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Papa terá reunião ecumênica em SP
Bento 16 encontrará líderes de muçulmanos, judeus e igrejas cristãs; para eles, católico é aberto ao diálogo
Muçulmano afirma que, mesmo após "declaração infeliz", "a intenção dele é boa'; Henry Sobel pedirá ao papa para que visite Israel
DA REPORTAGEM LOCAL
Em sua primeira visita ao
Brasil, entre os próximos dias 9
e 13 de maio, o papa Bento 16
participará de um encontro
com representantes das religiões judaica, muçulmana e
cristãs de diversas denominações. O diálogo ocorrerá no
mosteiro de São Bento, no dia
10, às 12h30.
Francisco Borba, do Núcleo
Fé e Cultura da PUC-SP, afirma
que "um evento ecumênico
desse porte, em que um xeque e
um rabino estarão juntos, não
aconteceu em nenhum outro
lugar do mundo em uma visita
pastoral deste papa".
Para o especialista, tal encontro é importante porque sublinha "o caráter dialogal" que seria próprio a Bento 16. "Existem dúvidas no Brasil sobre esse caráter. É muito oportuno
que isso ocorra, portanto, para
a boa compreensão do que significa seu pontificado."
O xeque Armando Hussein
Saleh, representante da comunidade islâmica que estará com
Bento 16, diz que "há um interesse mútuo nessa aproximação". "Nós, muçulmanos, calculamos as pessoas por suas intenções. O papa teve uma declaração que foi infeliz, mas a
intenção dele é boa", diz Saleh.
O xeque se refere ao discurso
de Bento 16 em setembro passado, quando, numa aula magna na Universidade de Regensburg, na Alemanha, o papa citou, sem endossá-lo, o imperador bizantino Manuel 2º Paleólogo (1350-1425), que acusava o
islã de ser violento.
Mais tarde, tentou desfazer o
mal-entendido e disse ter "total
e profundo respeito" ao islã.
O rabino Henry Sobel, que
também foi convidado para o
encontro, disse à Folha que "o
papa é muito conservador em
doutrina, mas ao mesmo tempo muito aberto em relação ao
diálogo inter-religioso".
"Afinal, ele é um seguidor fiel
de João Paulo 2º", lembrou.
Sobel declarou que o governo
israelense lhe pediu que, durante o encontro, reforçasse a
Bento 16 o convite oficial para
que o papa visite Israel e países
árabes vizinhos.
Cristãos
O pastor luterano Carlos Möller será um dos presentes ao
encontro, representando outras denominações cristãs.
Ele é presidente do Conic
(Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs do Brasil). São membros do órgão, por exemplo, a
Igreja Católica, a Igreja Luterana e a Igreja Anglicana. Pentecostais como a Igreja Universal
do Reino de Deus e a Renascer
em Cristo não fazem parte do
Conic -e não participarão do
encontro com o papa.
Walter Altmann, pastor luterano, também fará parte do encontro. Ele é moderador (presidente) do CMI (Conselho
Mundial de Igrejas), órgão que
reúne 350 igrejas ortodoxas,
protestantes, evangélicas e, em
menor grau, pentecostais do
mundo inteiro, representando
aproximadamente meio bilhão
de fiéis.
Altmann se mostrou cético
com relação ao atual estágio do
diálogo inter-religioso. "Nos
encontramos num momento
de transição. O entusiasmo da
"primeira hora" passou e há desapontamentos em relação ao
ecumenismo no seio da cristandade. Esperava-se avanços
mais significativos no reconhecimento mútuo das igrejas.
Mas os avanços registrados não
são desprezíveis e alentam à
continuidade dos esforços."
(RAFAEL CARIELLO E LEANDRO BEGUOCI)
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