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Dilma lança PAC 2 sem abrir caixa-preta
Governo não informa andamento e execução orçamentária de mais de 90% das obras da primeira versão do programa
Balanços quadrimestrais detalham só 6% das ações do PAC, cuja nova edição marca a saída da ministra para disputar as eleições
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A dois dias de deixar o governo para a corrida presidencial,
a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) lança hoje a segunda
versão do PAC sem ter aberto a
caixa-preta que sustenta a propaganda da primeira versão do
Programa de Aceleração do
Crescimento.
Segundo levantamento feito
pela Folha, não se sabe com
precisão o que aconteceu com
2.321 (94%) das 2.471 ações ditas como "monitoradas" pelo
programa. Como até a lista desse montante de obras é mantida sob sigilo, não há informações também sobre o andamento e a execução orçamentária de cada uma delas.
Desde o ano passado, o presidente Lula tem usado eventos
do PAC para apresentar Dilma
aos eleitores. Ele aponta o programa de infraestrutura, lançado em 2007, como uma espécie
de atestado gerencial de sua
pré-candidata ao Planalto.
Na garupa de Lula e em ascensão nas pesquisas, Dilma
divulga balanços que enaltecem o programa, mas mantém
sob sigilo toda a base de dados.
Faz isso, apesar de a Presidência propagandear na internet
que "a gestão do PAC tem como fundamento a transparência e a divulgação dos dados".
Ritmo "adequado"
Assim como fez no balanço
de três anos do programa, no
mês passado, a ministra fala na
conclusão de metade das ações,
mas não as identifica. Aponta o
"monitoramento" de 2.471
ações, mas só apresenta detalhes de 150 delas (6%). Sobre as
obras em andamento, anuncia
um ritmo de execução "adequado" em quase 90% delas,
mas também não as enumera.
Além disso, como a Folha revelou no início deste mês, os
balanços do programa são maquiados para esconder atrasos
nas principais obras. Assim,
uma obra atrasada em meses
ou anos aparece na estatística
oficial com o carimbo de ritmo
"adequado".
Com números gerais maquiados e a base de informações sob sigilo, Dilma constrói
balanços coloridos, recheados
com fotos e carimbos verdes
(de ritmo "adequado").
Além dos balanços quadrimestrais, que detalham apenas
6% das ações do programa, na
página da Presidência na internet há listas de centenas de
obras divididas por Estado.
Para cada uma delas há apenas duas informações: previsão
geral de investimento e o estágio físico atual (como "em licitação", "em obra", "concluída"). Não consta a meta de conclusão nem o carimbo que
aponta o ritmo de execução,
como ocorre em relação às 150
obras detalhadas no balanço
quadrimestral mais recente.
Segredo
Ainda na internet, o governo
anuncia que as informações do
programa estão "disponíveis a
qualquer interessado". Como
não estão, a reportagem as solicitou diretamente à Casa Civil.
Em e-mail encaminhado no
dia 3 de março à assessoria de
Dilma, a reportagem pediu, entre outros pontos, a lista com as
2.471 ações do PAC "monitoradas" pelo governo federal.
Para cada uma dessas ações,
solicitou ainda os seguintes dados: data prevista de conclusão,
valor de investimento e o respectivo carimbo sobre o ritmo
de execução ("preocupante",
"atenção" ou "adequado").
Nesse intervalo, a solicitação
foi reforçada por e-mail ou por
telefone ao menos uma vez por
semana. Como opção, a reportagem sugeriu manusear os documentos na sala do comitê
gestor do PAC.
A Casa Civil nada encaminhou de volta e vetou o acesso
direto às planilhas. Como justificativa, informou via assessoria que não conseguiu entregar
as informações por conta dos
preparativos do PAC 2, que será
lançado hoje em megafesta.
Para o evento, o governo alugou auditório com capacidade
para 1.200 pessoas, num dos
badalados centros de convenções da capital. Além de ministros e congressistas, convidou
sindicalistas, empresários e representantes da sociedade civil.
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