São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Em cidade tomada por fiscais, prefeito Macarrão distribui pão às massas

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAILÂNDIA (PA)

O sol ainda não havia nascido em Tailândia (a 218 km de Belém, PA), mas a desempregada Luizangela Nunes, 28, já estava em frente à fazenda onde mora o prefeito Paulo Jasper (eleito pelo PSDB e atualmente sem partido), a seis quilômetros da cidade.
Ex-cozinheira de uma serraria suspeita de manter estoques ilegais de madeira, Nunes queria garantir uma das 5.000 cestas básicas que seriam doadas pela prefeitura. Centenas de pessoas, desempregadas como ela, tiveram a mesma idéia: às 9h, milhares de moradores disputavam espaço no caos das filas. O município, que tem 67 mil habitantes e vive da atividade de madeireiras e carvoarias, passa por uma crise econômica provocada pela fiscalização de irregularidades na extração e venda de madeira ilegal. Tailândia está tomada por forças federais que investigam o desmatamento.
Em frente à fazenda, a primeira-dama e secretária municipal de Assistência Social, Higia Frota, comandava pessoalmente a distribuição. Pedia calma às pessoas e pressa à organização. Às 9h10, mandou abrir as portas do caminhão que trazia os alimentos. Dezenas de mãos se ergueram na hora, na tentativa de receber a primeira sacola. As mulheres tiveram preferência. Muitas carregavam bebês.
Às 9h30, Luizangela Nunes finalmente foi embora. Levou para casa 2 kg de arroz, 1 kg de feijão preto, 2 kg de fubá, 1 kg de açúcar, um litro de óleo, carne enlatada, um pacote de macarrão, além de 250 g de leite em pó e 500 g de café. "A família já estava passando fome, mas hoje o almoço está garantido." Ela ainda levou 2 dos 1.500 pães franceses distribuídos no local juntamente com 200 pacotes de biscoito.
No auge da ação, o prefeito surgiu a bordo de uma van. O veículo parou em frente ao caminhão, e Macarrão, como é conhecido, saiu de braços erguidos, saudando a multidão, que gritava seu apelido. Em menos de uma hora, o estoque acabou -ainda havia filas. Os acostamentos da rodovia PA-150, que liga a fazenda ao centro, congestionaram com o movimento de bicicletas.
O prefeito, que foi reeleito, e a primeira-dama não deram entrevistas. O secretário de Administração, Cristóvão Pinto, não soube dizer quanto foi gasto. Disse que ação aconteceu na frente da casa do prefeito porque o local é "muito visitado pela população e tinha mais estrutura". O governo estadual não comentou a ação, mas disse buscar alternativas para compensar as perdas de quem "dependia de uma atividade ilegal".


Colaborou MATHEUS PICHONELLI, da Agência Folha


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