São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2008

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Presidente do Rural culpa dirigentes mortos

Kátia Rabello diz que o publicitário Marcos Valério agia como intermediário entre banco e José Dirceu

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, 36, procurou ontem, em seu interrogatório no processo do mensalão, atribuir eventuais crimes na gestão do banco a dirigentes já mortos da instituição. Nas considerações finais, a banqueira pediu para ser registrado que "é extremamente injusto imputar às pessoas que ficaram [na gestão do banco] e tentaram administrar aquele legado, qualquer ônus pelo que foi feito no passado".
Ela se referia às mortes, de 1999 a 2005, de três membros da cúpula do Rural -sua irmã e presidente, Junia Rabello, o vice-presidente, José Augusto Dumont, e seu pai e fundador do banco, Sabino Rabello.
Ao longo do interrogatório, Rabello já havia citado Dumont como responsável pelos contatos políticos do banco. Disse, por exemplo, que só soube que os empréstimos a Marcos Valério no Rural tinham como destino o PT após a morte do dirigente, em abril de 2004.
Rabello confirmou, contudo, que ela passou a ser a interlocutora de Valério no banco após a morte de Dumont. Afirmou também ter sido ela, quando superintendente de marketing do Rural, que contratou a agência SMPB, então de Valério, para atender a conta do banco.
Disse que Valério agia apenas como intermediário entre o Rural e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "Ele nos informava da disponibilidade da agenda do ex-ministro."
Rabello procurou explicar o termo "facilitador", que usou em 2005 para descrever Valério -a expressão foi empregada pois ele conhecia meandros da liqüidação do Banco Mercantil de Pernambuco, de interesse do banco junto ao governo.
A banqueira citou três encontros com Dirceu. Um entre Sabino Rabello e o ex-ministro, em 2003; outro entre ela, Valério, Dirceu e Dumont, em data não especificada; e um jantar entre ela, Dirceu e um assessor dela, em agosto de 2004. Os dois primeiros ocorreram no Palácio do Planalto e o último, em um hotel da capital mineira.
Rabello diz que tratou com Dirceu apenas da liqüidação do Mercantil, do qual o Rural é sócio minoritário e tentava suspender sua liqüidação. Disse ainda que, para o Rural, os beneficiários dos saques feitos pela SMPB, de Valério, sempre foram a própria agência de publicidade, e que o banco nunca omitiu nome de sacadores.
Ela afirmou que "jamais participou" da concessão dos empréstimos que Valério repassou ao PT, e disse ter atuado somente em duas votações de renovação de empréstimo do banco ao PT, manifestando-se a favor da renovação. "Banco vive de emprestar dinheiro."


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