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Lula dobra valor de patrocínios estatais
Pico dos gastos foi em 2006, com R$ 1,086 bilhão; soma com publicidade eleva total para R$ 2,2 bilhões quando petista foi reeleito
Petrobras, CEF e Banco do Brasil são as empresas que concentram o maior número de projetos e recursos gastos em patrocínio pelo país
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
É verdadeira a impressão que
muitos brasileiros têm sobre o
aumento da presença de logotipos de empresas estatais e do
governo federal em filmes e em
eventos culturais e esportivos.
A administração Lula quase duplicou seus investimentos nessa área. Houve um pulo de
R$ 555 milhões em 2003, ano
da posse, para R$ 1,086 bilhão
em 2006, quando o petista foi
reeleito. Um salto de 96%.
O pico de gastos com patrocínios registrado em 2006 sofreu
um recuo em 2007, caindo para
R$ 913,2 milhões. O valor ficou
quase estável em 2008, em
R$ 918,4 milhões, mas a cifra
ainda é 65% maior do que
quando Lula assumiu o cargo.
Quando se soma o montante
dedicado a patrocínios com o
de publicidade federal, chega-se a R$ 2,2 bilhões em 2006, o
recorde até agora de Lula. A cifra é idêntica ao que será consumido pelo Senado neste ano
para pagar a sua folha salarial,
de cerca de 10 mil pessoas.
Outra comparação possível é
com o mercado publicitário
privado. Segundo levantamento Ibope Monitor, em 2008 o
maior anunciante brasileiro foi
a Casas Bahia, com R$ 3,1 bilhões. O segundo lugar ficou
com a Unilever (dona de Kibon,
Omo, Dove e Rexona), cujo gasto atingiu R$ 1,75 bilhão -abaixo do consumido pelo governo
Lula e suas estatais no seu recorde apurado em 2006, somados patrocínios e publicidade.
Esses números consolidados
de patrocínio público federal
são inéditos. Devem começar a
ser divulgados regularmente
pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Em administrações anteriores, não era costume revelar tal
estatística. Assim, é impossível
comparar os gastos de Lula
com os de seus antecessores.
No caso do governo Lula, padronizou-se nos patrocínios o
uso obrigatório da marca multicolorida criada pelo publicitário Duda Mendonça, com o slogan "Brasil, um país de todos".
Patrocínios sigilosos
Os patrocínios estatais são os
mais variados possíveis. Muitos
são conhecidos do grande público. A Petrobras banca o time
de futebol do Flamengo. A Caixa Econômica Federal investiu
nos Jogos Panamericanos. O
Banco do Brasil tem tradição
no vôlei de praia. É comum filmes de cinema nacional terem
dinheiro dessas três empresas,
exatamente as que concentram
o maior número de projetos e
recursos gastos em patrocínio.
Em 2008, a CEF teve 2.535
projetos de patrocínio aprovados. A Petrobras veio em seguida, com 1.479, à frente do BB,
com 1.227. O total de 5.241
equivale a 67% dos 7.876 projetos do ano passado. Tudo precisa ser aprovado pela Secom, na
Presidência, comandada pelo
ministro Franklin Martins.
O que o governo e as estatais
não divulgam são listas completas de patrocínios, com nomes e valores dos projetos. A
imensa maioria das ações fica
fora do conhecimento dos cidadãos. A Folha tentou obter a
relação, mas não teve sucesso.
O secretário-executivo da
Secom, Ottoni Fernandes Jr., é
o responsável pela supervisão
de patrocínios e de publicidade. Segundo ele, está em curso
um processo de mais abertura
nesses dados, mas o detalhamento completo só pode ser
feito pelas empresas, "pois
muitas disputam no mercado
com os concorrentes privados,
e essa informação é essencial
para a estratégia de cada uma".
Segundo o Banco do Brasil,
há também contratos "com
cláusula de confidencialidade",
o que impediria a sua divulgação. Da CEF, a Folha recebeu a
contabilidade total dos valores
gastos -em 2008, foram R$
97,7 milhões-, mas não o detalhamento projeto a projeto. A
Petrobras não respondeu.
Nos seus endereços na internet, essas estatais também não
apresentam relatórios completos sobre a eficácia de seus patrocínios. O discurso do governo sustenta que essas ações extrapolam o marketing, tendo
uma função social. "O patrocínio possui qualidades importantes ao criar um diferencial
na promoção da marca ou mesmo na venda de produtos. Mas
o que chama atenção é o quanto essa ferramenta de comunicação pode somar-se às políticas públicas governamentais e
gerar valor para a sociedade",
afirma Ottoni Fernandes Jr.
Como não são conhecidos
em detalhes todos os projetos,
não há como aferir o efeito exato dos patrocínios. Na área esportiva, as estatais são grandes
patrocinadoras de esportes
olímpicos. Apesar do dinheiro
investido nas últimas décadas,
o país não se tornou uma potência em Olimpíadas.
Renúncia fiscal
Um aspecto pouco notado
nos patrocínios públicos é que
as empresas do governo também se beneficiam de isenção
ou descontos no imposto a pagar. Por causa da lei de incentivo à cultura, conhecida como
Lei Rouanet, a estatais federais
deixaram de pagar R$ 1,4 bilhão
de impostos de 2003 a 2008. O
valor é quase equivalente ao
R$ 1,5 bilhão consumido no ano
passado com a merenda escolar
de 35 milhões de crianças.
Desde o primeiro ano em que
Lula chegou ao Planalto, o total
de imposto não pago por causa
de descontos com base na lei
Rouanet foi de R$ 4,4 bilhões
-incluindo empresas privadas
e estatais. O R$ 1,7 bilhão das
estatais responde por 39% da
renúncia fiscal no período. Os
grandes nomes da cultura no
âmbito governamental são Petrobras, Eletrobrás, Banco do
Brasil, CEF, BNDES e Correios.
Como propicia amplos descontos no imposto devido, o patrocínio cultural é um favorito
das estatais. No ano passado,
2.751 das ações (47,5% do total )
foram em cultura. Em segundo
lugar ficou o esporte, com 498.
Está em curso uma descentralização dos patrocínios sob
Lula. Desde 2006, o Sudeste sofreu uma queda na divisão do
bolo: recebia 50,4% do dinheiro
e caiu para 37,4% em 2008. Não
houve benefício de uma região
específica, mas um avanço na
modalidade "nacional", quando uma ação atinge todo o país.
Esse tipo de marketing recebia
17,2% do bolo em 2006 e pulou
para 31,6% no ano passado.
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