São Paulo, terça-feira, 29 de fevereiro de 2000


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RIO
Sérgio Gomes, da Caci, diz ter sido apresentado a acusado no esquema PC no gabinete do chefe da Cehab
Diretor liga La Salvia a Eduardo Cunha

MARCELO BERABA
Diretor da Sucursal do Rio

O diretor da empresa de informática Caci, Sérgio Mauro Gomes, informou ontem que foi apresentado a Jorge La Salvia, acusado em vários processos de ter participado do esquema PC, no gabinete de Eduardo Cunha, presidente da Cehab (Companhia Estadual de Habitação) do governo Anthony Garotinho (PDT-RJ).
Cunha, que pertenceu ao PRN e foi presidente da Telerj no período Collor, havia informado à Folha, na sexta-feira, que desde que assumiu a Cehab não havia visto e nem recebido La Salvia.
Gomes tem outra versão. "Eu fui uma vez na Cehab entregar um convite para a inauguração da nossa filial em Brasília. Foi no gabinete do doutor Cunha, onde estavam quatro ou cinco pessoas e uma destas me foi apresentada como o senhor Jorge La Salvia."
Ainda segundo Eduardo Cunha, La Salvia vinha frequentando a Cehab por ser o representante da Caci em processos de licitações. Sérgio Mauro Gomes negou inicialmente esta informação. Por volta das 10h de ontem, por telefone, ele foi veemente e repetitivo em suas negativas. Disse várias vezes que La Salvia nunca representou a Caci.
No final da tarde, no entanto, enviou um fax para a Folha em que informava: "Em aditamento ao contato telefônico mantido nesta data, informo ter tomado conhecimento que o sr. Jorge La Salvia esteve atuando como Consultor da nossa empresa no processo de licitação nº 026/99 da Cehab-RJ. A divergência acerca da posição informada anteriormente deve-se ao fato de ter sido o mesmo contratado por outra diretoria."
A licitação da qual La Salvia teria participado está paralisada na Justiça. Outra licitação ganha pela Caci tem vários indícios de irregularidades. Foi uma licitação para regularizar 1.100 contratos de financiamento habitacional junto ao Fundo de Compensação de Variações Salariais administrado pela Caixa Econômica Federal.
Uma das supostas irregularidades diz respeito à data de assinatura do contrato da Cehab com a Caci, 1º de novembro. Naquela dada, a diretoria da Cehab ainda discutia o que fazer com os contratos e não havia se definido por nenhuma forma de licitação. O assunto estava sendo estudado pelo diretor financeiro, Marcos Brandão, que havia tomado posse dia 22 de outubro e a quem caberia, caso houvesse um contrato, também assiná-lo. Brandão deixou a Cehab dia 2 de dezembro de 99 desconhecendo o documento.
Segundo Brandão, "se o contrato data de 1º de novembro, deve ser uma montagem. Talvez para prejudicar o próprio presidente da empresa. Porque nesta data ainda não havia qualquer decisão sobre o que fazer para regularizar os contratos com cláusula de FCVS junto à Caixa Econômica Federal. Estávamos estudando várias soluções e, portanto, não havia nem sequer sido feita qualquer licitação."
A Folha solicitou a Cunha cópia do contrato. Ele informou inicialmente que enviaria a cópia. Mais tarde, enviou uma carta em que diz que, por determinação da Secretaria Executiva do gabinete do governador, "não poderá haver liberação de quaisquer documentos sobre o assunto" nos próximos 30 dias, enquanto durar a sindicância interna aberta ontem para apurar a participação de La Salvia na Cehab.
A Folha recebeu também ofício da Cehab em que solicita cópia da fita gravada pelo jornal com as secretárias do gabinete de Eduardo Cunha em que fica claro que La Salvia frequentava a empresa.
Cunha e La Salvia foram personagens importantes durante o governo Collor (15/3/90 a 2/ 10/92, quando sofreu o impeachment).
Cunha era secretário da Executiva do PRN no Rio em 89, durante a eleição presidencial. Ele dirigiu a Telerj entre 15/2/91 e 20/4/ 93, quando foi substituído, já no governo Itamar Franco, por José de Castro. Durante o Collorgate, foi envolvido em pelo menos um dos processos que investigou contas fantasmas do esquema PC.
Ele conseguiu, no entanto, por meio de acórdão da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal, o trancamento da ação em que era réu junto com Jorge La Salvia e outros 39.
La Salvia, argentino naturalizado brasileiro, responde a pelo menos quatro processos na Justiça Federal oriundos do período Collor. Em um deles é um dos réus de um processo sobre contas fantasmas e doleiros. Em outros três, é acusado de sonegação fiscal com a sua mulher -que é processada em uma quarta ação.


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