São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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Estresse pode levar a crise pessoas sem hipertensão

Sobrepeso, má alimentação e privação de sono também são fatores de risco

Metade da população brasileira com mais de 60 anos sofre de hipertensão; a doença é responsável por 50% dos infartos no país

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma reunião de fatores de risco, como sobrepeso, estresse, privação de sono e má alimentação, pode desencadear uma crise de pressão alta em pessoas que não sofrem de hipertensão arterial.
Crises desse tipo, no entanto, são muito mais comuns em pacientes com a doença estabelecida, explica o cardiologista Marcus Bolivar Malachias, presidente do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
"O presidente Lula pode ter sofrido um conjunto de problemas, como idade, má alimentação, privação de sono e estresse, que contribuíram para a crise. Mesmo que tenha pressão normal, é compreensível a elevação nesse caso", diz o médico.
O estresse é um dos principais desencadeantes da elevação aguda da pressão arterial. Durante o momento de tensão, vários hormônios são disparados na corrente sanguínea, entre eles a adrenalina e o cortisol. Essas substâncias têm ação vasoconstritora (favorecem a contração das artérias), o que pode aumentar a pressão.
"Parece-me que o estresse foi o grande problema. O presidente iria a Davos receber um prêmio. Mesmo sendo um estresse agradável, pode mexer com a pressão. Agora, se os exames mostrarem que ele tem pressão alta, a crise pode ter ocorrido por excesso de sal, sedentarismo e consumo de álcool", diz Décio Mion, chefe da Unidade de Hipertensão do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O longo voo até Davos não traria, isoladamente, riscos maiores ao presidente. "As cabines mantêm um nível mais baixo, mas adequado de pressão e oxigênio. Mas poderia ser um fator complementar", pondera Malachias. No caso, o principal risco seria manter a pressão muito alta durante muito tempo até obter socorro.
"Uma pressão arterial de 180 mmHg x 120 mmHg é alta mesmo. Não convém uma pessoa pessoa ficar com essa pressão por muito tempo, pois pode haver consequências [em outros órgãos, como coração, cérebro e rins]", diz Mion.
O controle da crise é feito com remédios e com a eliminação dos fatores desencadeantes. São indicados repouso, readequação alimentar e mudanças de outros hábitos que podem ter disparado o evento.

Doença frequente
Acima dos 60 anos, metade da população brasileira sofre de hipertensão. A doença é responsável por 60% dos acidentes vasculares cerebrais e 50% dos infartos, problemas cardiovasculares que mais matam no Brasil -são cerca de 300 mil mortes por ano.
O excesso no consumo de sal é um dos fatores de risco controláveis da doença. A recomendação é de ingestão de 6 g do ingrediente por dia. Pesquisas mostram que os brasileiros consomem, em média, 12 g.
O sal favorece a retenção de água, que gera aumento no volume do sangue e consequente elevação a pressão do sangue. "Além disso, é um potente constritor, diminuindo a produção de óxido nítrico pela parede das artérias, que tem ação dilatadora", diz Malachias.


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