São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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SUCESSÃO
Aliança da esquerda no Rio de Janeiro tem irmãos de fé na mesma chapa
Igreja une Garotinho e Benedita

WILSON TOSTA
da Sucursal do Rio

Mais que unir partidos anteriormente adversários, a aliança das esquerdas no Rio deverá juntar semelhantes: os virtuais candidatos a governador, Anthony Garotinho (PDT), e a vice, Benedita da Silva (PT), dividem a mesma fé religiosa na Igreja Presbiteriana, que frequentam com fervor há anos. Convertido oficialmente ao protestantismo em 95, o pedetista Garotinho se recusa a falar no assunto em entrevistas, pois não quer que os adversários o acusem de usar politicamente a religião. Mesmo assim, às vezes presta, em reuniões de evangélicos, testemunhos da sua conversão. "Não misturo religião e política", afirma ele. "Uma coisa não tem nada a ver com a outra." Segundo o pedetista, a proximidade de fé não tem nenhuma influência na aliança com a senadora Benedita da Silva. Os dois têm atuado juntos para unir as duas legendas em uma coligação para disputar a eleição de 98, mas a relação, diz Garotinho, é puramente política, sem nenhuma origem no plano religioso.


Conversão

Anthony Garotinho é bom conhecedor da Bíblia, que lia para o avô, Nahim, com quem tinha forte ligação. Mas a conversão ao presbiterianismo só veio depois que sofreu um acidente durante a campanha de 94, quando disputava o governo do Rio pela primeira vez, na campanha vencida pelo tucano Marcello Alencar.
A amigos, o pedetista confidencia que na época teve uma "revelação" e se converteu, mas preferiu deixar para oficializar o ato no ano seguinte, após o segundo turno da eleição de 94, pois queria evitar acusações de uso político da fé. O batismo foi feito pelo pastor Caio Fábio dÁraújo Filho.

Carnaval e fé

Desde então, Garotinho tem mantido nos acontecimentos políticos atitude discreta em relação à religião. Como na abertura do Carnaval de 98 em Campos, cidade do norte fluminense da qual é prefeito. Apesar da resistência de setores evangélicos ao evento, o pedetista compareceu à festa e justificou: é prefeito de um município, não dos seguidores de uma crença.
Já Benedita da Silva preferiu agradecer e não comparecer ao desfile da escola de samba Caprichosos de Pilares, que no último Carnaval a incluiu entre os homenageados no enredo "Negra Origem, Negro Pelé, Negra Bené".
A senadora é diferente de Garotinho quando se trata da relação entre religião e política. Em novembro de 96, por exemplo, Benedita participou de um culto ao lado de outro senador, negro e protestante: Jesse Jackson, do Partido Democrata dos EUA, de fé batista.
Pelo menos nesse caso, fé e política se misturaram, num sermão em que Jackson criticou o racismo.



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