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"Reforma não resolve corrupção", diz analista
Para o cientista político Carlos Ranulfo de Melo, transparência e punição podem diminuir escândalos, mas Congresso não os eliminará
Sobre uso de passagens, ele nega que o caso seja muito importante, na comparação com a história recente, e diz que o mensalão foi "pior"
João Marcos Rosa/Nitro
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O cientista político Carlos Ranulfo de Melo, da UFMG, que diz que Congresso está menos elitista
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudioso do comportamento do Legislativo, o cientista político Carlos Ranulfo de Melo,
da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma
que a reforma política, apontada como solução por muitos especialistas para os desvios do
Congresso, nunca irá resolver o
problema da corrupção.
"Não há nenhum caso de país
que tenha acabado com a corrupção fazendo reforma política", diz. Segundo ele, somente o
aumento da transparência e a
punição aos políticos poderiam
"diminuir" os escândalos.
Sobre o mais recente, o uso
das passagens aéreas, porém,
Ranulfo de Melo avalia que não
é dos piores na história recente
do Legislativo e que pode estar
ocorrendo um viés moralista
na análise da opinião pública.
FOLHA - Quais consequências o
momento do Congresso poderá ter
nas eleições de 2010?
CARLOS RANULFO DE MELO - Acredito que não haverá impacto.
Em 2010, as pessoas estarão
mais atentas à disputa presidencial. As pesquisas mostram
que há uma oscilação histórica
quanto à opinião sobre o Legislativo. Tirando alguns momentos em que o Congresso assumiu um papel de protagonista,
como na Constituinte de 1988,
nós somos um país de tradição
presidencialista, de relações
personalizadas na política. O
cidadão médio brasileiro nunca
viu o Legislativo como um lugar
onde se definem políticas. Os
próprios parlamentares muitas
vezes só querem ir para o Executivo. O Congresso sempre foi
bem enxovalhado no Brasil.
FOLHA - O senhor citou a Constituinte. Por que temos a sensação de
que aquele Congresso era bem superior ao atual?
RANULFO DE MELO - Aquilo era
uma circunstância. É você distinguir entre a política nos seus
momentos normais e nos seus
momentos de excelência. Estávamos saindo de uma ditadura,
havia toda uma geração, uma
carga de expectativas, foi um
pico. Eu diria que foi o melhor
momento do Congresso brasileiro. Mas aquilo não é a vida
normal. A vida normal é o ramerrame da política.
FOLHA - Quais outros momentos o
senhor destacaria?
RANULFO DE MELO - O impeachment de [Fernando] Collor
[1992]. Mas o escândalo também é um grande momento. O
mensalão foi um grande momento negativo.
FOLHA - Mudou muito a representatividade nos últimos anos? Agora
há congressistas cantores, atores...
RANULFO DE MELO - Se você olha
para as camadas sociais do Legislativo, percebe que ele é menos elitista. A democracia convive com isso, com uma certa
popularização do Congresso.
Ele tem alguma semelhança
com o perfil socioeconômico da
população. Temos mecanismos
muito abertos. Os partidos não
controlam muito o processo.
FOLHA - O sr. acha que há só uma
distorção no uso de certos privilégios por parte dos parlamentares ou
eles não deveriam ter as regalias?
RANULFO DE MELO - Tem muita
coisa que não resiste à opinião
pública. Veja o Senado. Descobriu-se que havia uma estrutura de mando de décadas. O aumento na transparência se dá
no sentido do trâmite legislativo. No que se refere a feudos,
recursos, há ainda um lado escuro da coisa. Como cada parlamentar cuida do seu gabinete?
FOLHA - É um dos piores momentos do Congresso?
RANULFO DE MELO - Não. Acho
que esse escândalo não é muito
importante. Nem sequer é possível alguém formar opinião sobre o Congresso por isso aí
[passagens]. O escândalo dos
anões do Orçamento foi muito
pior, o mensalão foi muito pior.
FOLHA - O sr. vê um viés moralista?
RANULFO DE MELO - Talvez seja
uma tendência da mídia a uma
cobertura mais fácil da coisa. Se
você fizer um apanhado dos
seis meses de exposição do caso
Renan Calheiros na mídia, tem
pouquíssima novidade. No entanto, durou seis meses. Isso
tem impacto. Logo depois o Senado derrubou o imposto do
cheque e teve muito menos espaço. É mais fácil para o eleitor
processar esse negócio das vaquinhas do Renan. Eu acho que
a imprensa também cai nisso.
FOLHA - A reforma política é a solução para melhorar o Legislativo?
RANULFO DE MELO - Não há nenhum caso de país que tenha
acabado com a corrupção fazendo reforma política. Pode
melhorar a representação, dar
mais governabilidade, mas acabar com corrupção é conversa
para boi dormir. Nem se ela
melhorar os mecanismos do financiamento de campanha.
FOLHA - Para acabar com a corrupção o que então precisaria ser feito?
RANULFO DE MELO - Não existe
essa possibilidade. Eu acho que
ela pode diminuir. É aumentar
a transparência e os mecanismos de controle e cobrança.
Cassar governador, cassar prefeitos... E os partidos também
deveriam ser mais criteriosos.
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