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Em cidade tomada por fiscais, prefeito Macarrão distribui pão às massas
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAILÂNDIA (PA)
O sol ainda não havia nascido em Tailândia (a 218 km de
Belém, PA), mas a desempregada Luizangela Nunes, 28, já
estava em frente à fazenda onde mora o prefeito Paulo Jasper (eleito pelo PSDB e atualmente sem partido), a seis
quilômetros da cidade.
Ex-cozinheira de uma serraria suspeita de manter estoques ilegais de madeira, Nunes queria garantir uma das
5.000 cestas básicas que seriam doadas pela prefeitura.
Centenas de pessoas, desempregadas como ela, tiveram a mesma idéia: às 9h, milhares de moradores disputavam espaço no caos das filas.
O município, que tem 67
mil habitantes e vive da atividade de madeireiras e carvoarias, passa por uma crise econômica provocada pela fiscalização de irregularidades na
extração e venda de madeira
ilegal. Tailândia está tomada
por forças federais que investigam o desmatamento.
Em frente à fazenda, a primeira-dama e secretária municipal de Assistência Social,
Higia Frota, comandava pessoalmente a distribuição. Pedia calma às pessoas e pressa à
organização. Às 9h10, mandou abrir as portas do caminhão que trazia os alimentos.
Dezenas de mãos se ergueram na hora, na tentativa de
receber a primeira sacola. As
mulheres tiveram preferência. Muitas carregavam bebês.
Às 9h30, Luizangela Nunes
finalmente foi embora. Levou
para casa 2 kg de arroz, 1 kg de
feijão preto, 2 kg de fubá, 1 kg
de açúcar, um litro de óleo,
carne enlatada, um pacote de
macarrão, além de 250 g de
leite em pó e 500 g de café. "A
família já estava passando fome, mas hoje o almoço está
garantido." Ela ainda levou 2
dos 1.500 pães franceses distribuídos no local juntamente
com 200 pacotes de biscoito.
No auge da ação, o prefeito
surgiu a bordo de uma van. O
veículo parou em frente ao caminhão, e Macarrão, como é
conhecido, saiu de braços erguidos, saudando a multidão,
que gritava seu apelido. Em
menos de uma hora, o estoque
acabou -ainda havia filas.
Os acostamentos da rodovia
PA-150, que liga a fazenda ao
centro, congestionaram com
o movimento de bicicletas.
O prefeito, que foi reeleito, e
a primeira-dama não deram
entrevistas. O secretário de
Administração, Cristóvão
Pinto, não soube dizer quanto
foi gasto. Disse que ação aconteceu na frente da casa do prefeito porque o local é "muito
visitado pela população e tinha mais estrutura".
O governo estadual não comentou a ação, mas disse buscar alternativas para compensar as perdas de quem "dependia de uma atividade ilegal".
Colaborou MATHEUS PICHONELLI, da Agência Folha
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