São Paulo, sábado, 29 de maio de 2004

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GUANABARA

Campanha defenderá plebiscito sobre separação

PV defende que cidade do Rio volte a ser Estado para melhor gerir crise

DA SUCURSAL DO RIO

Um cano de água estourado afunda o asfalto e engole um carro em plena Lagoa (zona sul), um dos cartões-postais do Rio. Perto dali, dias antes, uma guerra entre traficantes na favela da Rocinha aterroriza a população e provoca um bate-boca entre autoridades federais, estaduais e municipais.
Problemas como esses poderiam ser resolvidos se a cidade voltasse a ser Estado. A tese vem sendo defendida pela cientista política Aspásia Camargo e pelo secretário municipal de Urbanismo do Rio, Alfredo Sirkis, ambos do PV, que pretendem lançar uma campanha pública em favor da separação dos Estados do Rio e da Guanabara. A fusão ocorreu em 1975 por um ato assinado pelo então presidente Ernesto Geisel.
A idéia é realizar um plebiscito para saber se a população do Estado, que não foi consultada em 75, é favorável à separação. Mas, para isso, a proposta precisa passar pelo Congresso. Sirkis e Camargo já procuraram o deputado federal Fernando Gabeira (sem partido-RJ), que, cauteloso, prometeu estudar o tema. "Primeiro, vou conversar com a minha base no interior e na capital para saber se eles são favoráveis à separação", afirma Gabeira, que pode apresentar um decreto legislativo pedindo o plebiscito. O decreto tem que ter a aprovação de 15% dos deputados.
Segundo Camargo, a fusão é um "esqueleto da ditadura militar" que precisa ser discutido pela população do Estado. "O que está acontecendo no mundo inteiro é a descentralização radical dos processos de gestão administrativa. No Brasil, não ocorre isso."
Segundo Sirkis, o primeiro passo é formar uma rede de defensores da separação. Depois, eles pretendem realizar um estudo sobre o impacto social e o custo da separação e, por fim, montar um site para divulgar o movimento.
"A separação não acabaria com os problemas da cidade. Isso me parece uma solução muito mágica, porque se pretende tirar um coelho da cartola para explicar um problema muito mais sério que é a falta de interação política entre Estado e município", afirma o historiador Américo Freire, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas. (MURILO FIUZA DE MELO)


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