanos.
Com a queda da aprovação de Bush pelos "corações e mentes" dos Estados Unidos, constatada em pesquisas feitas nas últimas semanas, é lá que vai se decidir a guerra. É lá que está a última esperança.
 
Nos vários trechos do discurso distribuídos pela Casa Branca, o presidente primeiro apela ao bolso dos cidadãos.
Não comete o erro de seu pai, que perdeu a reeleição depois de vencer a guerra contra o mesmo Iraque. (Foi a campanha que deixou na história o mote "é a economia, estúpido".)
No discurso, Bush começa pelo fortalecimento da economia e pela promessa de empregos e empregos e empregos. E saúde pública, remédios grátis, até proteção ambiental.
Só na segunda metade entra a guerra. Uma guerra, é claro, contra os "homens do mal", "evil men".
Bush não capturou Osama bin Laden "vivo ou morto", como prometeu, mas é ainda aquela "guerra contra o terror" que sustenta sua sede.
Uma sede que, na peça dele, se mascara de "compaixão" da nação "honrada no uso de sua força", da nação que até mesmo se "sacrifica pela liberdade de estranhos".
Esse drama autoelogioso cai bem, por lá.
 
O resto importa pouco.
Lula pode bradar contra as "loucuras" da nação americana e Míriam Leitão pode se debater contra "a guerra do senhor Bush" feita para a "indústria bélica americana".
Os "Corações e mentes" daqui não são pesquisados.


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