UOL

São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOVERNO X PT

Ameaçada de expulsão, senadora afirma que o governo está "estressado" por não conseguir consenso para reformas

"Não somos a senzala do Planalto", diz Helena

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A senadora Heloísa Helena (PT-AL) disse ontem que o governo está "estressado" por causa das dificuldades de obter composição com o PMDB e apoio do PDT e do PC do B à taxação dos inativos. Ela ela acha que está sendo ameaçada de expulsão do seu partido só para servir de exemplo.
"Me ameaçar de expulsão por defender ação jurídica contra a publicidade das reformas é desculpa esfarrapadíssima para tentar acalmar o deus do mercado. O governo está estressado porque não consegue compor com o PMDB e porque dois partidos da base aliada decidiram ser contra a taxação dos inativos", afirmou.
A senadora, que reafirma ser contra a taxação dos inativos, acusou o governo de ter negociado as propostas com os governadores sem debatê-las com o partido. "Eles acertaram com os governadores e querem impor que nós nos transformemos em senzala do Planalto", disse.
Sobre uma eventual ação judicial contra o uso de recursos públicos pelo governo em publicidade sobre as reformas, a alagoana disse que nunca pensou em assiná-la. Esclareceu que apenas defendeu a "legitimidade jurídica" dessa medida, ao tomar conhecimento de que servidores públicos pensavam em adotá-la.
Foi por causa dessas declarações, dadas pela senadora durante encontro com o presidente do PDT, Leonel Brizola, e com o deputado Lindberg Farias (PT-RJ), que o líder do PT no Senado, Tião Viana (AC), afirmou que defenderia a expulsão de Helena do partido. Depois de falar com ela, Viana mudou de idéia.
A Democracia Socialista -tendência trotskista do PT da qual a senadora faz parte- divulgou nota ontem criticando "medidas judiciais contra o governo e articulações com setores de outros partidos relativas às reformas que o governo federal encaminha ao Congresso Nacional".
A tendência, representada no governo pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, faz parte do bloco de esquerda do PT, que tem 30% dos membros do Diretório Nacional.
Tentando mostrar que recebe tratamento diferenciado no PT, Heloísa Helena usou o exemplo do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que defendeu, há poucos dias, interferência do governo no câmbio para impedir a valorização do real. Essa posição diverge da defendida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
"Como não sou da tropa de choque, se eu tivesse dado a declaração do Mercadante, a histeria estaria instalada no Palácio."

Reunião tensa
Na reunião de deputados petistas com o ministro Ricardo Berzoini (Previdência), ontem, houve discussão sobre o ponto mais polêmico da reforma, a taxação dos servidores inativos.
"Está aqui um legítimo representante da esquerda, um homem que defende salários de R$ 50 mil", disse Professor Luizinho (SP), defensor da reforma, a Babá (PA), crítico dela.
"Você apóia o Fundo Monetário Internacional e está seguindo as ordens do [George W.] Bush, então cala a boca", retrucou Babá.
Mais tarde, Luizinho também trocou críticas com Lindberg Farias (RJ), outro integrante das alas radicais. Farias dizia ter sido chamado, na companhia de outros, de "marginal" por Luizinho. "Apenas disse que a tese de vocês é marginal", respondeu o deputado paulista. "Não podem nos tirar o direito de ser esquerda no governo", disse Farias.
Babá apresentou aos jornalistas uma lista que conteria 12 grandes devedores da Previdência que integram o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Quando falavam aos jornalistas, os integrantes das alas radicais eram, quase sempre, rebatidos na hora por integrantes da tropa governista.
O presidente nacional do PT, José Genoino, que também estava na reunião, disse que o PT prepara um "desligamento político" dos radicais, o que ficou representado no afastamento deles da liderança e na retirada da indicação para as comissões.
Depois do encontro com Berzoini, a coordenação da bancada federal do PT deveria se reunir com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Brizola oferece "vaga" no PDT para radicais
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.