São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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Presidente se despede de seu "grande irmão"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci de "eterno companheiro" e de "grande irmão", um dia após sua demissão pela implicação direta no caso da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Lula também ressaltou que não confunde amizade com política na cerimônia de transmissão de cargo.
Em meio aos seguidos elogios, deu também conselhos a Palocci. Afirmou que o ex-ministro deve usar o atual momento como uma "lição" e um "aprendizado".
"Eu acho, meu querido companheiro Palocci, que a vida nossa é marcada por momentos extraordinários, de acúmulo de prazeres e alegria, e a vida nossa é marcada por dissabores, por acusações, às vezes por leviandades, às vezes acusações que nós temos que humildemente provar que não são verdadeiras. Mas eu penso que tudo isto, Palocci, significa para um jovem como você, apenas mais uma lição, mais um aprendizado, que certamente encaixou na sua consciência e, mais do que qualquer um de nós, você sabe quais os passos que você dará daqui para frente", disse Lula.
A maior parte da fala improvisada de quase 20 minutos teve o mesmo tom, mas Lula aproveitou para dar uma indicação clara de que o ministro Guido Mantega manterá a política econômica: "Eu quero te dizer, Guido, na hora em que as coisas estiverem indo bem, você não precisa nem pedir audiência comigo. Na hora em que precisar tomar alguma atitude que implique enfrentamentos políticos, que implique posições que possam parecer duras para alguns, você não tenha dúvida que tomaremos a posição, sem vacilação. Não existe mágica".
A despedida de Palocci mobilizou todo o primeiro escalão. Enquanto Mantega saía quase sem assédio, formou-se uma enorme fila de ministros e autoridades para cumprimentar Palocci. Muitos diziam palavras de incentivo.
O ato de ontem contrasta com a despedida de José Dirceu da Casa Civil, em junho de 2005, quando Lula não discursou.
Em seu discurso, Lula destacou o papel de Palocci na campanha e na condução da economia: "Eu nunca vi alguém discutir economia com a fineza política, eu nunca vi alguém dizer não e as pessoas saírem tão satisfeitas como quando se reuniam com o Palocci, às vezes mais satisfeitas do que com um sim meu". Citou uma infinidade de dados positivos: "Todos nós sabemos que um pouco disso nós e o Brasil devemos a você, pela serenidade com que você conduziu o teu período no Ministério da Fazenda, a equipe que você montou", afirmou. "No momento da tua saída, nós, certamente, entregaremos ao povo brasileiro um Brasil infinitamente melhor que aquele que nós recebemos, infinitamente melhor".
Já no final, Lula fez uma declaração de fidelidade: "No mais, Palocci, quero terminar dizendo o seguinte: meu caro, eu não confundo minha relação política com a minha relação de amizade pessoal. Eu acho que a única coisa que um ser humano leva depois da sua passagem pela Terra é a sua relação de amizade, é quantos companheiros nós criamos na vida", disse. "Eu digo sempre o seguinte: nem todo irmão da gente é um grande companheiro, até porque você não escolhe irmão, mas companheiro você escolhe. E eu posso te dizer, Palocci, que se é verdade que nem todo irmão é um grande companheiro, é verdade que um bom companheiro é um grande irmão. É por isso que posso te dizer, Palocci, independentemente deste momento que estamos vivendo agora, eu posso lhe dizer: a nossa relação é de companheiro, possivelmente mais do que a relação de irmão."

Cancelamentos
Lula cancelou a reabertura do Palácio da Alvorada, marcada para amanhã, e viagens programadas para Tocantins e Amazonas, na sexta. O petista quer centrar foco no esfriamento da atual crise política, recrudescida com a demissão de Palocci, e na coordenação da reforma ministerial, que tem de ser concluída até sexta.
Ministros reclamam, em conversas reservadas, que não têm conseguido nem falar com o presidente para discutir seus destinos políticos. Quem quiser sair candidato nas eleições deste ano precisa deixar o cargo até sexta, seis meses antes do pleito, como prevê a legislação eleitoral. (PDL e ES)

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