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GOVERNO X PT
Ameaçada de expulsão, senadora afirma que o governo está "estressado" por não conseguir consenso para reformas
"Não somos a senzala do Planalto", diz Helena
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A senadora Heloísa Helena
(PT-AL) disse ontem que o governo está "estressado" por causa
das dificuldades de obter composição com o PMDB e apoio do
PDT e do PC do B à taxação dos
inativos. Ela ela acha que está sendo ameaçada de expulsão do seu
partido só para servir de exemplo.
"Me ameaçar de expulsão por
defender ação jurídica contra a
publicidade das reformas é desculpa esfarrapadíssima para tentar acalmar o deus do mercado. O
governo está estressado porque
não consegue compor com o
PMDB e porque dois partidos da
base aliada decidiram ser contra a
taxação dos inativos", afirmou.
A senadora, que reafirma ser
contra a taxação dos inativos,
acusou o governo de ter negociado as propostas com os governadores sem debatê-las com o partido. "Eles acertaram com os governadores e querem impor que nós
nos transformemos em senzala
do Planalto", disse.
Sobre uma eventual ação judicial contra o uso de recursos públicos pelo governo em publicidade sobre as reformas, a alagoana
disse que nunca pensou em assiná-la. Esclareceu que apenas defendeu a "legitimidade jurídica"
dessa medida, ao tomar conhecimento de que servidores públicos
pensavam em adotá-la.
Foi por causa dessas declarações, dadas pela senadora durante
encontro com o presidente do
PDT, Leonel Brizola, e com o deputado Lindberg Farias (PT-RJ),
que o líder do PT no Senado, Tião
Viana (AC), afirmou que defenderia a expulsão de Helena do
partido. Depois de falar com ela,
Viana mudou de idéia.
A Democracia Socialista -tendência trotskista do PT da qual a
senadora faz parte- divulgou
nota ontem criticando "medidas
judiciais contra o governo e articulações com setores de outros
partidos relativas às reformas que
o governo federal encaminha ao
Congresso Nacional".
A tendência, representada no
governo pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, faz parte do bloco de esquerda do PT, que tem 30% dos
membros do Diretório Nacional.
Tentando mostrar que recebe
tratamento diferenciado no PT,
Heloísa Helena usou o exemplo
do líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), que
defendeu, há poucos dias, interferência do governo no câmbio para impedir a valorização do real.
Essa posição diverge da defendida
pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
"Como não sou da tropa de
choque, se eu tivesse dado a declaração do Mercadante, a histeria
estaria instalada no Palácio."
Reunião tensa
Na reunião de deputados petistas com o ministro Ricardo Berzoini (Previdência), ontem, houve discussão sobre o ponto mais
polêmico da reforma, a taxação
dos servidores inativos.
"Está aqui um legítimo representante da esquerda, um homem
que defende salários de R$ 50
mil", disse Professor Luizinho
(SP), defensor da reforma, a Babá
(PA), crítico dela.
"Você apóia o Fundo Monetário Internacional e está seguindo
as ordens do [George W.] Bush,
então cala a boca", retrucou Babá.
Mais tarde, Luizinho também
trocou críticas com Lindberg Farias (RJ), outro integrante das alas
radicais. Farias dizia ter sido chamado, na companhia de outros,
de "marginal" por Luizinho.
"Apenas disse que a tese de vocês
é marginal", respondeu o deputado paulista. "Não podem nos tirar
o direito de ser esquerda no governo", disse Farias.
Babá apresentou aos jornalistas
uma lista que conteria 12 grandes
devedores da Previdência que integram o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Quando falavam aos jornalistas,
os integrantes das alas radicais
eram, quase sempre, rebatidos na
hora por integrantes da tropa governista.
O presidente nacional do PT,
José Genoino, que também estava
na reunião, disse que o PT prepara um "desligamento político"
dos radicais, o que ficou representado no afastamento deles da liderança e na retirada da indicação
para as comissões.
Depois do encontro com Berzoini, a coordenação da bancada
federal do PT deveria se reunir
com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
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