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Juiz apelou a pai-de-santo, mostra escuta
Em conversa gravada pela PF, Ernesto Dória, do TRT, pediu ajuda a religioso para tentar receber propinas e prejudicar inimigos
Magistrado pretendia se tornar político com ajuda da Universal, que critica as
religiões afro-brasileiras; ele não foi localizado pela Folha
RAPHAEL GOMIDE
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O mais ativo intermediário
no tráfico de influência entre os
envolvidos na quadrilha presa
pela Operação Hurricane (furacão, em inglês), o juiz do Tribunal Regional do Trabalho de
Campinas (SP) Ernesto Luiz
Pinto Dória foi gravado pela
Polícia Federal em telefonema
em que pedia ajuda a um pai-de-santo para receber propinas
e prejudicar seus inimigos.
O grampo, feito com autorização da Justiça Federal do
Rio, mostra Dória dizendo ao
pai-de-santo que o presentearia com uma televisão no dia seguinte e, caso conseguisse receber um "pró-labore de 10 mil
reais", daria a ele mais R$
1.000. O religioso não é identificado pela PF no diálogo, de 16
de dezembro de 2006.
"Vamos arrebentar esse Jaime, que eu quero receber esse
dinheiro até sábado", disse Dória sobre Jaime Garcia Dias,
que prestava serviços à Aberj
(Associação dos Bingos do Estado do Rio de Janeiro).
Um inimigo de Dória foi
identificado como inspetor Botelho. "Dória diz que vai mandar por Maria Helena [mulher
não identificada] os nomes de
uns inimigos, inspetor Botelho,
para o pai de santo colocá-los
bem longe", informa relatório.
O curioso é que Dória planejou entrar na política com a ajuda da Igreja Universal e do senador Marcelo Crivella (PR-RJ). A Universal é crítica de religiões afro-brasileiras.
Em conversa com o delegado
da PF Edson Antônio de Oliveira, Dória defende a permanência no cargo do então secretário
de Segurança Pública do Rio,
José Roberto Precioso Júnior.
Diz que tem prestígio com o então candidato e hoje governador Sérgio Cabral Filho
(PMDB) e promete pedir a Crivella, "homem forte de Cabral",
para interceder por Precioso.
O relatório das escutas resume a suposta intenção de Crivella em fazer do juiz vereador.
"Dória diz que ele, Crivella, falou (...): "Ernestinho, você tem
que se afirmar se não passar o
negócio [aposentadoria aos 70
anos], você tem que sair vereador ou deputado pela nossa
igreja'".
Nas escutas, Dória se apresenta como corregedor e desembargador criminal, usando
o cargo para abrir portas em
questões pessoais, como na
venda de terreno a um amigo.
Procurado pela Folha por
meio de sua assessoria, Crivella
não comentou o vínculo com
Dória até a conclusão desta
edição. A reportagem telefonou para Dória e foi ao prédio
onde mora, mas não o achou.
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