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Carta apontou acerto em licitação
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A investigação do Ministério
Público do Estado de São Paulo
sobre os negócios da Nossa Caixa
foi instaurada para apurar a suspeita de que a sindicância interna
abafaria o caso, apontando um
"bode expiatório" para encobrir
irregularidades também atribuídas à cúpula do banco.
A carta anônima enviada ao Ministério Público no início de dezembro -que detonou a investigação preliminar nas áreas cível e
criminal- não se limita a apontar o direcionamento de recursos
do banco para beneficiar deputados da base aliada na Assembléia.
Entre as suspeitas levantadas
-como os contratos de prestação de serviços em várias áreas do
banco-, pedia-se que fosse investigada a hipótese de licitação
com cartas marcadas para a substituição das agências Full Jazz Comunicação e Propaganda Ltda. e
Colucci Propaganda Ltda., de forma a beneficiar publicitários próximos ao governo tucano.
Ao tentar pôr um ponto final no
assunto, o governador Geraldo
Alckmin disse anteontem, em entrevista coletiva, que "já houve a
investigação, quem fez foi o governo, a própria Nossa Caixa, que
abriu uma comissão de sindicância." Por sua vez, o presidente do
banco, Carlos Eduardo Monteiro,
disse que o banco enviou os autos
ao Ministério Público, "numa demonstração de transparência".
Monteiro não permitiu o acesso
da Folha à sindicância.
O Ministério Público abriu a investigação no início de dezembro.
Na ocasião, a Nossa Caixa ainda
não havia concluído a sindicância, iniciada em 30 de junho, com
prazo de 15 dias, prorrogáveis.
Igualmente, o ex-gerente de marketing Jaime de Castro Júnior ainda não havia sido demitido, o que
só ocorreu em 22 de dezembro.
Publicidade e compromissos
No relatório que ofereceu em
outubro ao Comitê de Disciplina
e Ética, Castro Júnior sustentara
que o governo interferiu para que
uma das contas publicitárias do
banco fosse assumida por uma
agência com a qual "o governo tinha compromissos". Ele levantou
duas hipóteses: seria contemplada a Contexto ou a Lua Branca.
Em seu relato, Castro Júnior diz
que, "por determinação do presidente Monteiro, a proposta original previa a abertura de licitação
para contratação de apenas uma
nova agência de propaganda".
Posteriormente, "o sr. presidente
foi "informado" por autoridades
do governo que a licitação deveria
ser proposta para contratação de
duas agências de propaganda".
Na época, a Contexto e a Lua
Branca disputavam, simultaneamente, as licitações abertas pela
Casa Civil e pela Nossa Caixa.
Castro Júnior alertou para uma
espécie de "acordo", de forma que
nenhuma das duas agências ficasse fora do atendimento ao governo Alckmin. Segundo ele, houve
orientação para que a licitação do
banco aguardasse a escolha das
agências para a Casa Civil.
A Contexto já atendia à Casa Civil e se apresenta como "a única
agência de publicidade que atende o governo do Estado há 10
anos". Tem entre seus principais
clientes a CPTM, Dersa, Metrô e
Poupatempo/Prodesp. Seu presidente, Saint'Clair de Vasconcelos,
foi apontado como o intermediário dos pedidos de veiculação de
anúncios e patrocínios da Nossa
Caixa para beneficiar deputados
estaduais da base aliada.
Em sua proposta à Nossa Caixa,
a Contexto ofereceu "uma relação
que vai além dos interesses meramente comerciais e se consolida
como um verdadeiro "jogo de
equipe", afinado, duradouro e
coerente com a linha de conduta e
com o estilo de gestão de nossa
administração estadual".
A Lua Branca foi criada em 2004
por Luiz Gonzalez e Woile Guimarães, em alteração da denominação social da produtora GW.
Essa empresa prestou serviços de
produção de audiovisuais para
campanhas de vários partidos, inclusive o PT, mas tem maior afinidade com o PSDB paulista.
A Contexto não ganhou a licitação para continuar com a conta
da Casa Civil, vencida pela dupla
DPZ e Lua Branca. Ganhou a licitação da Nossa Caixa, ao lado da
Adag. Sua proposta técnica -um
volumoso trabalho com peças de
campanha- obteve 87,28 pontos, vindo a seguir a Adag (83,59),
Full Jazz (78,50), Lua Branca
(71,52) e três outras concorrentes.
Sem sucesso, a Full Jazz tentou
impugnar a licitação, alegando a
hipótese de "concorrência dirigida". A contestação era contra a
Adag, que teria apresentado peças
além do exigido. A Adag refutou,
dizendo que jamais teve questionada a sua conduta ética e técnica.
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