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Presidente se despede de seu "grande irmão"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva chamou ontem o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci de "eterno companheiro" e de
"grande irmão", um dia após sua
demissão pela implicação direta
no caso da quebra ilegal do sigilo
bancário do caseiro Francenildo
dos Santos Costa. Lula também
ressaltou que não confunde amizade com política na cerimônia de
transmissão de cargo.
Em meio aos seguidos elogios,
deu também conselhos a Palocci.
Afirmou que o ex-ministro deve
usar o atual momento como uma
"lição" e um "aprendizado".
"Eu acho, meu querido companheiro Palocci, que a vida nossa é
marcada por momentos extraordinários, de acúmulo de prazeres
e alegria, e a vida nossa é marcada
por dissabores, por acusações, às
vezes por leviandades, às vezes
acusações que nós temos que humildemente provar que não são
verdadeiras. Mas eu penso que tudo isto, Palocci, significa para um
jovem como você, apenas mais
uma lição, mais um aprendizado,
que certamente encaixou na sua
consciência e, mais do que qualquer um de nós, você sabe quais
os passos que você dará daqui para frente", disse Lula.
A maior parte da fala improvisada de quase 20 minutos teve o
mesmo tom, mas Lula aproveitou
para dar uma indicação clara de
que o ministro Guido Mantega
manterá a política econômica:
"Eu quero te dizer, Guido, na hora
em que as coisas estiverem indo
bem, você não precisa nem pedir
audiência comigo. Na hora em
que precisar tomar alguma atitude que implique enfrentamentos
políticos, que implique posições
que possam parecer duras para
alguns, você não tenha dúvida
que tomaremos a posição, sem
vacilação. Não existe mágica".
A despedida de Palocci mobilizou todo o primeiro escalão. Enquanto Mantega saía quase sem
assédio, formou-se uma enorme
fila de ministros e autoridades para cumprimentar Palocci. Muitos
diziam palavras de incentivo.
O ato de ontem contrasta com a
despedida de José Dirceu da Casa
Civil, em junho de 2005, quando
Lula não discursou.
Em seu discurso, Lula destacou
o papel de Palocci na campanha e
na condução da economia: "Eu
nunca vi alguém discutir economia com a fineza política, eu nunca vi alguém dizer não e as pessoas saírem tão satisfeitas como
quando se reuniam com o Palocci, às vezes mais satisfeitas do que
com um sim meu". Citou uma infinidade de dados positivos: "Todos nós sabemos que um pouco
disso nós e o Brasil devemos a você, pela serenidade com que você
conduziu o teu período no Ministério da Fazenda, a equipe que você montou", afirmou. "No momento da tua saída, nós, certamente, entregaremos ao povo
brasileiro um Brasil infinitamente
melhor que aquele que nós recebemos, infinitamente melhor".
Já no final, Lula fez uma declaração de fidelidade: "No mais, Palocci, quero terminar dizendo o
seguinte: meu caro, eu não confundo minha relação política com
a minha relação de amizade pessoal. Eu acho que a única coisa
que um ser humano leva depois
da sua passagem pela Terra é a
sua relação de amizade, é quantos
companheiros nós criamos na vida", disse. "Eu digo sempre o seguinte: nem todo irmão da gente é
um grande companheiro, até porque você não escolhe irmão, mas
companheiro você escolhe. E eu
posso te dizer, Palocci, que se é
verdade que nem todo irmão é
um grande companheiro, é verdade que um bom companheiro é
um grande irmão. É por isso que
posso te dizer, Palocci, independentemente deste momento que
estamos vivendo agora, eu posso
lhe dizer: a nossa relação é de
companheiro, possivelmente
mais do que a relação de irmão."
Cancelamentos
Lula cancelou a reabertura do
Palácio da Alvorada, marcada para amanhã, e viagens programadas para Tocantins e Amazonas,
na sexta. O petista quer centrar foco no esfriamento da atual crise
política, recrudescida com a demissão de Palocci, e na coordenação da reforma ministerial, que
tem de ser concluída até sexta.
Ministros reclamam, em conversas reservadas, que não têm
conseguido nem falar com o presidente para discutir seus destinos
políticos. Quem quiser sair candidato nas eleições deste ano precisa deixar o cargo até sexta, seis
meses antes do pleito, como prevê
a legislação eleitoral.
(PDL e ES)
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