São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

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Brasil é o maior país pentecostal

Levantamento mostra que grupo de 24 milhões de fiéis brasileiros não tem equivalente no mundo

Institutos dos EUA traçam o tamanho e o perfil dos seguidores dessas igrejas, que, no Brasil, ainda são minoria diante dos católicos

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil é hoje o maior país pentecostal do mundo. Levantamento de um instituto americano indica que o país reúne 24 milhões de seguidores de igrejas como a Universal do Reino de Deus, a Assembléia de Deus e a Renascer em Cristo.
Os dados constam de relatório do World Christian Database, base de dados elaborada pelo Seminário de Teologia Gordon-Conwell, um dos quatro maiores dos EUA, sem ligação com nenhuma vertente cristã.
O levantamento é feito no mundo inteiro a partir de consultadas às igrejas cristãs checadas com trabalho de pesquisa de campo, um processo caro.
Os dados de 2006 indicam que os pentecostais brasileiros superam por larga margem os 5,8 milhões de pentecostais dos EUA, onde essa vertente do protestantismo surgiu no começo do século 20 em reação à presumida falta de fervor evangélico entre os metodistas.
No Brasil, a grande maioria dos evangélicos é pentecostal. Eles acreditam nos dons do Espírito Santo, no exorcismo e em curas espirituais.
Os pentescostais brasileiros formam hoje um grupo equivalente, por exemplo, à população muçulmana do Iraque, segundo os dados do "World Factbook" da CIA, a agência norte-americana de inteligência.
Apesar do grande crescimento que experimentou nas últimas décadas, o grupo pentecostal no Brasil ainda é muito inferior à maioria católica. Especialistas ouvidos pela Folha estimam, a partir do Censo de 2000, que existam 138 milhões de católicos no país hoje. O Brasil continua sendo o maior país católico do mundo.

Costumes
Uma outra pesquisa, feita pela fundação americana Pew Forum, que estuda a influência da religião na sociedade, mostra que 62% dos fiéis brasileiros não nasceram pentecostais. Foram convertidos -45% deles a partir do catolicismo.
O estudo da Pew Forum, divulgado no final do ano passado, chama-se "Espírito e Poder -análise dos pentecostais de 10 países". A entidades foi a dez países (EUA, Brasil, Chile, Guatemala, Quênia, Nigéria, África do Sul, Índia, Filipinas e Coréia do Sul) para saber como crêem e o que defendem os pentecostais em cada um desses lugares.
A pesquisa mostra, por exemplo, que 73% dos pentecostais brasileiros acham que os líderes políticos devem ter fortes convicções religiosas e que 65% deles acreditam que grupos religiosos devem expressar suas convicções políticas. Ao todo, 83% dos pentecostais brasileiros acham que o país vive um declínio moral.
Entre a população como um todo, esses números caem, para os dois primeiro índices, a 57%. Para moral, vai a 79%.
Nos EUA, 87% dos pentecostais acham que seus líderes políticos devem comungar suas fortes convicções religiosas e 79% declararam que grupos religiosos devem ter influência política. Todos os números que têm alguma relação com uma agenda política são maiores que os dados brasileiros. Com uma exceção: o declínio moral, que é visto como grave problema por 62% dos fiéis dos EUA.

"Nos EUA, o pentecostalismo teve uma ligação muito forte com os movimentos negros. No Brasil, restou a batalha moral, porque o Estado sempre foi mais próximo dos católicos", diz Luiz Felipe Pondé, professor de teologia da PUC-SP.
Para ter idéia do peso da moral na agenda pentecostal, a bancada de pastores na Câmara dos Deputados no Brasil caiu pela metade na eleição passada. Foi para 30 deputados devido ao envolvimento de pastores parlamentares em escândalos.
A bandeira moral erguida pelos pentecostais brasileiros também está adaptada ao conjunto da população.
Entre os pentecostais dos países pesquisados pela Pew, o Brasil é o segundo que mais tolera o divórcio: 37% dizem reprovar a separação de casais contra 15% do total da sociedade em geral. Nas Filipinas, o número sobe para 84% entre os pentecostais e para 70% no geral. Em compensação, o Brasil está entre os que mais reprovam o aborto: 91% dos pentecostais contra 79% ao todo. Nos EUA, esses dados caem para 64% e 45%, respectivamente.
"O interessante da pesquisa é que mostra que a religião não é a única fonte de valores para as pessoas", afirma o sociólogo e professor titular aposentado da USP Reginaldo Prandi.
Apenas em um item abre-se um abismo entre os pentecostais e às outras pessoas: o fervor religioso. Entre os entrevistados pela Pew Forum, 86% dos pentecostais dizem que vão à igreja ao menos uma vez por semana. Na população como um todo, o dado cai para 38%. Quando o assunto é leitura da Bíblia, 51% dos pentecostais dizem ler o livro sagrado todo dia, contra 16% das demais pessoas.


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