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Ainda há tempo hábil, diz Delcídio
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral
(PT-MS), disse que houve "um
acordo" com a CPI do Mensalão,
intermediado pelo presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PDMB-AL), pelo qual ficou decidido que a segunda comissão ficaria encarregada de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico
dos deputados do "mensalão"
-o que acabou não ocorrendo.
"Lamentavelmente. Por razões
que a própria razão desconhece",
disse o senador. Delcídio afirmou
que ainda há tempo hábil para a
CPI dos Correios adotar algumas
das medidas apontadas por técnicos ouvidos pela Folha.
A seguir, os principais trechos
da entrevista concedida na última
sexta-feira.
Folha - Técnicos consideram que
a quebra dos sigilos dos bancos Rural e BMG seria uma forma de se
checar a existência de operações
de internação de capital na época
dos empréstimos. Como o sr. vê a
medida?
Delcídio Amaral - Acho que é
uma medida importante. Talvez
um dos grandes desafios da CPI
sejam as contas internacionais
[dos investigados]. Tanto é que,
depois de muito trabalho, agora
está indo uma missão de parlamentares aos Estados Unidos na
segunda-feira.
Acho que esse [a quebra do sigilo] é um outro instrumento que
poderia ser utilizado exatamente
para olhar a questão internacional, que até agora inexistiu, apesar
das primeiras denúncias.
Até por causa desses tratados
que existem entre os dois países,
isso é uma perna que ficou absolutamente sem nenhum tipo de
trabalho na CPI.
Folha - Nenhum dos deputados
acusados de receber o "mensalão"
teve seu sigilo bancário, fiscal ou
telefônico quebrado pela CPI. Isso
seria necessário para averiguar se
houve enriquecimento ilícito. Por
que a CPI não tomou a decisão?
Delcídio - Não
quebramos por
causa desse acordo que tinha havido com a CPI do
Mensalão.
Nós simplesmente nos restringimos àquilo que
foi combinado
numa reunião
com o presidente
do Senado, Renan
Calheiros, e os três
presidentes das
CPIs.
Folha - Ficou
combinado esse
ponto específico?
Delcídio - Foi
acordado. E que
isso seria atribuição da CPI do
Mensalão [a comissão terminou
em novembro
sem relatório final], e não nossa.
Folha - E a outra CPI acabou não
fazendo.
Delcídio - Lamentavelmente. Por
razões que a própria razão desconhece.
Folha - Em nenhum momento a
CPI questionou ao Palácio do Planalto, ainda que por ofício, se de
fato ocorreram reuniões em que o
presidente Lula foi alertado sobre
a existência do "mensalão".
Delcídio - Na minha visão, por
tudo o que aconteceu ao longo
desse processo, entendíamos que
seria um questionamento absolutamente deserto. Porque haveria
simplesmente uma resposta de
que houve uma reunião de líderes
partidários, para
tratar de política.
Poderiam confirmar as agendas,
mas não necessariamente nada no
sentido de confirmar qualquer coisa [errada]. Seria
uma resposta burocrática.
Folha - A Usiminas foi, declaradamente, um caso
claro de alimentadora do "valerioduto". A empresa
declarou que fez
uma doação indireta a um parlamentar, usando o
caixa da SMPB Comunicação.
No entanto, nunca teve nenhum sigilo quebrado, para se saber se a empresa mantinha
um caixa dois para
partidos.
Delcídio - Isso é uma coisa que a
CPI tem de olhar, tem de investigar para concluir seu trabalho.
Folha - Um quarto ponto: o lobista Nilton Monteiro revelou a existência do caixa dois no PSDB de Minas Gerais. Alega também ter informações sobre o caixa dois de Furnas. Por que ele nunca foi ouvido e
seus documentos nunca foram analisados pela CPI?
Delcídio - Existem alguns requerimentos que vão ser votados. E
eu acho que, entre eles, está a convocação do Nilton, se não me engano. Esse Nilton é uma pessoa
muito polêmica, existem prós
e contras. Acho que ele não foi
ainda convocado porque o pessoal da CPI está tratando com
muito cuidado.
Se não, vamos acabar dando
uma espécie de palanque para alguém que eventualmente pode
estar usando uma situação.
Folha - Outro ponto: a CPI ainda
não recebeu a lista dos assessores
parlamentares para comparação
com pessoas que recebem recursos
das empresas de Marcos Valério
Fernandes de Souza.
Delcídio - É fundamental, para a
comissão, receber esses dados.
Folha - Muitas pessoas concordam que a rede de franqueadas é
um dos maiores focos de corrupção
nos Correios. Não houve quebra de
sigilo de nenhuma empresa, para
se saber se há políticos por trás. Por
que a CPI não conseguiu avançar
nesse ponto específico?
Delcídio - Ela vai avançar. O
[sub-relator de contratos da CPI e
deputado] José Eduardo Cardozo
[PT-SP] tem muitas oitivas ainda
para realizar, e que dependem
também de alguns requerimentos
para quebra de sigilo. Isso vai
acontecer.
Folha - Pelo que o sr. está dizendo, muitos pontos ainda vão avançar. E ainda dá tempo?
Delcídio - Vão avançar. E são importantíssimos.
Dá tempo, isso a gente consegue. Na quarta-feira, haverá uma
reunião administrativa bem ampla, e você verá o número de coisas que nós vamos fazer.
(RV)
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