|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
94% preferem suspensão de desmate a maior produção
Pesquisa Datafolha revela que 91% defendem que lei contra devastação seja mais rigorosa
Enquanto governo avaliza concessões a desmatadores, maioria puniria infratores, ainda que cobrança elevasse preços de produto agrícola
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto o Congresso e o
governo negociam mudanças
nos atuais limites do desmatamento no país, uma pesquisa
Datafolha mostrou que 94%
dos entrevistados preferem a
suspensão do abate de árvores,
mesmo que isso signifique
frear o crescimento da produção agropecuária. A opção de
autorizar mais desmatamento
para aumentar a produção foi
escolhida por apenas 3% dos
entrevistados.
A pesquisa foi encomendada
pela ONG Amigos da Terra
Amazônia Brasileira. O Datafolha ouviu 2.055 maiores de 18
anos e com telefone fixo em todo o país. Não há precedentes
no modelo da pesquisa que permitam comparar as opiniões,
colhidas na primeira quinzena
de abril. A margem de erro é de
dois pontos percentuais.
Hoje, no plenário do Senado,
o agronegócio exporá seus
principais argumentos para
mudar os atuais limites de desmatamento. As atuais regras
foram fixadas em 2001, como
reação a um aumento da devastação na Amazônia.
Estudo feito por um pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, subordinada ao Ministério da Agricultura, afirma que a legislação ambiental, se cumprida à risca, limitaria a produção à terça parte do território nacional.
"O conjunto de todas as áreas
protegidas levou a uma restrição legal de uso de terras sobre
mais de 93% do bioma Amazônia, colocando na ilegalidade
grande parte das atividades
econômicas regionais", escreveu Evaristo Eduardo de Miranda, autor do estudo, disponível na internet (www.alcan
ce.cnpm.embrapa.br).
Os ruralistas, que reúnem a
maior bancada informal no
Congresso, querem mudar o
Código Florestal até o final do
ano. Esse é o prazo previsto para começarem a valer as punições para quem desmatou acima do limite legal, depois que a
entrada em vigor de um decreto do presidente Lula foi adiada
pelo próprio governo e pressão
dos produtores rurais.
A anistia aos produtores que
desmataram além do limite legal é defendida por apenas 11%
dos entrevistados pelo Datafolha. A maioria -85%- escolheu a opção de punir os infratores, ainda que essa cobrança
signifique aumento nos preços
dos produtos agrícolas.
Em outra pergunta mais específica sobre a mudança nas
leis que protegem a floresta,
91% dos entrevistados defenderam que a legislação deveria
ser mais rigorosa, para dificultar o desmatamento. Uma parcela menor (5%) optou por deixar as leis como estão, e outros
4% afirmaram que a legislação
deveria ser menos rigorosa, inclusive para anistiar produtores que estão na ilegalidade.
Uma proposta de anistia aos
produtores ilegais coordenada
pela pasta da Agricultura levou
ao impasse as negociações para
mudar o Código Florestal em
2008. Mas algumas mudanças
são tidas como acertadas.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, já concordou
em autorizar o uso de espécies
exóticas, como o dendê, para
recompor áreas desmatadas na
Amazônia, por exemplo. Também avaliza a concessão de
prazos de ajuste para quem
desmatou antes de os limites se
tornarem rigorosos, em 2001.
A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO),
que assumiu a coordenação do
debate para mudar o Código
Florestal, afirma que seria "viável" um acordo de moratória
no desmatamento. "Desmatar
mais não está em pauta, quem
reclama é uma minoria. A prioridade é regularizar os produtores ilegais", disse a senadora,
que prevê a votação das mudanças na lei "a toque de caixa".
Texto Anterior: Serra e Aécio acertam prévia para fevereiro, caso não haja consenso sobre candidatura Próximo Texto: Foco: Guiana bloqueia nova ponte na fronteira e quer presidentes na reabertura Índice
|