São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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Ainda há tempo hábil, diz Delcídio

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse que houve "um acordo" com a CPI do Mensalão, intermediado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PDMB-AL), pelo qual ficou decidido que a segunda comissão ficaria encarregada de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos deputados do "mensalão" -o que acabou não ocorrendo.
"Lamentavelmente. Por razões que a própria razão desconhece", disse o senador. Delcídio afirmou que ainda há tempo hábil para a CPI dos Correios adotar algumas das medidas apontadas por técnicos ouvidos pela Folha.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida na última sexta-feira.
 

Folha - Técnicos consideram que a quebra dos sigilos dos bancos Rural e BMG seria uma forma de se checar a existência de operações de internação de capital na época dos empréstimos. Como o sr. vê a medida?
Delcídio Amaral -
Acho que é uma medida importante. Talvez um dos grandes desafios da CPI sejam as contas internacionais [dos investigados]. Tanto é que, depois de muito trabalho, agora está indo uma missão de parlamentares aos Estados Unidos na segunda-feira.
Acho que esse [a quebra do sigilo] é um outro instrumento que poderia ser utilizado exatamente para olhar a questão internacional, que até agora inexistiu, apesar das primeiras denúncias.
Até por causa desses tratados que existem entre os dois países, isso é uma perna que ficou absolutamente sem nenhum tipo de trabalho na CPI.

Folha - Nenhum dos deputados acusados de receber o "mensalão" teve seu sigilo bancário, fiscal ou telefônico quebrado pela CPI. Isso seria necessário para averiguar se houve enriquecimento ilícito. Por que a CPI não tomou a decisão?
Delcídio -
Não quebramos por causa desse acordo que tinha havido com a CPI do Mensalão.
Nós simplesmente nos restringimos àquilo que foi combinado numa reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e os três presidentes das CPIs.

Folha - Ficou combinado esse ponto específico?
Delcídio -
Foi acordado. E que isso seria atribuição da CPI do Mensalão [a comissão terminou em novembro sem relatório final], e não nossa.

Folha - E a outra CPI acabou não fazendo.
Delcídio -
Lamentavelmente. Por razões que a própria razão desconhece.

Folha - Em nenhum momento a CPI questionou ao Palácio do Planalto, ainda que por ofício, se de fato ocorreram reuniões em que o presidente Lula foi alertado sobre a existência do "mensalão".
Delcídio -
Na minha visão, por tudo o que aconteceu ao longo desse processo, entendíamos que seria um questionamento absolutamente deserto. Porque haveria simplesmente uma resposta de que houve uma reunião de líderes partidários, para tratar de política. Poderiam confirmar as agendas, mas não necessariamente nada no sentido de confirmar qualquer coisa [errada]. Seria uma resposta burocrática.

Folha - A Usiminas foi, declaradamente, um caso claro de alimentadora do "valerioduto". A empresa declarou que fez uma doação indireta a um parlamentar, usando o caixa da SMPB Comunicação.
No entanto, nunca teve nenhum sigilo quebrado, para se saber se a empresa mantinha um caixa dois para partidos.
Delcídio -
Isso é uma coisa que a CPI tem de olhar, tem de investigar para concluir seu trabalho.

Folha - Um quarto ponto: o lobista Nilton Monteiro revelou a existência do caixa dois no PSDB de Minas Gerais. Alega também ter informações sobre o caixa dois de Furnas. Por que ele nunca foi ouvido e seus documentos nunca foram analisados pela CPI?
Delcídio -
Existem alguns requerimentos que vão ser votados. E eu acho que, entre eles, está a convocação do Nilton, se não me engano. Esse Nilton é uma pessoa muito polêmica, existem prós e contras. Acho que ele não foi ainda convocado porque o pessoal da CPI está tratando com muito cuidado.
Se não, vamos acabar dando uma espécie de palanque para alguém que eventualmente pode estar usando uma situação.

Folha - Outro ponto: a CPI ainda não recebeu a lista dos assessores parlamentares para comparação com pessoas que recebem recursos das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza.
Delcídio -
É fundamental, para a comissão, receber esses dados.

Folha - Muitas pessoas concordam que a rede de franqueadas é um dos maiores focos de corrupção nos Correios. Não houve quebra de sigilo de nenhuma empresa, para se saber se há políticos por trás. Por que a CPI não conseguiu avançar nesse ponto específico?
Delcídio -
Ela vai avançar. O [sub-relator de contratos da CPI e deputado] José Eduardo Cardozo [PT-SP] tem muitas oitivas ainda para realizar, e que dependem também de alguns requerimentos para quebra de sigilo. Isso vai acontecer.

Folha - Pelo que o sr. está dizendo, muitos pontos ainda vão avançar. E ainda dá tempo?
Delcídio -
Vão avançar. E são importantíssimos.
Dá tempo, isso a gente consegue. Na quarta-feira, haverá uma reunião administrativa bem ampla, e você verá o número de coisas que nós vamos fazer. (RV)


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