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CRISE NO GOVERNO/VIOLAÇÃO DE SIGILO
Ex-presidente do banco sabia de "movimentações atípicas" quando ordenou acesso aos extratos do caseiro que denunciou Palocci
CEF recebeu "dicas" sobre caseiro antes de agir
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A violação do sigilo bancário de
Francenildo dos Santos Costa na
Caixa Econômica Federal começou com informações repassadas
ao ex-presidente Jorge Mattoso de
fora da estatal, apurou a Folha.
Ao ordenar o acesso aos extratos da conta poupança do caseiro,
na noite da quinta-feira, 16, Mattoso comentou com o consultor
da presidência da Caixa Ricardo
Schumman que ouvira falar de
movimentações atípicas de dinheiro na conta de Francenildo.
Até aquele momento, no entanto, o sistema que detecta operações atípicas da Caixa Econômica
não havia dado nenhum alerta
dos depósitos de R$ 25 mil na
conta poupança que pudesse sustentar um comunicado de suspeita de lavagem de dinheiro ao Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Schumman nega conhecer a
origem dos comentários que motivaram a ordem de Mattoso. O
ex-presidente da Caixa tampouco
deixou isso claro na nota que divulgou após depor à Polícia Federal anteontem -quando ainda tinha esperança de permanecer no
cargo. "Na condição de presidente da Caixa, tive acesso a informações sobre movimentação atípica
em conta de cliente", resume a
nota. A PF investiga a participação do Ministério da Fazenda.
Falhas
A origem da informação que levou à violação do sigilo bancário
de Francenildo faz parte da coleção de falhas e pontos obscuros
da versão apresentada para o episódio que levou à queda do ministro Antonio Palocci (Fazenda).
A tentativa de qualificar a operação como uma rotina burocrática da Caixa não resiste aos fatos,
como foram narrados até aqui.
Na noite daquela quinta-feira,
dia 16, a informação que Mattoso
recebera precisava ser checada rapidamente, para eventualmente
embasar um comunicado ao
Coaf, órgão subordinado ao Ministério da Fazenda.
Esse comunicado foi feito, mas
apenas na noite de sexta-feira, 17,
depois de o extrato bancário de
Francenildo ter sido divulgado
pela revista "Época", em meio de
suspeitas que poderiam desqualificar seu testemunho contra o então ministro da Fazenda.
Antes do Coaf e da imprensa, o
próprio Palocci foi informado
pessoalmente das movimentações bancárias por Jorge Mattoso,
revelou o ex-presidente da Caixa à
Polícia Federal. Operações muito
mais atípicas, de saques de milhões em dinheiro vivo, não mereceram o mesmo tratamento.
Detalhe que ajuda a desmontar
a versão de uma rotina burocrática: ao repassar adiante a ordem de
Mattoso, o consultor da presidência da Caixa Ricardo Schumman
sabia que não se tratava de um
cliente qualquer do banco, mas
do caseiro que testemunhara contra Antonio Palocci.
Fora da rotina
O acesso à conta bancária do caseiro e a impressão dos extratos
também fugiram à rotina da instituição. Como Mattoso tinha pressa na quinta-feira à noite, a superintendente Sueli Mascarenhas
foi acionada, embora sua área na
Caixa seja de recursos humanos.
Seu status funcional dava a ela
acesso às informações que o presidente da Caixa procurava. A senha para obter os dados foi providenciada com o gerente Jeter Ribeiro, usuário do equipamento.
Esse roteiro foi rastreado pela
Polícia Federal, que chegou ao comando da Caixa apenas no domingo, mais de uma semana depois da violação do sigilo. Autor
confesso do pedido de extração
dos dados bancários, Mattoso
instalou investigação interna no
banco, com prazo de 15 dias para
apurar eventuais responsabilidades. Esse prazo só termina dia 4.
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