São Paulo, sábado, 29 de maio de 2004

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ECOS DO ORIENTE

Cnen afirma que produção é insuficiente e que exportação para China exige planejamento

Hoje não há urânio para vender, diz comissão

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Odair Dias Gonçalves, disse ontem que, embora o Brasil tenha a sexta maior reserva mundial de urânio, a produção atual é pequena e não permite a exportação.
Segundo Gonçalves, o que se produz é suficiente apenas para abastecer as usinas Angra 1 e Angra 2. O enriquecimento do urânio usado pelas duas usinas é realizado pela empresa Urenco, um consórcio formado pela Alemanha, Inglaterra e Holanda.
Gonçalves disse que não está hoje na pauta do Brasil exportar o minério, a não ser que isso seja parte de um grande plano estratégico para a área nuclear do país. "Não está em pauta hoje a venda ou não de urânio. Hoje, a política é muito clara: não comercializamos urânio", afirmou o presidente da Cnen, que integrou a comitiva brasileira que visitou a China.
Durante a visita, foi anunciado o início da negociação de um acordo nuclear entre os dois países, para, entre outras coisas, a venda de urânio não enriquecido à China, como forma de financiar o programa nuclear brasileiro.
Em nota divulgada ainda na China, após suas declarações, o ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) afirmou que a eventual exportação depende de uma revisão da política de não comercializar o minério. Então, para Gonçalves, o único fato concreto até agora é que os chineses desejam comprar urânio brasileiro.
O presidente da Cnen disse que a prioridade do Brasil é fazer uma revisão de seu programa nuclear para saber se vai levá-lo adiante ou se irá mantê-lo como está. A revisão está sendo feita por um grupo de trabalho criado pelo governo e deve acabar em agosto.
Levar o programa adiante significa, entre outras coisas, investir na conclusão da usina Angra 3 e no programa de enriquecimento de urânio -transformar o minério em produto próprio para a fabricação de combustível nuclear.
"O mercado de urânio é tão pequeno que não faz nenhum sentido [entrar nele], a menos que isso faça parte de um grande plano", disse Gonçalves, um defensor de que o Brasil invista em um plano de energia atômica para fins pacíficos. Para ele, trata-se de uma fonte de energia viável que sofre resistências por causa do medo da bomba. Gonçalves não descarta a possibilidade de o Brasil vender urânio à China ou a outro país, seguindo as regras da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), mas acha que qualquer decisão está subordinada a uma definição do governo sobre o programa nuclear. "Se decidir fechar [manter só o que já existe], vender urânio pode ser uma opção."
A falta de uma decisão sobre o futuro do setor tem limitado a disponibilidade de recursos para ele. A fábrica de enriquecimento de urânio em Resende (RJ) está para ser inaugurada desde 2002. Além da falta de verbas, a fábrica enfrenta resistência internacional.


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