São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOVERNO DE EMERGÊNCIA

Governo considera que seria "arriscada politicamente" e "desgastante" ausência de FHC

Refém do apagão, FHC cancela viagens

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O receio de se ausentar por longo tempo do país em meio à crise de energia elétrica levou o presidente Fernando Henrique Cardoso a cancelar uma série de viagens internacionais previstas para o final do próximo mês, quando passaria ao menos uma semana fora.
FHC visitaria oficialmente a Rússia e a Ucrânia, entre 27 e 29 de junho. Antes, no dia 26, faria uma parada de trabalho em Nova York para participar da assembléia da Organização das Nações Unidas (ONU) que discutirá questões ligadas à Aids. As viagens à Europa oriental foram adiadas, sem previsão. No caso da ONU, FHC será representado pelo ministro da Saúde, José Serra.
As viagens internacionais estavam previstas para datas que coincidem com as vésperas das decisões sobre a necessidade de apagões no país. O núcleo político do governo considerou "arriscado politicamente" e "desgastante" em termos de popularidade ter um presidente do outro lado do mundo num momento crítico, ainda que em missão oficial.
Por motivos semelhantes, foram canceladas duas viagens nacionais previstas para esta semana. Uma, marcada para ontem, foi cancelada quatro horas antes do embarque. FHC iria para o Rio participar da posse dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências, mas decidiu participar de uma reunião para tratar das possíveis modificações na medida provisória que suspendeu a eficácia do Código de Defesa do Consumidor nos casos relacionados ao racionamento de energia.
A reunião antes seria comandada pelo "ministro do apagão", Pedro Parente, mas o presidente considerou que ele mesmo deveria coordenar as conversas.
A outra viagem cancelada estava prevista para amanhã. O presidente iria a Porto Franco, próximo à Imperatriz, no Maranhão, para inaugurar um trecho da Ferrovia Norte-Sul. A pedido da governadora Roseana Sarney (PFL), a viagem foi adiada.
Segundo a Folha apurou, Roseana preferiu não promover eventos nem comemorações no dia em que está prevista a renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães (BA), companheiro de partido da governadora. Também aconselhado pelo núcleo político, FHC deverá permanecer em Brasília para acompanhar o discurso da renúncia, que poderá trazer acusações ou revelações sobre a relação entre ele e o senador.
FHC manteve um único compromisso internacional: a viagem que fará a Assunção, no Paraguai, nos dias 21 e 22 de junho para a reunião semestral do Mercosul.

Ovos
Militantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e de entidades estudantis compraram ovos ontem para jogar no presidente quando ele chegasse no centro do Rio para a cerimônia na Academia Brasileira de Ciências.
O secretário-geral da CUT no Rio, Ronaldo Moreno, afirmou que a presença do presidente foi cancelada porque ele teve medo de enfrentar o protesto. Por volta das 18h30, cerca de 50 manifestantes ainda esperavam a chegada de FHC. "Dessa vez ele não veio, mas não há como fugir da insatisfação popular", disse Moreno, que integra o grupo de organizadores da caminhada contra o apagão e a corrupção, que será realizada no próximo dia 12.


Colaborou a Sucursal do Rio


Texto Anterior: Janio de Freitas: O corte mais fundo
Próximo Texto: Juristas irão recorrer contra decisão pró-FHC
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.