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ENTREVISTA DA 2ª/PEDRO SIMON
Líderes governistas do PMDB são "diabólicos"
PEDRO SIMON diz ter levado "um susto" ao
escutar a proposta de candidatura à Presidência pelo PMDB de seu vice na chapa,
Anthony Garotinho. Sem estrutura de campanha, afirma que pode desistir caso um nome de consenso surja na sigla. Nesse caso, vai concorrer ao Senado. Sua maior preocupação, afirma, é evitar que as
eleições sejam polarizadas entre PT e PSDB e que seu
partido "se humilhe" ao abrir mão da disputa.
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Recém-lançado pré-candidato do PMDB à Presidência, o senador Pedro Simon (RS), 76,
rotulou como "diabólicos" os
companheiros de partido contrários à candidatura própria.
Destacou dois: o ex-presidente
José Sarney e o presidente do
Senado, Renan Calheiros.
Ambos, diz, têm mais cargos
no governo Lula do que qualquer petista. Por isso, lutam
contra a candidatura própria
do PMDB, pois lideram um
grupo que "distribui favores,
empregos, vantagens".
Em entrevista à Folha na
noite de quinta-feira, no Senado, Simon disse que até poderia
desistir de sua candidatura, caso surja no partido um nome de
consenso. Nesse caso, ou no de
uma derrota na convenção, sua
opção é o senado. "Formou-se
um movimento, e eu aceitei
porque me disseram isso: vamos aceitar o movimento porque o objetivo dele é ter candidato. Depois vamos ver quem
será o candidato."
O senador assumiu a pré-candidatura após a desistência
do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, seu vice na
chapa. Logo depois, a ala governista do PMDB conseguiu
adiar, de 11 para 29 de junho, a
convenção que decidirá se haverá ou não candidato próprio.
Como o governador de São
Paulo, Cláudio Lembo (PFL),
ele culpou as elites pela crise
social. Disse que o PT, ao assumir o governo, passou a integrar essa elite, que "não está à
altura da nação e do povo".
A Folha tentou ouvir Sarney
e Renan. A assessoria do ex-presidente informou que ele
não falaria sobre as críticas. Renan não foi localizado.
FOLHA - O adiamento da convenção do PMDB é um golpe, como afirmou Garotinho?
PEDRO SIMON - Tenho que esclarecer que venho há muito tempo lutando pela candidatura
própria do MDB. Quando ele
[Garotinho] disse que renunciava à candidatura em meu favor, decidimos registrar a chapa. Mas eu buscava o entendimento com os governistas.
Usava dois argumentos. Primeiro, para mim é muito mais
grave do que está parecendo o
que aconteceu em São Paulo.
Para mim foi o primeiro aparecimento oficial da máfia superorganizada no Brasil.
O segundo aspecto: uma
campanha do PT e do PSDB, se
não tiver uma terceira candidatura do PMDB, não sei como
vai terminar.
FOLHA - O sr. teme que termine de
que forma?
SIMON - Um aspecto insurrecional. As agressões, os fatos, as
gravidades. Onde tudo o que o
PT disser do PSDB praticamente é verdade e tudo que o
PSDB disser do PT é praticamente verdade. Se for um candidato do PMDB ele vai conduzir a campanha. Não vamos fazer campanha em cima nem do
PT nem do PSDB.
Como é que o PMDB, numa
hora como essa, em que aparece diante dele um quadro em
que sua posição é fundamental,
na pior das hipóteses para decidir quem vai ganhar, como é
que ele cai fora?
FOLHA - Como o partido está reagindo internamente?
SIMON - O que está acontecendo é que tem gente com grandes cargos. Vocês da Folha, que
gostam tanto de pesquisa, façam uma no PT para ver se tem
alguém lá com tantos cargos no
governo quanto o Renan e o
Sarney.
FOLHA - Como o sr. sabe disso?
SIMON - Os caras lá de dentro
do próprio PT vieram me dizer
que não tem. Lula não está
preocupado com nosso apoio.
O que ele quer é que não tenhamos candidato.
FOLHA - Aí ele pode ganhar no primeiro turno.
SIMON - Se não tivermos candidato, assume imediatamente o
ministro da Saúde, do Renan, e
o dos Transportes, do Sarney,
que já tem Minas e Energia, e
sei lá mais o quê. É uma situação feia essa. O PMDB se desmoralizar, se humilhar.
FOLHA - O sr. vislumbra chance de
vitória no dia 29, mesmo com o poder dos governistas no partido?
SIMON - Uma coisa é a ala governista, outra são as bases do
partido. É claro que a ala governista distribui favores, empregos, vantagens. Libera emenda
tal, libera ambulância tal e mais
não sei o quê. Isso influi.
FOLHA - Até a convenção o sr. roda
o país inteiro?
SIMON - Não sei. Fico aqui, pelo
menos vou para a tribuna quase
todo dia no Senado.
FOLHA - O sr. fica?
SIMON - Fico e rodo. Mas vou
manter aceso o debate. Podemos, com Garotinho, viajar para o interior.
FOLHA - Se a convenção derrota a
candidatura própria, o sr. disputa o
Senado?
SIMON - Disputo.
FOLHA - O sr. disse, ao registrar a
candidatura, que em seu governo a
pessoa erra uma vez, não erra duas.
SIMON - O que quis dizer é que
tenho um estilo. Fui governador, ministro. Meu governo é o
da seriedade. Muita gente eu tirei do governo na dúvida. Posso
até ter cometido injustiça, mas
errou, caiu fora.
FOLHA - A sua decisão de concorrer
na convenção é irreversível ou poderá desistir? Garotinho já disse que,
se o sr. mudar de idéia, ele volta a ser
pré-candidato à Presidência.
SIMON - É tranqüilo. Eu vou,
Garotinho também vai. Eu posso até sair, fica o Garotinho, não
tem problema. Mas eu vou.
FOLHA - Há quatro anos o sr. almejou ser o candidato do PMDB a presidente...
SIMON - Não deixaram. Embora reconhecesse que a vez era
do Lula. Eu era um sonhador de
achar que o PT e o Lula fariam
um governo fantástico.
FOLHA - E agora, o sr. quer?
SIMON - Dessa vez eu estava na
candidatura ao Senado. Vou ser
sincero: quando Garotinho falou em meu nome eu levei um
susto, tanto que nem respondi.
Formou-se um movimento, e
eu aceitei porque me disseram
isso: vamos aceitar o movimento porque o objetivo dele é ter
candidato. Depois vamos ver
quem será o candidato.
FOLHA - Mas o sr. pode não levar
sua candidatura adiante?
SIMON - Não fecho a porta para
isso. Se nós ganharmos [na Justiça] as duas decisões, de suspender a Executiva e as convenções estaduais não poderem ser realizadas antes da nacional, o pessoal governista é
capaz de nos procurar.
FOLHA - Para compor com a candidatura própria?
SIMON - Pode ser.
FOLHA - O sr. tem estrutura de
campanha?
SIMON - Não.
FOLHA - Garotinho tinha. Ele colocou à sua disposição?
SIMON - Nem perguntei nem
ele me falou. A única coisa que
ele disse é que trabalha comigo
por todo o Brasil.
FOLHA - O sr. falou em aspecto insurrecional. De onde partiria isso?
SIMON - Estamos vivendo um
momento de marasmo. Parece
que o povo ficou entorpecido.
Mas há um sentimento de mágoa em relação ao que está
acontecendo no Brasil, no Congresso, nos partidos, em todos
os lados. Isso pode explodir na
campanha quando vierem os
ataques, as denúncias de lado a
lado, os dossiês. Quando aparecerem acho imprevisível o que
pode acontecer.
FOLHA - O povo pode ir às ruas?
SIMON - Pode ser. Já foi.
FOLHA - O que o leva a pensar isso?
SIMON - É um povo sem referências. Lula, se não fosse candidato a presidente, seria a
grande referência, mas ele está
na jogada, o que é muito ruim,
muito triste. É um candidato à
reeleição que está no governo,
usando a máquina do governo.
FOLHA - O sr. já pensou em disputar o segundo turno contra Lula?
SIMON - Sinceramente, nunca
pensei. Não entrei ainda nessa
etapa. Como dizia o dr. Ulysses
[Guimarães, fundador do
PMDB, morto em 1992]: "Espera chegar na beira do rio para tirar a sandália".
FOLHA - O sr. está pessimista?
SIMON - Sou um otimista. O
Brasil tem tudo para ser uma
grande nação. O que temos de
mau é a elitezinha nossa. A elite
brasileira não está à altura da
nação e do povo brasileiro.
FOLHA - O PT é elite?
SIMON - É elite. Entrou no governo, virou elite, virou isso aí.
FOLHA - O sr. também é otimista
quanto ao atual momento do país?
SIMON - Quero ser pessimista
para não alimentar um otimismo exagerado. Sei que essa
gente é diabólica. Tem o presidente do Senado, o líder da Câmara [Geddel Vieira Lima], o líder do Senado [Ney Suassuna],
a maioria esmagadora da Executiva, cargos a distribuir, três,
quatro, cinco ministros, diretores da Petrobras, da Eletrobrás,
um troço que você nem tem
idéia. Portanto, não pode alimentar esperança.
Os caras estão pensando nos
cargos. Eles não trocam isso pela nomeação de um presidente.
(...) Sarney não teve tanto poder nem quando era presidente. Ele não tinha o poder que
tem hoje.
FOLHA - Na questão da violência, o
que o sr. faria na Presidência?
SIMON - O que aconteceu em
São Paulo foi o primeiro gesto
de máfia organizada no Brasil.
Igual à Itália e aos Estados Unidos. Eu pensaria na Operação
Mãos Limpas da Itália e na Tolerância Zero, de Nova York.
FOLHA - O que o sr. faria em relação
à dívida externa?
SIMON - O Brasil deveria negociar com seus credores. É o país
que paga os juros mais altos do
mundo. Que parte desses juros
sejam dedicados a equacionar
os problemas sociais do Brasil.
FOLHA - O que o sr. acha da atuação do Brasil na chamada integração latino-americana?
SIMON - O Brasil iniciou a integração da América Latina e tem
todas as condições de levá-la
adiante. Temos de ter um olhar
mais dedicado ao problema social, com mais vigor. Não é o
que a gente sente no governo
Lula, surpreendentemente.
Quanto à integração, ficamos
quase sozinhos.
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