São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Blitz em Alagoas liberta mais 550 trabalhadores de usinas

Força-tarefa encontrou empregados alojados em locais insalubres e sem água potável

"Os trabalhadores dormiam no chão, grudados um no outro, igual a uma cela superlotada", afirmou Luiz Carlos Cruz, do grupo móvel

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Em uma megablitz em usinas de cana-de-açúcar em Alagoas, uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho e do grupo móvel do Ministério do Trabalho encontrou mais de 550 trabalhadores em condições degradantes em Rio Largo, Marechal Deodoro e Cajueiro.
Na sexta-feira, já havia ocorrido uma operação na usina Laginha, do grupo João Lyra (candidato derrotado ao governo do Estado pelo PTB e um dos maiores usineiros do país), em União dos Palmares. No início, foram alcançadas 61 pessoas, mas, como oito delas não moravam nos alojamentos, o número final de resgatados foi 53, segundo o grupo móvel.
No local, os fiscais dizem ter encontrado trabalhadores sem equipamentos de proteção, vivendo em alojamentos insalubres e sem água potável. Ontem, o corte da cana-de-açúcar foi interditado pela Justiça.
Outra fiscalização também envolveu um dos grandes grupos do Estado: o Toledo. Nas usinas Capricho e Sumaúma, cerca de 200 pessoas foram encontradas em alojamentos precários, de acordo com os fiscais.
"Com certeza, a situação ali nos alojamentos era a pior de todas, insuportável. Os trabalhadores dormiam no chão, grudados um no outro, igual a uma cela superlotada", afirmou o subcoordenador do grupo móvel, Luiz Carlos Cruz.
De acordo com o auditor, a primeira operação no setor sucroalcooleiro no Nordeste mostra que "não há como vender álcool para o exterior com esse tipo de procedimento". "Há descumprimento dos direitos humanos", afirma.
O álcool vendido pelo grupo Toledo tem como principais destinos a América do Norte, o Japão e a Coréia.
Segundo o grupo móvel, uma outra operação, na usina Santa Clotilde, no município de Rio Largo, também verificou 353 trabalhadores em condição degradante. Em razão de uma liminar, os contratos ainda não foram rescindidos.
Os auditores-fiscais afirmam que os quartos onde dormiam os homens não tinham janelas -apenas frisos na parte superior da parede-, as camas de cimento possuíam apenas espuma e só era fornecido feijão como alimento. De acordo com os fiscais, os trabalhadores dizem que se sentiam "humilhados", como "escravos".
Nesta semana, várias usinas de álcool e açúcar estão sendo inspecionadas pela força-tarefa. A operação foi batizada pelo Ministério Público do Trabalho de "Zumbi dos Palmares".
Os resgates em Alagoas já correspondem a 10% do total de libertações feitas pelo grupo móvel em todo o ano passado (5.877). Em 2007, mais da metade das pessoas resgatadas em condições degradantes ou análogas à escravidão no Brasil (3.117) saíram de usinas de cana-de-açúcar.


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