São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Principais partidos da situação e da oposição usam seus sites para noticiar os mesmos fatos, mas de formas totalmente diferentes

Petistas e tucanos travam batalha de versões na internet

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O bate-boca entre a base do governo e a oposição não se restringe mais aos plenários do Congresso e às declarações que saem na imprensa. Os partidos ampliaram o campo de batalha também para a internet, em seus próprios sites.
Quem fica no meio dessa batalha virtual é bombardeado por versões as mais díspares possíveis (leia quadro ao lado). O caso Waldomiro Diniz é um bom exemplo.
Logo na sexta-feira em que o escândalo envolvendo o ex-subchefe da Presidência veio à tona, o site do PT estampou a seguinte manchete: "Genoino: PT não compartilha com corrupção".
O PSDB não perdeu tempo. Usou seu site para cumprir o papel de oposição: "Resvala no cinismo a afirmação dos petistas de que o governo já fez tudo que tinha que fazer, demitiu o Waldomiro e abriu inquérito para apurar o caso da propina".
Com ironia, o partido tucano completou: "Se Dirceu teve alguma iniciativa contra a corrupção, não se sabe. Sabe-se, porém, que foi dele a indicação de Waldomiro Diniz para ser subchefe de a$$untos parlamentare$ [sic]. A propósito, se Waldomiro era o subchefe, quem era o chefe?".
A resposta dos petistas, em tempo real: "O presidente do PT, José Genoino, disse que os tucanos querem esticar a disputa de 2002 para as eleições municipais e por isso requentaram a denúncia".
Essa batalha da informação é alimentada por versões apresentadas como se fossem notícia jornalística. As páginas do PT e do PSDB têm até uma sessão de "últimas notícias", imitando os grandes sites que transmitem os acontecimentos em tempo real.
Se quiserem, os militantes nem precisam acessar os sites. Todos os dias, o PT envia o informativo on-line "Linha Aberta" para 113 mil cadastrados. O PSDB faz o mesmo com o "Diário Tucano" e o "Boletim Tucano", que chegam a 10 mil computadores.
Os sites se pautam pelos mesmos assuntos do dia-a-dia político. Anteontem, por exemplo, PT e PSDB deram destaque à interinidade do deputado João Paulo Cunha na Presidência da República.
Os petistas não comentaram muito: "O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), assumiu a Presidência da República na tarde desta quinta-feira até a noite de sábado". Já os tucanos: "Aonde chegamos? João Paulo Cunha assumiu e o máximo que conseguiu dizer até agora foi que estamos na Quaresma e que o momento exige reflexão".

"Bom jornalismo"
No caso do PT, as informações saem de São Paulo, do trabalho de cinco jornalistas. O PSDB mantém uma equipe de cinco pessoas na sede do partido, em Brasília, e dois jornalistas no Congresso.
Ao comentar o quanto seus sites são imparciais, os responsáveis pelo departamento de comunicação repetem o mesmo discurso.
"A orientação principal é manter o compromisso com a verdade, como manda o jornalismo profissional", diz Sílvio Pereira, do Partido dos Trabalhadores.
"Não pode inventar nem distorcer a realidade. É preciso ater-se aos fatos para que o leitor tire sua própria conclusão", confirma José Natal, do PSDB.
"Jornalismo partidário é jornalismo parcial", esclarece o professor Adolpho Queiroz, do programa de pós-graduação da Universidade Metodista de São Paulo, especializado em comunicação política. "Os partidos só mostram aquilo que lhes interessa."
Por isso, diz o professor, as notícias dos partidos não devem ser tomadas como jornalismo, mas como marketing. "No discurso partidário, o fato não é mostrado com todas as suas versões, como manda o jornalismo. Isso é perigoso porque quem lê pode imaginar que aquela seja a única versão", completa ele.
A internet foi descoberta pelos políticos brasileiros em meados dos anos 90. Mas, para Queiroz, a maioria dos partidos ainda não se deu conta do poder da internet -petistas e tucanos são exceções. "Os partidos deveriam perceber que podem transmitir seus conteúdos ideológicos para o país inteiro a custo praticamente zero e numa velocidade que há dez anos era impensável", aconselha.



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