São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

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Em 4 anos, patrimônio de Chinaglia aumenta 179%

Evolução é muito maior que a de Aldo (46%) e Fruet (42%), seus rivais na Câmara

Bem mais valioso do petista, participação em um posto foi comprada em 2005, mas seu nome não consta nem na Junta nem em cartórios

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O patrimônio do deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP), 57, candidato a presidente da Câmara dos Deputados, cresceu 179% entre 2002 e 2006, já descontada a inflação. Entre os três candidatos, foi de longe o que teve melhor desempenho - Aldo Rebelo (PC do B-SP) anotou 45,6% e Gustavo Fruet (PSDB-PR), 41,5%.
Em valores nominais, Chinaglia saltou de R$ 157,4 mil, em 2002, para R$ 607,8 mil em junho de 2006. Foi o maior aumento real entre os três deputados em valor absoluto.
Por e-mail, Chinaglia disse que seu patrimônio teve "um aumento de R$ 387,1 mil" entre o final de 2002 e final de 2005 (a declaração entregue à Justiça Eleitoral é de julho de 2006).
Segundo o deputado, os seus rendimentos no mesmo período foram de "R$ 774,1 mil".
Pelos números do deputado, ele teria que ter poupado aproximadamente mais da metade do salário líquido (na Câmara, são R$ 12,9 mil brutos).
De 2002 a 2006, o patrimônio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cresceu 59% fora a inflação -um terço do aumento de Chinaglia. O Planalto diz que Lula consegue economizar seu salário porque o cargo banca as despesas pessoais.
Parlamentares, como Chinaglia, não têm o mesmo privilégio. O desempenho do petista foi expressivo entre 2002 e 2006, mas mínimo entre 1998 e 2002. Passou de R$ 123,3 mil para R$ 157,4 mil. Considerando a inflação do período, o deputado pode até ter perdido patrimônio no mandato anterior.
Uma pequena parte do crescimento de 2006, R$ 29 mil, é justificada pela atualização do valor de um apartamento. Descontado esse valor, o crescimento real ainda fica em 168%.
Numa curta e única entrevista à Folha sobre o assunto, na última sexta, Chinaglia disse que nos últimos quatro anos não obteve nenhum ganho adicional com herança ou indenização nem obteve outro tipo de renda. Viveu apenas do salário.
"Estou começando a fazer o levantamento de quanto recebi líquido. Posso depois olhar com precisão. Nesses quatro anos, se as informações estão corretas, recebi líquido mais de 600 e tantos mil reais. Tem a ver, então, com quanto gastei ou não gastei", disse Chinaglia, que deixou a resposta pela metade e, no sábado, enviou um e-mail (leia texto abaixo).
O bem mais valioso de Chinaglia foi adquirido em 2005. Ele se tornou dono de metade de um posto de gasolina em Osasco (SP), embora a propriedade não esteja registrada em seu nome na Junta Comercial ou em cartórios da cidade.
Chinaglia informou à Justiça Eleitoral ter R$ 150 mil em "sociedade em conta de participação", mas não especificou o negócio. Ele assinou um instrumento particular sem registro formal com o candidato derrotado ao governo paulista em 2006 pelo PSDC, Antônio da Cunha Lima, ex-deputado federal, que tem outros quatro postos em São Paulo.
Advogados consultados pela reportagem, ligados tanto ao PT quanto ao PSDB, disseram que a falta de registro em cartório ou Junta Comercial da propriedade do posto, em tese, não configura ilegalidade. Mas observaram que a transparência foi prejudicada.
Na declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral, Chinaglia escreveu manter R$ 150 mil em "sociedade em cota de participação" com Lima, mas não especificou o objetivo da sociedade nem identificou corretamente o ex-deputado.
Cunha Lima é citado apenas nominalmente na declaração, sem qualquer outra identificação adicional, como o número de CPF (Cadastro de Pessoa Física). Localizado pela Folha após uma pesquisa com cinco homônimos, o ex-parlamentar disse que Chinaglia pagou sua participação no Auto Posto Chicão à vista, em cheque.
Indagado se, no registro da empresa na Junta Comercial, Chinaglia aparece como dono, Cunha Lima negou. Segundo ele, o dono da empresa, no papel, é sua holding ADCL Distribuidora de Combustíveis. "Não, não é. Na Junta sou eu e uma empresa minha. Por cota de participação, ele [Chinaglia] é dono daquele negócio [específico da holding]", afirmou.


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