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ELIO GASPARI
O terror do mercado contra Mantega
Terrorismo de mercado,
esse é o nome da tentativa
de emparedamento do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em 2002, a casa bancária
americana Goldman Sachs criou
o Lulômetro, uma elegante
equação destinada a medir a relação entre o dólar e a falta de
confiança em "nosso guia". O sábio Paulo Leme, um dos diretores do banco à época da gracinha, jamais imaginaria que o
dólar-companheiro pudesse ficar na casa dos R$ 2,10. Também
foi terrorismo a propagação, em
1994, da patranha segundo a
qual Lula congelaria a poupança da patuléia. (A malvadeza
saiu da cabeça do doutor Gustavo Franco e foi divulgada pela
assessoria de imprensa do
PSDB.)
O terrorismo de mercado é um
instrumento eficaz de intimidação política. Em certos casos,
rende também um dinheirinho
fácil. Por exemplo: durante os
piores dias da crise cambial de
1999, o economista Lawrence
Brainard escreveu no boletim da
Chase Securities que o Brasil precisava de um calote. O presidente argentino Carlos Menem foi
na mesma linha. Admita-se que
alguém anteviu um pânico injustificado e resolveu ganhar algum. Comprou papéis brasileiros despencados por 50% do valor de face. Uma semana depois,
o mesmo papel valia 56,25%.
Um lucro de 6,25% em cinco dias
úteis, nada mal. Tem tucano de
muita pena que até hoje desconfia do altruísmo de Menem ao
fazer a proposta.
Os motivos que levaram Lula a
nomear Guido Mantega para o
Ministério da Fazenda pertencem ao discernimento do presidente, que já foi chamado por ele
de "grande timoneiro". Sua passagem pelo Ministério do Planejamento e pelo BNDES foi marcada por um comportamento
austero. Pode-se esquecer a maneira estabanada como negociou os primórdios do projeto
das Parcerias Público-Privadas
com as grandes empreiteiras. Felizmente, a trapalhada foi revertida no Senado. Se Mantega ou o
novo presidente do BNDES, Demian Fiocca, tentassem fazer
coisa parecida nos dias de hoje,
os feitos valorosos de Palocci seriam folguedos juvenis.
O novo ministro deu sua contribuição ao conhecimento da
macroeconomia quando anunciou que "eu não derrubo, só levanto o PIB". Mesmo assim,
qualquer tentativa de obrigá-lo
a atos de contrição é iniciativa
indevida, impertinente. Uma
coisa é julgá-lo pelo que venha a
fazer. Outra é querer que faça o
que lhe mandam para obter um
bom julgamento. As quiromantes do mercado de consultoria e
os gatos gordos do papelório foram incapazes de dizer uma só
palavra enquanto Antonio Palocci e Jorge Mattoso barbarizavam o sigilo bancário de um cidadão brasileiro. O interesse dos
"mercados" pela quebra de contratos dos Francenildos dessa vida é nulo.
Faltou cortesia ao doutor Murilo Portugal, secretário-executivo da Fazenda, demitindo-se sumária e irrevogavelmente na
própria segunda-feira. Ele escreveu que assim procedeu "tendo
em vista o pedido de exoneração
apresentado hoje pelo ministro
Palocci". Enquanto admitiu-se
que pudesse ser o novo ministro,
Portugal não falou em deixar o
governo. Ninguém poderia obrigá-lo a conviver com Mantega,
mas um hierarca de Getúlio
Vargas já ensinou, faz tempo:
"Perdi o ministério, mas não
perdi a educação". É razoável
que a ekipe de Palocci vá para
casa, mas nada lhe custa fazer isso sem bater a porta.
Numa hora dessas, a elegância
faz bem a todo mundo e evita
que alguns espertos ganhem um
dinheirinho fácil.
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