São Paulo, domingo, 29 de abril de 2007

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Militares se adaptam à penúria, mas têm projetos bilionários

Exército precisa substituir mil blindados, Marinha estuda construção de novos submarinos e Força Aérea retoma projeto de aquisição de caças modernos

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Exército, Marinha e Força Aérea se adaptaram em graus diferentes à penúria de verbas dos últimos anos, mas todas têm projetos bilionários à espera de tempos melhores.
O Exército racionalizou seus projetos de pesquisa e desenvolvimento visando o reaparelhamento. Mais de cem projetos foram reduzidos para apenas 13 prioritários, segundo o general-de-brigada Alessio Ribeiro Souto, que dirige o Centro Tecnológico do Exército.
Foi o caso do radar SABER M-60, feito em parceria com a empresa OrbiSat. A verba veio ao Exército de uma fonte pouco usual: o Ministério da Ciência e Tecnologia, através da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que concedeu R$ 30 milhões. E a OrbiSat conseguiu financiamento do BNDES para a produção dos radares.
SABER é a sigla para Sistema de Acompanhamento de Alvos Aéreos Baseado em Emissão de Radiofreqüência. O radar tem alcance de 60 km e pode rastrear 40 alvos ao mesmo tempo. O primeiro modelo M-60 ficou pronto neste mês.
Mas estima-se em R$ 1 bilhão a verba para produzir os blindados para substituir os mais de mil Urutu e Cascavel que o Exército adquiriu no passado.
A Marinha tem como prioridade, segundo seu comandante, o almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto, a produção de submarinos, que cumprem um fundamental papel dissuasório contra potências que queiram atacar o país. Em segundo lugar estão os navios-patrulha, necessários à proteção da zona econômica exclusiva no Atlântico Sul.
O Brasil obteve a tecnologia para construir submarinos da Alemanha e está fazendo o mesmo em relação a navios de patrulha graças a um acordo com uma empresa francesa.
O momento é um dois piores para a força nos últimos anos. Segundo o contra-almirante Elis Treidler Oberg, desde 1999 a Marinha aposentou 21 navios, e incorporou apenas dez.
A Marinha ainda não definiu o projeto de seu futuro submarino. O que tem mais chance é o alemão IKL 214, dada a experiência adquirida com projetos germânicos. Mas ainda não se descarta a opção pelo submarino francês da classe Scorpène.
A empresa francesa Thales possui um trunfo: ao contrário dos alemães, os franceses têm tecnologia de submarinos nucleares e poderiam compartilhar esse know-how, segundo Jean-Paul Perrier, vice-presidente executivo da empresa.
O programa prioritário da Força Aérea Brasileira voltou à estaca zero, e deve levar alguns meses para sair dela, de acordo com o brigadeiro-do-ar Paulo Roberto Pertusi. O programa é o F-X, de aquisição de um novo caça de defesa aérea. O presidente Lula suspendeu a concorrência logo no começo do seu primeiro mandato, e terminou por enterrá-la ao comprar caças franceses Mirage-2000, interinos e de segunda mão.
A FAB reiniciou agora a busca de seu futuro principal avião de combate. Segundo Pertusi, a primeira fase é estabelecer o novo conceito da futura aeronave; depois será estudada sua viabilidade técnica, operacional, comercial; definida a opção, serão feitos os pedidos de propostas aos fabricantes. E, se tudo der certo e houver verba, iniciada a produção.
"A idéia é começar novo projeto com novos requerimentos, assim que as condições permitirem", diz o brigadeiro. A FAB sempre procurou ter aeronaves de combate no mesmo nível tecnológico dos vizinhos sul-americanos. A introdução recente na região de aviões mais modernos -os F-16 do Chile e os Su-30 da Venezuela- deixou a FAB em situação inferior.


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