São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

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"Sem desejar", Sarney agora diz ser candidato

Após negar por 5 meses que disputaria presidência do Senado, peemedebista oficializa seu nome e usa crise mundial como justificativa

Ex-presidente irrita Tião Viana ao pregar candidatura de unidade e sugerir que petista desista de disputar cargo na próxima segunda


Ricardo Marques/Folha Imagem
O presidente do Senado, Garibaldi Alves, e o candidato à sua sucessão José Sarney em reunião do PMDB sobre a eleição na Casa

LETÍCIA SANDER
ADRIANO CEOLIN

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com um discurso cheio de mea-culpas e insinuações de que seu adversário deveria desistir da disputa, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) contrariou o que vinha dizendo há cinco meses e oficializou ontem, após almoço da bancada do partido, sua candidatura à presidência do Senado.
Em sabatina realizada pela Folha em agosto passado ele fora taxativo: "O que posso adiantar é que não serei candidato. Não quero ser presidente de nada". Depois disso, repetiu o discurso a senadores, ministros e ao presidente Lula, a quem em quatro ocasiões afirmou que não estaria na disputa.
Ontem, ao formalizar que mudara de ideia, ele alegou que não poderia pensar no próprio bem-estar, abdicando de "prestar um serviço para o país", e citou a crise financeira como uma das razões para a candidatura. "Não queria, resisti, mas eu acho que é importante a minha candidatura num momento como esse em que há uma crise mundial", afirmou.
"Não desejei. Mas não pude deixar de atender as solicitações que recebi do partido, de muitos senadores de nossa Casa, de todos os partidos e de alguns setores da sociedade."
Na primeira entrevista como candidato oficial, Sarney negou em público o que senadores de seu próprio partido admitem nos bastidores: que a projeção da presidência do Senado dará a seu grupo mais força nas articulações para 2010. "Ao contrário, me tomará mais tempo o próprio Senado, em detrimento das articulações políticas."
O peemedebista disputará o cargo com Tião Viana (AC), senador do PT que em dezembro anunciou que disputaria o cargo. Mas ontem Sarney deixou claro que seu grupo ainda trabalha com a possibilidade de fazer dele candidato único. "Não queria [que houvesse disputa]. Muito melhor se tivéssemos uma candidatura de unidade."
Viana, horas depois, demonstrou irritação com as declarações do colega. "Ele cometeu mais uma indelicadeza ao sugerir que eu renunciasse. Se tem uma candidatura que deve ser repensada é a dele, que não disse a que veio, além de ter dado a palavra de que não seria candidato por cinco vezes", afirmou.
Sarney entra na disputa como favorito, com votos em quase todas as bancadas. Ontem, havia expectativa que o PSDB oficializasse apoio a ele, o que não ocorreu. "Não excluímos votar no Tião. Da outra vez, perdemos com o José Agripino [DEM-RN], por que não podemos perder com ele [Tião], que tem se demonstrado honrado?", disse, à noite, Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB.
Confiante na vitória, o PMDB colocou obstáculos para acomodar os tucanos Tasso Jereissati (CE) na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) e Eduardo Azeredo (MG) na CRE (Relações Exteriores).
Além das duas comissões, o PSDB quer emplacar Marconi Perillo (GO) na primeira vice-presidência e ainda deseja a quarta secretaria. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), negou, no entanto, que o partido esteja negociando cargos. Ontem, o partido encaminhou uma carta de reivindicações para os dois candidatos.


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