São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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DOMINGUEIRA
Vai que é tua, Walter Salles!


MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo


Companheiros e companheiras, foi um constrangedor show de provincianismo a torcida para o "nosso" Oscar. A começar por imprensa e TV, que trataram a presepada da Academia como uma pequena prévia da Copa do Mundo.
O mais curioso é que torcer pelo filme de Bruno Barreto não foi exatamente uma manifestação nacionalista, muito menos uma tentativa de enfrentar a cultura norte-americana e o modelo hollywoodiano, mas sim uma forma enviesada de querer fazer parte daquilo.
Além do mais, como diria Zagallo, foi "unbelievable" o modo como tratou-se o filme holandês. Ninguém viu e todos falaram mal -com exceção do crítico Amir Labaki, da Folha, que contou a história e considerou a escolha mais do que acertada.
Fui um que tomou partido de "O Que É Isso Companheiro?" contra as críticas bobocas de ex-militantes do MR-8, embora os bons argumentos de Franklin Martins, hoje comentarista político da Rede Globo, tenham modificado minhas opiniões sobre alguns aspectos da apresentação da história.
"O Que É Isso Companheiro?" é um filme apresentável, que tem virtudes à luz da retomada da produção brasileira. Ainda assim, -sem ter visto o vencedor "Caráter"- não creio que seja muito difícil fazer um filme melhor do que o brasileiro.
Não vamos, porém, desanimar! Nem Jabor, nem José Wilker -para a próxima edição do Oscar queremos Galvão Bueno: "Vai que é tua, Walter Salles!"

Outro vexame nacional, com repercussão internacional, foi a maneira como o governo tucano tratou o incêndio em Roraima. Admitamos que nesse caso Menem merece o Oscar de melhor presidente brasileiro. Os argentinos chegaram lá rapidamente e melhor equipados.
Num governo que adora falar em bilhões de dólares, um empréstimo de US$ 5 milhões para apagar o fogo é ridículo. São cinco apartamentos de luxo em São Paulo.
O problema, obviamente, não é de dinheiro. Pena que nenhum banco mundial empreste ao Brasil tino e competência política...

Mais uma vez, o futebol salvou a pátria, com a vitória da seleção brasileira contra a Alemanha, embora a leitura da crônica esportiva faça qualquer um supor que a equipe de Zagallo perdeu o jogo. Talvez porque muitos cronistas tenham alardeado as virtudes quase insuperáveis do time alemão.
Não foi o que se viu. Os alemães entraram em campo para arrancar toco e quebrar canelas, tentando uma pressão inicial que se mostrou perfeitamente suportável por uma seleção de primeira linha -mesmo com uma defesa ainda desentrosada. O gol da equipe alemã foi muito mais um azar do beque brasileiro - que escorregou na hora de interceptar a bola- do que mérito do atacante. Já o gol de Ronaldo... Um show, que incrivelmente alguns tentaram minimizar como apenas um "lampejo individual"... Ora, bolas, o que seria do futebol sem lampejos individuais?
Dizer depois, como insinuou nosso combativo Juca Kfouri, que o jogo não valeu nada, é de uma má-vontade notável. Se os alemães tivessem vencido, alguém diria isso?
Tive a impressão de que boa parte da crônica torceu mesmo contra a vitória brasileira.
Nesses momentos, morro de saudades da presença de Nelson Rodrigues.




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